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Fundação Oswaldo Cruz

A Gazeta do Rio de Janeiro

Fundada em 10 de setembro de 1808, no Rio de Janeiro, sede do governo na época. Inicialmente com distribuição semanal, passou a circular às quartas e aos sábados, e, posteriormente, às terças, quintas e aos sábados, sem incluir as edições extraordinárias publicadas com grande frequência. Foi dirigida até 1812 pelo frei Tibúrcio José da Rocha, que foi então substituído pelo coronel Manuel Ferreira de Araújo Guimarães e por Francisco Ferreira Goulart.

Suas matérias tratavam muito pouco do Brasil e relatavam fatos insípidos ocorridos na Europa. Não possuía variação de pauta, pois fora criado para informar sobre fatos administrativos do reino e sobre a movimentação social da corte.

Atendo-se aos 13 anos do período joanino, é possível observar que A Gazeta do Rio de Janeiro não foi um periódico que dedicasse atenção às atividades científicas de forma sistemática e recorrente, mas também não ficou às margens do mundo das ciências. Descrevia obras e textos científicos, anunciava cursos e publicava, ocasionalmente, artigos técnicos com algum conteúdo científico.

Nesse contexto, destaca-se o fato de tomar mais da metade do espaço do jornal texto – veiculado primeiramente no dia 14 de setembro de 1816 (nº 74), e, depois, nos números subseqüentes (75, de 18/09/1816; e 76, de 21/09/1816) – de discurso proferido por Georges Leopold Chrétien Cuvier (1769-1832), por ocasião da instalação da Academia de Ciências de Paris, em 24 de abril de 1816, de onde era secretário perpétuo da sessão de física. É um artigo de suma importância por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, sobressai o ineditismo da publicação do texto tanto por sua extensão quanto pelo tema. Em segundo, o conteúdo da matéria é uma discussão atualizada na Europa sobre como considerar a ciência, política e sociologicamente.

O longo escrito, inteiramente traduzido para o português, faz apologia ao valor da ciência para a humanidade, no espírito do iluminismo, dando mostras da mentalidade capitalista, ao refletir a preocupação com a apropriação da ciência em benefício da produção.

Nota-se que as notícias publicadas em A Gazeta tendiam a valorizar o caráter prático do conhecimento científico. Um dos exemplos é a tradução de um artigo do “Repertório de Artes, Manufaturas e Agricultura etc.” (Inglaterra), versando sobre “certo melhoramento na fabricação de sabão, para fim de se usar dele na água salgada, água salobra, ou outra qualquer”. O artigo fala em adicionar ácido fosfórico (encontrado na urina) para conseguir o melhoramento, alertando sobre os procedimentos para obtenção do ácido e as proporções exatas da mistura a fim de evitar o mau cheiro.

Fonte:

OLIVEIRA, José Carlos. “A cultura científica e a Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1821)”, Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, Campinas, n.17, p. 29-58, jan./jun. 1997. 


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