Publicada em: 11/02/2009 às 10:05
Artes Plásticas


A arte transgênica de Eduardo Kac
Núcleo de Estudos da Divulgação Científica

A primeira proteína fluorescente foi descoberta em 1962 pelo japonês Osamu Shimomura, vencedor do Nobel de química 2008 pelo feito. Mas foi o brasileiro Eduardo Kac, nascido no mesmo ano da descoberta, o primeiro a aplicar o conhecimento às artes plásticas.

Em 2000, o artista carioca radicado nos Estados Unidos criou GFP Bunny, uma coelha geneticamente modificada que brilha em presença de luz azul graças à Proteína Fluorescente Verde (GFP) inserida em seu DNA.

A coelha Alba foi, sem dúvida, a obra de Kac que gerou mais polêmica até o momento, devido às implicações éticas envolvidas, mas foi importante para consolidar uma nova forma de arte criada pelo artista plástico: a arte transgênica.

A arte transgênica, segundo Kac, tem a finalidade de criar indivíduos únicos por meio da engenharia genética. Com base nessa nova concepção de arte e com a ajuda de laboratórios de pesquisa de diversos países, Kac vem criando genes, animais e plantas únicos e transformando-os em elementos-chave em seus trabalhos.

A primeira obra de arte transgênica concebida por Kac foi Genesis, em 1999, exibida no festival Ars Eletronica, na Áustria. Para esse trabalho, Kac criou o "gene de artista", um gene sintetizado a partir da tradução de um trecho em inglês do Velho Testamento para código Morse e do código Morse para DNA.

O gene foi introduzido em bactérias, que foram colocadas em placas de Petri. Na galeria, as placas foram dispostas sobre uma caixa de luz ultravioleta, controlada por participantes remotos na rede. Ao acionar a luz UV, participantes virtuais causavam mutação do código genético, mudando o texto contido no corpo das bactérias.

Além de GFP Bunny e Genesis, o currículo bioartístico de Kac inclui O Oitavo Dia, exibida em 2001 na Arizona State University (Estados Unidos), "uma verdadeira ecologia de seres transgênicos verdes, todos criados com GFP"; a instalação Move 36 – uma alusão ao movimento que definiu a disputa no jogo de xadrez entre o computador Deep Blue e o campeão mundial Gary Kasparov em 1997 –, exposta na XXVI Bienal Internacional de Arte em São Paulo, em 2004 e que inclui uma planta transgênica; e a série "Espécime do Segredo sobre Descobertas Maravilhosas", de 2006, apresentada pela primeira vez na Bienal de Singapura no mesmo ano.

Essa última faz parte da produção mais recente de Eduardo Kac, marcada pelos  chamados "biotopos". Os biotopos são quadros com molduras metálicas nos quais Kac coloca terra e microrganismos vivos. Regados com água periodicamente, esses microrganismos vão mudando de formato com o tempo e modificando a obra por conta própria.

Na obra de Kac, a união entre tecnologia e arte já chegou ao extremo. Em 1997, filmado por emissoras de televisão, o artista injetou em sua perna um chip com um código numérico, que foi cadastrado em um site de controle de animais. O artefato está lá até hoje.

Além de estimular o debate e a reflexão sobre a interface entre ciência e arte e os espaços de diálogo e de colaboração entre artistas e cientistas, a obra de Eduardo Kac suscita várias questões, inclusive de fundo ético, assim como a ciência e suas aplicações tecnológicas.

Fontes:

KAC, Eduardo. A arte transgênica. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v.13, supl.0, p. 247-256, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702006000500015&lng=pt&nrm=iso>.

EDUARDO KAC. Disponível em: http://www.ekac.org/. Acesso em 21 jan. 2009.


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