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Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB)

A publicação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi criada pelo cônego Januário da Cunha Barboza, secretário inaugural do Instituto, em 1839, no Rio de Janeiro. Visava não apenas ensinar e divulgar conhecimentos, mas também formular uma visão histórica, que se dedicasse à exaltação da pátria, atendendo às demandas de uma classe política desejosa de formar e consolidar seu projeto de Estado Nacional e de identidade brasileira. No entanto, tal pretensão era difícil de se viabilizar em um país marcado pelos contrastes regionais, enorme extensão territorial e diversidade de populações. Coube ao IHGB, com seu periódico trimestral, a tarefa de amalgamar essa multiplicidade de elementos, uniformizando-os em um todo nacional harmônico, capaz de gerar uma idéia consensual do que seria a nação brasileira.

A constituição desse projeto esteve sempre ligada aos interesses de uma elite brasileira defensora de propostas políticas, econômicas e sociais peculiares. O conhecimento histórico e geográfico produzido pela revista legitimava um Estado centralizado, o sistema escravista e as diferenças de condições de vida, típicas de uma sociedade hierarquizada. Foi para garantir a continuidade dessas desigualdades, que asseguravam os privilégios da elite, que surgiu a necessidade de se criar um conceito de nação brasileira. A pátria seria então o elemento aglutinador da massa populacional que, ao se reconhecer como parte desse todo, relativizaria a noção da diferença.

Temáticas

A Revista do IHGB privilegiava três temas: a problemática indígena, as viagens e explorações científicas e o debate da história regional.

O primeiro deles dizia respeito à diversidade de tribos que ocupava o território nacional e sua enorme variedade de práticas culturais, línguas e referências religiosas. Comprometidos com a criação de uma identidade brasileira homogênea, os membros do Instituto propuseram algumas soluções para a assimilação dos nativos ao projeto de Nação.

O segundo tema – viagens e explorações científicas – visava coletar o máximo de dados sobre o território brasileiro e suas riquezas econômicas. Entretanto, havia outras preocupações em jogo quanto aos limites e à configuração do espaço nacional. Os mapas e outras referências geográficas eram escassos, dificultando o acesso e a instalação do aparelho estatal em várias regiões do país. A ignorância do Estado com relação ao território também aumentava o risco de invasões por parte de países estrangeiros. Dessa forma, as informações trazidas por esses viajantes eram extremamente úteis para que o Estado elaborasse políticas públicas e estratégias de ação frente à vastidão do país.

A questão territorial esteve também profundamente interligada ao terceiro tema – a história regional – privilegiado pelo periódico do IHGB. Coerente com o ideal centralizador, fazia-se necessário que o Instituto ajudasse a criar um modelo nacional que abrandasse as especificidades regionais e as diluísse na idéia de pátria, referencial que deveria ser comum a todos os brasileiros. Assim, as peculiaridades de cada região do país eram valorizadas e destacadas, não por manifestarem a diferença nacional, mas por serem expressão da multiplicidade de riquezas e possibilidades de progresso que o Brasil encerrava.

O IHGB, criado em 1838 por membros da elite brasileira, lançou-se à tarefa de construir os mitos fundadores que sustentariam a idéia de nação brasileira. Os integrantes do Instituto propuseram-se, dentro de uma proposta histórica iluminista, "descobrir" a verdadeira face e vocação do Brasil.

Os estudiosos de então acreditavam que a humanidade estava inserida em um processo de evolução histórica, que partia das sociedades primitivas, índios e negros, até chegar ao auge da civilização, representada pelos brancos europeus. Fiéis a essa teoria, os membros do IHGB iniciaram uma coleta de documentos históricos por todo território do país.

Invariavelmente, a análise dessas fontes indicava o estado de barbárie em que viviam as tribos indígenas, ao mesmo tempo em que destacava o papel redentor do homem branco, que veio para salvar os nativos do "obscurantismo" em que viviam. De forma geral, o IHGB aparece dentro de um projeto político maior, que buscava legitimar uma ordem brasileira e identificá-la com a defesa dos interesses de toda a nação.

Fontes:

GUIMARÃES, Manuel Luís Salgado. “Nação e Civilização nos Trópicos: o IHGB e o projeto de uma história nacional”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.1, p. 5-27, 1988.

SCHWARCZ, Lilia Moritz . “Os Institutos Históricos e Geográficos: Guardiões da história oficial”. In: O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questões raciais no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.


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