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Fundação Oswaldo Cruz

Cursos Públicos do Museu Nacional

O Museu Nacional foi fundado em 1818 por D. João VI com o objetivo de “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil”, segundo relata seu decreto de criação. Era, portanto, gerador e divulgador do conhecimento científico e, para tal, colaborou com escolas e faculdades do Império, manteve permanentemente suas exposições e, na segunda metade do século 19, promoveu suas conferências populares, os chamados “Cursos Públicos do Museu Nacional”, que versavam sobre as ciências naturais.

Embora o regimento do Museu (de 1824) determinasse que seus diretores oferecessem um curso anual de ciências por ano, apenas em 1875 o Museu Nacional iniciou uma prévia do que seriam estes cursos, graças à atuação do botânico Ladislau de Souza Mello Netto, que dirigia a instituição à época. A partir de então, eles foram ministrados por mais de dez anos.

A primeira palestra, ocorrida em 6 de julho de 1875, tratava de Botânica e teve repercussão “extremamente favorável junto ao público e à imprensa”, conforme afirmam as pesquisadoras Magali Romero Sá e Heloísa Maria Bertol Domingues, no artigo “O Museu Nacional e o ensino das ciências naturais no Brasil no século XIX”.

Os cursos abrangiam ainda as disciplinas de agricultura, geologia, mineralogia, antropologia e zoologia e eram ministrados pelos diretores das seções que compunham o museu. No ano seguinte, o Jornal do Commercio falou sobre o objetivo dos Cursos Públicos, deixando evidente o caráter de divulgação científica da iniciativa:

“Estes cursos, de que já houve um ensaio ano passado, são destinados à instrução das classes estranhas ao estudo da história natural, das senhoras, dos homens de letras, dos empregados públicos, do povo, enfim, que poderá utilizar deste modo uma hora desocupada da noite em proveito da instrução.”

Os palestrantes tinham a preocupação de tornar os conteúdos assimiláveis pelo grande público, por isso, usavam material didático variado, incluindo espécimes e murais.

As palestras também eram palco para divulgação das novas teorias científicas da época, um período marcado por reformas políticas e sócio-culturais. João Joaquim Pizarro, diretor da seção de Zoologia do Museu, por exemplo, escandalizou a platéia de seu curso ao falar sobre a “Teoria da Evolução”, de Charles Darwin, e enfatizar as semelhanças do homem e do macaco.

As polêmicas científicas, no entanto, foram perdendo seu impacto devido à descontinuidade das palestras, já que os funcionários do Museu Nacional tinham dificuldade de preparar suas preleções e atender, ao mesmo tempo, suas obrigações de pesquisa e organização das coleções. Em 1886, Ladislau Netto propôs que os cursos regulares fossem substituídos por conferências extraordinárias, o que de fato ficou determinado no novo regulamento do Museu Nacional, de 1888. Somente em 1911, já na República, os cursos públicos voltaram a ser inseridos no estatuto do Museu.

Fonte:

SÁ, Magali Romero e DOMINGUES, Heloísa Maria Bertol. “O Museu Nacional e o ensino das ciências naturais no Brasil no século XIX”. Revista da SBHC, Rio de Janeiro, n. 15, p. 79-88, 1996. Disponível em <http://www.mast.br/arquivos_sbhc/156.pdf>. Acesso em 04 jun. 2009


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