Publicada em: 05/01/2001 às 11:11
1901 - 1945


Rio de Janeiro, 1922: um “bazar de maravilhas”
Núcleo de Estudos da Divulgação Científica

Às vésperas do centenário da independência do Brasil, como sede do governo, o Rio de Janeiro deveria ser não só o palco principal das comemorações, mas também um modelo de civilização e progresso para a nação. Na imprensa, sugestões de atividades e cobranças de iniciativas para a festa. Entre as programações, a mais ousada era sem dúvida a realização de uma Exposição Universal em terras cariocas.

Após participar de outras exposições ao redor do mundo, era a vez de o Brasil ser anfitrião de uma grande feira de modernidades. O país já havia preparado eventos semelhantes, como as exposições nacionais de 1861 e 1908, e desejava marcar presença no cenário internacional como nação civilizada e promissora. Embora as obras de preparação da cidade, como a demolição do morro do Castelo e a construção de pavilhões excepcionais para receber a Exposição, tenham sido alvo de críticas e polêmicas, os planos seguiram em frente.

A preparação da feira ficou a cargo do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, por meio do engenheiro João Pires do Rio. A Exposição Nacional deveria abordar as principais modalidades e trabalho no país, incluindo lavoura, pecuária, pesca, indústrias, meios de transporte e tecnologias de comunicação, além das ciências e das artes. Em outra área, haveria espaço para que expositores estrangeiros construíssem também pavilhões dedicados à exibição de produtos vindos de outros países – estiveram representados Argentina, México, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Dinamarca, Suécia, Tchecoslováquia, Bélgica, Noruega, Japão e Estados Unidos.

Da inauguração da exposição em 7 de setembro de 1922 até seu enceramento em 24 de julho de 1923, a Exposição Nacional exibiu 25 seções relacionadas a educação e ensino; letras, ciências e artes; mecânica; eletricidade; engenharia civil e transporte; agricultura; horticultura e arboricultura; florestas e colheitas; indústria alimentar; indústrias extrativas e metalurgia; decoração e mobiliário; fios, tecidos e vestuários; indústria química; indústrias diversas; economia social; higiene e assistência; ensino prático, instituições econômicas e trabalho manual da mulher; comércio; economia geral; estatística; forças de terra e esportes. Em paralelo, foram oferecidas atividades como exibição de filmes e conferências.

Em relação às Exposições Universais do século 19, a Exposição do Rio de Janeiro – e outras que ocorreram no século 20 – traziam uma diferença principal: em vez de vender produtos e conquistar mercados, o objetivo principal era vender idéias, o que explica a realização de conferências e congressos sobre história, direito, engenharia, química, educação e outros temas. As idéias, além expostas, precisavam ser discutidas.

“Se as reluzentes máquinas eram o orgulho maior dos expositores do século XIX, no século XX, quem dava as cartas era a ciência, expressa na confiabilidade dos dados estatísticos, nas maravilhas da química e nas luzes da eletricidade” (MOTTA, 1992). Concretamente, essa ideologia foi expressa na iluminação extraordinária que transformou o Rio numa nova “cidade-luz”.

Apesar dos pavilhões referentes às riquezas naturais do Brasil, havia também a preocupação de expor como era possível explorar todos esses recursos em indústrias e novas tecnologias. Por outro lado, para além da propaganda voltada ao público externo, um objetivo fundamental da Exposição foi oferecer uma “aula de civismo” ao cidadão brasileiro, numa tentativa de apaziguar a crise política enfrentada pelo país naquela época.

Fonte:

MOTTA, Marly Silva da. "Ante-sala do paraíso", "vale de luzes", "bazar de maravilhas" - a Exposição Internacional do Centenário da Independência (Rio de Janeiro - 1922). Rio de Janeiro: CPDOC, 1992. 22f. Trabalho apresentado no Seminário "Cenários de 1922", promovido pelo CPDOC, Rio de Janeiro, 19-20 nov. 1992.


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