Publicada em: 01/01/2001 às 11:11
1946 - 1980


O lado político da divulgação científica
Núcleo de Estudos da Divulgação Científica

Um fator importante para caracterizar a divulgação científica no Brasil do pós-guerra é o pano de fundo político: os governos que se sucederam ao fim do Estado Novo foram marcados por uma orientação desenvolvimentista e nacionalista, na qual a ciência era percebida – e apresentada à sociedade – como um instrumento fundamental para conduzir o país ao progresso econômico.

Embora poucos estudos tenham abordado a divulgação científica nos anos pós-guerra, algumas pesquisas que cobrem esse período apontam para um aumento do interesse pela ciência na sociedade brasileira, que teria se refletido em uma presença mais freqüente da ciência na imprensa. Entre as manifestações mais características dessa tendência, poderiam ser citados o lançamento da página dominical sobre ciência de José Reis na Folha da Manhã e a criação do suplemento Ciência para todos, dirigido pelo jornalista Fernando de Sousa Reis, no jornal A Manhã, além da presença significativa da ciência nas páginas de revistas de circulação geral, como O Cruzeiro e Manchete, e do aumento do número de livros de divulgação científica, entre outros exemplos.

No início dos anos 1950, além das discussões sobre o uso militar e civil da energia nuclear, o fato de o cientista brasileiro Cesar Lattes ter participado na descoberta e identificação do méson π, nos anos 1947/48, contribuiu para um interesse público generalizado pelas ciências físicas. Revistas como O Cruzeiro e Manchete trouxeram muitas matérias sobre essa área, enfatizando as atividades de instituições e pesquisadores brasileiros e os desenvolvimentos recentes no domínio da energia nuclear. Um exemplo sintomático do interesse popular despertado pelos trabalhos científicos de Cesar Lattes está na letra do samba Ciência e Arte, composto por músicos conhecidos da época, Cartola e Carlos Cachaça, no qual foram homenageados esse cientista e o pintor imperial Pedro Américo. Evidentemente o espectro da bomba atômica e suas conseqüências deixaram também registros na literatura brasileira desse período, em particular na poesia de Carlos Drummond de Andrade e de Vinicius de Moraes.

Nos anos 1960, sob o influxo de transformações ocorridas na educação em ciências nos Estados Unidos, iniciou-se no Brasil um movimento educacional renovador, escorado na importância da experimentação para o ensino de ciências. Esse movimento, entre outras conseqüências, levou ao surgimento de centros de ciência espalhados pelo país que, embora ligados mais diretamente ao ensino formal, contribuíram em certa escala para as atividades de popularização da ciência. É nesse período, no entanto, que ocorre o golpe militar (1964), que viria a ter profundos reflexos na vida social, econômica, educacional e científica do país.

Fontes:

ANDRADE, Ana Maria Ribeiro. “O Cruzeiro e a construção de um mito da ciência”, Perspicillum, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, pp.107-137, 1994.

ANDRADE, Ana Maria Ribeiro e CARDOSO, José Leandro Rocha. “Aconteceu, virou Manchete”. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 21, n. 31, pp. 243-264, 2001.

ESTEVES, Bernardo. Ciência na imprensa brasileira no pós-guerra: o caso do suplemento Ciência para todos (1948-1953). Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

LOPES, José Leite. Ciência e liberdade: escritos sobre ciência e educação no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.

MASSARANI, Luisa. A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20. Rio de Janeiro: IBICT e UFRJ, 1998. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto Brasileiro de Informação em C&T e Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.


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