Publicada em: 14/08/2008 às 17:30 |
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Centenário do nascimento de Emmanuel Dias, pioneiro em estratégias de eliminação do vetor da doença de Chagas
Durante mais de três décadas dedicadas ao estudo da doença de Chagas no início do século XX, o pesquisador Emmanuel Dias se destacou pelo estudo pioneiro de estratégias de eliminação do vetor, fundamentais para o controle da doença em toda a América Latina, reunindo o mais numeroso acervo de artigos da história do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). No centenário de seu nascimento, o IOC prestou uma homenagem, com a nomeação do Anfiteatro Emmanuel Dias e a inauguração da exposição Doutor Emmanuel Dias, que resgatou a história das contribuições científicas do pesquisador. A comemoração aconteceu em 15 de agosto.
Casa de Oswaldo Cruz (COC / Fiocruz)
Em 30 anos dedicados à pesquisa em doença de Chagas, Emmanuel Dias desenvolveu estudos pioneiros na biologia do parasito, na análise da cardiopatia associada à doença e no controle dos insetos vetores
Depois de formado, tornou-se pesquisador do IOC e herdou o comando do laboratório que era liderado por Chagas, pouco antes da morte do padrinho. Em 1943 fundou, em Bambuí, Minas Gerais, um centro de estudos do IOC, até hoje em funcionamento, onde também passou a atuar constantemente, como diretor. A partir dessas experiências, ele publicou a maior casuística sobre forma aguda de transmissão vetorial da doença da Chagas no Brasil e, junto com outros pesquisadores do IOC, o mais completo estudo sobre a cardiopatia chagástica realizado até hoje no mundo, além de diversos artigos sobre a biologia, a epidemiologia e o diagnóstico da doença.
Nos anos seguintes, publicou diversos estudos sobre a infestação domiciliar do barbeiro e sobre estratégias e ferramentas de controle dos vetores, inclusive na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. “Emmanuel Dias foi, também, um dos principais incentivadores do engajamento da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) na iniciativa de erradicação da doença de Chagas do continente americano”, afirma o pesquisador emérito da Fiocruz e chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, José Rodrigues Coura. “Seus trabalhos serviram de base para as atuais estratégias de combate ao tripanossomídeos e para a aplicação dos inseticidas atualmente utilizados contra os vetores da doença de Chagas.” Hoje a doença de Chagas é amplamente conhecida, com sua transmissão eliminada em extensas regiões do continente americano. Emmanuel Dias, que atuou em iniciativas para o controle da doença em diversos países das Américas do Sul, Central e até no México, é considerado pela OPAS e pelo governo brasileiro como o principal artífice desta vitória. “Seja através de estudos biológicos sobre o parasito, de estudos clínicos sobre a manifestação da infecção ou iniciativas para seu controle”, conclui Coura, “ele marcou a história da pesquisa em doença de Chagas, do IOC e da ciência brasileira, como um dos mais e importantes pesquisadores brasileiros.” Exposição apresenta coração de paciente com Chagas estudado pelo pesquisador Integrando as comemorações do Centenário da Descoberta da doença de Chagas, o Centro de Estudos do IOC da próxima sexta-feira, 15 de agosto, marcará o centenário de nascimento do pesquisador Emmanuel Dias. O evento, marcado para as 10h, contará com a presença dos pesquisadores José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC; e João Carlos Pinto Dias, do Centro de Pesquisas René Rachou, filho de Emmanuel Dias, que apresentarão as palestras Contribuição de Emmanuel Dias ao estudo do Trypanosoma cruzi e da doença de Chagas e seu controle e Emmanuel Dias: Trajetória e encruzilhadas por uma Ciência a serviço da vida, respectivamente.
Em seguida, será inaugurada a exposição itinerante Dr. Emmanuel Dias, também relacionada ao ciclo de comemorações do centenário da descoberta da doença de Chagas, no térreo do Pavilhão Arthur Neiva. A mostra reunirá dez painéis que resgatam a trajetória do pesquisador e suas mais importantes contribuições para a ciência brasileira, além de uma bomba para fumigação original, como as utilizadas nas campanhas para eliminação do barbeiro promovidas pelo pesquisador. “Os painéis apresentam reproduções de fotos do acervo da COC e também imagens obtidas junto ao arquivo da família de Emmanuel Dias, que nunca vieram a público”, conta Lisabel Klein, curadora da exposição. Também estarão em exposição a reprodução de documentos, cartas e até um cartaz de uma campanha de erradicação do vetor da doença de Chagas. Lisabel ressalta a importância de exposições como essa para o resgate e a valorização da história da instituição e de seus pesquisadores. “As imagens retratam a infância de Emmanuel, todas as fases de sua carreira na instituição, seu trabalho no Centro de Estudos de Bambuí e algumas das principais parcerias que estabeleceu ao longo de sua carreira, com outros grandes nomes da ciência brasileira”, explica a curadora. “Resgatar a riqueza de histórias como essa é fundamental para inspirar as novas gerações de pesquisadores e sensibilizá-las para a grandeza e a importância da instituição.” A exposição contará, ainda, com uma peça histórica: o coração de um paciente chagásico, estudado por Emmanuel Dias na década de 1940. A peça pertence ao acervo da Coleção de Anatomia Patológica do IOC, sob a guarda do Laboratório de Patologia do IOC.
“Durante a ditadura militar, no episódio conhecido com o Massacre de Manguinhos, em 1970, toda a documentação das coleções foi destruída, assim como grande parte das peças históricas, o que reduziu significativamente a coleção.”, conta a pesquisadora Bárbara Dias, do Laboratório de Patologia do IOC. “Muitas das 854 peças que compõe hoje o acervo se salvaram porque foram escondidas pelos pesquisadores em outras partes do campus ou até em suas residências, o que provavelmente também ocorreu com esse exemplar estudado por Emmanuel Dias.” A peça, por ainda apresentar sua etiquetagem original, é a única comprovadamente estudada pelo pesquisador. “A maioria das peças da época não apresenta mais essa identificação”, explica Bárbara. “Mesmo do exemplar estudado por Emmanuel Dias, só conhecemos o nome do paciente a quem pertencia o coração, mas nos falta qualquer outra informação que possa caracterizar melhor o caso, já que toda documentação e a ficha da paciente foram destruídas.” Marcelo Garcia 14/08/08 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz). |
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