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Estudo pode ajudar a interromper ciclo da leishmaniose

Estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) identificou uma proteína com papel fundamental na adesão do parasito causador das leishmanioses às paredes do intestino
do inseto que atua como vetor da doença. Conhecer estes mecanismos de adesão pode ajudar a criar alternativas que dificultem a transmissão das doenças.

Para investigar o ciclo de transmissão destes microrganismos, os pesquisadores utilizaram como modelo de análise o protozoário Crithidia deanei e o mosquito Aedes aegypti, que não é naturalmente infectado por tripanossomatídeos. “Os hospedeiros naturais desses protozoários são insetos menores, de manuseio mais difícil, que não têm colônias padronizadas disponíveis em laboratórios de referência”, pondera a pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC Claudia d'Avila-Levy, responsável pelo estudo. “No entanto, pesquisas anteriores realizadas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em nosso laboratório já mostraram que a adesão de cepas de tripanossomatídeos ao intestino de seus vetores naturais e do Aedes é bastante similar, o que nos permite usar o segundo com bastante segurança como modelo para estudos.”

 Claudia d'Avila-Levy

 

A imagem mostra a presença de gp63 na superfície celular de C. deanei (cabeça de seta). A proteína também foi encontrada no interior da célula (seta), associada à bolsa flagelar.

O estudo baseou-se em resultados anteriores obtidos pela UFRJ sobre a relação entre tripanossomatídeos e seus hospedeiros invertebrados. “Foi observado que muitos tripanossomatídeos possuem uma bactéria endossimbionte em seu citoplasma que lhes confere vantagens competitivas na interação com os vetores”, a especialista afirma. “A presença da bactéria dá aos protozoários maior capacidade de adesão ao intestino dos insetos quando comparados com aqueles que foram separados dela mediante a administração de antibióticos. Quando se conhece melhor o ciclo da doença e as moléculas-chave para a colonização, pode-se tentar bloquear a disseminação do parasito no vetor”, a especialista explica.

Ao tentar desvendar essa dinâmica, a microbiologista constatou que a presença do endossimbionte influencia fortemente a produção da proteína gp63, uma das principais moléculas de superfície presente em diversos protozoários. “No hospedeiro humano, essa proteína é muito estudada, pois é fator de virulência em leishmaniose, mas seu papel na relação protozoário-invertebrado é quase desconhecido. Como ela está muito presente na superfície celular, nós suspeitamos de sua relação com a adesão do protozoário ao intestino”, Claudia explica. Para comprovar a existência desse vínculo, foram realizados exames de citometria de fluxo, que marcam as moléculas de proteína, tornando possível identificar e quantificar sua presença na superfície celular da C. deanei. “Verificamos uma expressão cerca de duas vezes maior da proteína gp63 em tripanossomatídeos que apresentam o endossimbionte no citoplasma”, a pesquisadora confirma.

 Gutemberg Brito

 

O estudo mostrou que a presença da bactéria simbionte está ligada à produção da proteína gp63 e à adesão do parasito ao intestino do vetor. A descoberta pode ser utilizada, no futuro, para interromper o ciclo natural da leishmaniose.

Com o objetivo de avaliar as propriedades aditivas da proteína, os protozoários foram tratados com fosfolipase C, uma enzima capaz de destruir as chamadas âncoras de GPI, que prendem diversas proteínas à superfície celular dos tripanossomatídeos. “Infectamos os insetos com os protozoários e observamos que aqueles tratados com a enzima, ou seja, sem a proteína gp63 em sua superfície celular, interagiram muito menos com as células do intestino do mosquito”, Cláudia explica. “Esse resultado mostra que as proteínas de superfície, em especial a mais abundante delas, a gp63, desempenham papel fundamental na adesão dos protozoários à parede do intestino dos invertebrados”.  Para confirmar os resultados obtidos, os protozoários também foram tratados com o anticorpo anti-gp63, uma proteína capaz de reconhecer especificamente a gp63 e bloqueá-la. “Estes ensaios revelaram que os protozoários com a gp63 bloqueada aderem a taxas bem menores que o controle, confirmando a relevância da gp63 na adesão”, conclui a especialista.

Um teste adicional, que comparou a adesão dos protozoários com e sem a presença da bactéria endossimbionte no intestino do mosquito Aedes aegypti, também serviu para reforçar esses resultados. “Observamos que aqueles que mantinham relações de endossimbiose também foram duas vezes mais eficazes na adesão ao mosquito. Em conjunto, os testes demonstram que a presença da bactéria estimula a produção da gp63 e que a proteína está ligada diretamente às propriedades aderentes do protozoário”, a pesquisadora sintetiza.

 Claudia d'Avila-Levy

 

 A Imagem por microscopia confocal demonstra a distribuição da proteína gp63 em células de C. deanei, através da marcação do anticorpo anti-gp63, revelado por imunofosforescência

Apesar do estudo ter sido realizado com a Crithidia deanei, protozoário que não causa doenças ao ser humano, Cláudia espera que os resultados obtidos sejam similares para outras espécies de tripanossomatídeos, em especial as do gênero Leishmania. “Há muitas dificuldades para a realização de experimentos com leishmânias e com o flebótomo infectado em laboratório. Por isso, primeiro caracterizamos bem o papel adesivo da proteína gp63 em outro parasito”, Claudia justifica. Como os protozoários são muito semelhantes e outros indícios sinalizam a importância desta proteína na interação entre as leishmânias e o flebótomo, acredito que obteremos resultados animadores”, comemora. O próximo passo da pesquisa consiste justamente em reproduzir os experimentos com o vetor e os parasitos envolvidos no ciclo das leishmanioses.

Marcelo Garcia e Raquel Aguiar
18/04/08

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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