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Pesquisas sobre a dengue abrem novas perspectivas

Comprometido com o avanço do conhecimento científico e da inovação tecnológica na área da dengue, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) desenvolve ações em virologia, entomologia, biologia molecular e imunologia, entre outros campos do conhecimento. Uma série de projetos está em andamento na área. As iniciativas incluem o desenvolvimento de uma vacina recombinante, a criação do primeiro modelo experimental para o vírus da dengue, o estudo do ciclo de atividades do mosquito vetor, inovações dos métodos diagnósticos, o desenvolvimento de um sistema indicador da gravidade dos casos de infecção humana e a avaliação da resistência do vetor a inseticidas.

Vacina recombinante em estudo

Há oito anos os estudos para o desenvolvimento de uma vacina recombinante para os quatro sorotipos da dengue envolvem pesquisadores do IOC e de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz dedicada à produção e desenvolvimento de vacinas. A biologista molecular Myrna Bonaldo, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC, participa deste grupo e explica que em todo o mundo existem redes como esta, voltadas para o desenvolvimento de uma vacina recombinante.

As vacinas recombinantes recebem este nome porque são baseadas na tecnologia do DNA recombinante. A vacina em desenvolvimento pelo IOC e por Bio-Manguinhos usa como modelo a vacina para febre amarela, uma das poucas vacinas que usa o vírus causador da infecção em grau atenuado como mecanismos de imunização.

“Usamos o genoma da febre amarela como plataforma vacinal”, a pesquisadora esclarece. “Para explicar de forma bastante simplificada, podemos dizer que retiramos dois genes que codificam a proteína do envelope viral do vírus da febre amarela e os substituímos pelos genes homólogos de cada sorotipo do vírus da dengue, que codificam a mesma função. Assim são criados os quatro diferentes vírus quiméricos de dengue e febre amarela.”

A pesquisadora chama atenção para o fato de que uma vacina eficaz deve contemplar os quatro sorotipos da dengue com o mesmo patamar de eficácia. “Já desenvolvemos para os tipos 1, 2 e 4 vacinas que mostraram sucesso quanto ao grau de atenuação viral em testes com primatas”, Myrna observa. “Neste momento estamos desenvolvendo uma vacina recombinante para a dengue do tipo 3.”

Primeiro modelo experimental para estudo do vírus da dengue

A ausência de um modelo experimental padrão é um dos principais obstáculos enfrentados na busca de vacinas e remédios para a dengue. O Laboratório de Ultra-Estrutura Viral do IOC contribuiu de forma importante nesta área ao desenvolver o primeiro modelo experimental para o estudo da dengue. O modelo, que usa camundongos BALB/c, foi testado com eficácia para o estudo do tipo 2 do vírus e já foi utilizado com sucesso pelo Laboratório de Imunopatologia do IOC. Na experiência, 50 camundongos foram imunizados com uma vacina experimental e tiveram os sintomas da doença amenizados.

“Já está em andamento a pesquisa que irá definir um padrão experimental para dengue do tipo 1 e para casos de reinfecção”, conta a pesquisadora Ortrud Monika Schatzmayr, coordenadora do estudo, referindo-se à tese de doutorado de Débora Ferreira Barreto, aluna do curso de pós-graduação em Biologia Molecular e Celular do IOC, de quem é orientadora.

Conhecer para interferir no ciclo de atividades do Aedes aegypti

Conhecer o ciclo de atividades do mosquito da dengue é o objetivo do estudo coordenado pelo pesquisador Alexandre Afrânio Peixoto, do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC. “Todo organismo tem um relógio biológico”, ele explica. “Já se sabe que o Aedes aegypti é um inseto essencialmente diurno e costuma atacar no final da tarde. Este é um dado importante para a prevenção da doença e o combate ao mosquito.”

Nos estudos em laboratório, mosquitos não infectados são controlados e monitorados para mapear seu ciclo de atividades. O objetivo final é, com base nestes conhecimentos, identificar formas de interferir no ciclo de vida do vetor. “Conhecendo o relógio biológico destes insetos podemos, por exemplo, aplicar um inseticida de forma mais eficiente”, Alexandre conclui. O próximo passo para aprofundar o estudo é comparar os ritmos biológicos de mosquitos infectados com mosquitos não infectados para identificar semelhanças e diferenças.

Definição de marcadores de gravidade pode evitar a evolução em casos graves

Com o objetivo de identificar os pacientes com possibilidade de evoluir para casos mais graves de dengue, sobretuo casos hemorrágicos, o Laborátorio de Imunofarmacologia do IOC está desenvolvendo um estudo que irá definir marcadores de gravidade para serem utilizados pelos médicos logo após a doença ser diagnosticada.

“Identificando precocemente os pacientes que podem evoluir para casos mais graves, é possível saber quais deles necessitam de mais atenção e cuidados", apresenta a pesquisadora Patrícia Bozza, coordenadora do estudo. “Este dado é muito valioso para a saúde pública.”

Já foram identificados alguns marcadores que permitem indicar o nível de gravidade de manifestação da doença. “A pesquisa ainda requer aprofundamento. O próximo passo será a ampliação do número de pacientes testados, englobando outros estados e institutos de pesquisa”, a pesquisadora apresenta.

Método mais fácil e seguro para o diagnóstico da dengue

Um novo método de diagnóstico para dengue, mais fácil, seguro e com custo reduzido, está sendo desenvolvido pelo Laboratório de Flavivírus do IOC. “Os antígenos virais utilizados nos diagnósticos feitos em laboratórios atualmente são produzidos em quantidades limitadas a partir de cérebro de camundongos infectados ou de culturas de células”, explica Flávia Barreto dos Santos, coordenadora da pesquisa. “O custo destes kits é elevado, principalmente quando há a necessidade de produção em larga escala, como em casos de epidemias."

O novo método, em fase de testes, utiliza antígenos recombinantes obtidos a partir da clonagem do genoma dos vírus da dengue e da expressão dos peptídeos em bactérias.

Laboratório de referência monitora a resistência e estuda alternativas para inseticidas

O Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC, credenciado como centro de referência pelo Ministério da Saúde, monitora a resistência da população do mosquito Aedes aegypti a diferentes métodos de controle com base em inseticidas em testes desenvolvidos em um simulador de campo.

Denise Valle, pesquisadora do Laboratório, conta que em 1958, quando o Brasil foi considerado um país livre da dengue, foi usado para controle do vetor o inseticida DDT, que teve seu uso proibido logo em seguida. Em 1967 a dengue voltou ao país, vinda da Ásia. A partir deste momento, os inseticidas da família dos organofosforados passaram a ser os mais utilizados.

“Na grande epidemia de 1998, os agentes de saúde perceberam que o inseticida utilizado não estava funcionando”, a pesquisadora recorda. “Na época, a Funasa, órgão do governo ligado ao Ministério da Saúde, criou um programa com o objetivo de avaliar a resistência das populações de Aedes aegypti aos inseticidas. Dez laboratórios participavam, inclusive o Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC.” Foram definidas como área de abrangência para o estudo todas as capitais e mais alguns municípios onde foram identificados grandes focos do mosquito.

Com o início deste estudo, os pesquisadores constataram a resistência aos organofosforados, que era utilizado havia 30 anos. Hoje, apenas três laboratórios continuam ligados a esta pesquisa, vinculados à Secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A pesquisadora conta que o nível de complexidade aumentou. “Antes fazíamos o teste e chegávamos à conclusão se o método era resistente ou não”, sintetiza. “Hoje, aprofundamos o estudo para identificar o quanto o vetor é resistente ou não e quais as razões”.

O trabalho de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório resultou na aprovação de uma resolução do Ministério da Saúde que determina que só sejam adquiridos inseticidas para uso nacional depois que forem realizados testes em campo, testando sua efetividade no clima e ambiente do país. Outra inovação alcançada pelo Laboratório, desta vez em parceria com a Comissão Interna de Biossegurança do IOC, foi a criação pioneira do Manual Parâmetros de Biossegurança para Insetários e Infectórios de Vetores, que já é solicitado por pesquisadores e instituições de pesquisa no exterior.

Por Renata Fontoura
25/01/06

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