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Aedes infectado vive menos

Qual é o impacto da infecção pelo vírus da dengue em alguns aspectos da biologia e do comportamento do Aedes aegypti? A pergunta foi o ponto de partida para um estudo pioneiro desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que comparou aspectos da longevidade e da fecundidade de fêmeas infectadas e não infectadas com o vírus da dengue. Os resultados mostraram que as fêmeas infectadas viveram em média 15 dias a menos do que as não infectadas e apresentaram queda no número de ovos colocados a partir da terceira postura.

Gutemberg Brito

 

Segundo Ricardo Lourenço, a redução do tempo de vida médio do A. aegypti infectado pode estar ligada ao esforço que o mosquito precisa fazer para se defender do vírus em seu organismo


A investigação, publicada como artigo na edição de agosto da revista científica Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, reforça uma abordagem recente dos estudos na área, que passa a considerar os efeitos acarretados pelo vírus no organismo do A. aegypti e sua interferência no ciclo de transmissão.

“Observamos 500 mosquitos fêmeas e percebemos que, quando infectadas, a média de vida foi de 23 dias, contra 42 das não infectadas. Também constatamos que a quantidade de ovos colocados a partir da terceira postura diminuiu” explica o pesquisador Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC e co-autor do estudo. “A hipótese para explicar esta observação é a de que o gasto desprendido pelo mosquito para se defender do vírus em seu corpo comprometa sua produção de ovos e outros aspectos de sua biologia e comportamento”, complementa.  O estudo optou por observar fêmeas do A. aegypti porque apenas elas realizam alimentação com sangue, atuando portanto na transmissão da dengue.

Segundo Lourenço, o estudo reforça uma nova perspectiva das pesquisas na área. “Se verificarmos a trajetória dos estudos sobre os vetores da dengue, veremos que dez anos atrás os pesquisadores achavam que o vírus não alterava a vida do mosquito, uma vez que a quase totalidade dos mosquitos infectados em laboratório durava os 14 dias de incubação tradicionalmente aguardados para que o vírus se dissemine até a cabeça e glândulas salivares do inseto. Em nosso estudo, conseguimos observar os mosquitos ao longo de várias semanas. Com isso, vimos que a infecção no mosquito pode interferir na sua vida e, por conseguinte, no ciclo de transmissão da dengue”,  dispara o especialista.

O biólogo Rafael Freitas, do mesmo Laboratório, explica que duas populações diferentes de A. aegypti foram analisadas durante a investigação. “Para que fosse possível aproximar nossos resultados do que acontece na natureza com os mosquitos infectados, acompanhamos uma população criada em laboratório, sensível e susceptível ao vírus, e outra de campo, coletada no bairro do Caju, no Rio de Janeiro. Constatamos diferenças entre as populações, mas, na média geral, as fêmeas infectadas tiveram uma longevidade menor”, afirmou o pesquisador. “Em relação à postura de ovos, observamos que na primeira postura houve 95% de sucesso  e já na quinta, 75%”, concluiu.

“A maior disponibilidade de dados publicados na literatura científica sobre infecções experimentais com o dengue tipo 2  fez com que  fosse esse o sorotipo do vírus escolhido para a pesquisa”, justifica Rafael. O próximo passo da pesquisa é a investigação do efeito da infecção pelo vírus sobre os hábitos alimentares do vetor. “Queremos saber se a infecção causa alguma alteração relacionada à picada do mosquito”, finaliza o pesquisador. 

Renata Fontoura

10/10/2011

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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