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Um século depois, expedições buscam agir sobre doenças da pobreza

No início do século XX as expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do país procuravam identificar doenças. A tradição expedicionária se expande cem anos mais tarde, levando ciência, saúde, educação e cultura com foco na ação sobre as doenças, mirando o combate à pobreza. Paudalho, no interior de Pernambuco, recebeu a iniciativa piloto.

Cobertura no perfil do ICICT, um dos parceiros da iniciativa, no Facebook

Cobertura no site do Programa Brasil Sem Miséria

 

Pesquisadores que deixavam de seus laboratórios para desbravar os cantões do Brasil, mapeando e descobrindo doenças: este era o perfil dos cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que, no início do século XX, participaram das famosas Expedições Científicas para descrever o quadro da saúde no interior do país. Hoje, o desafio é diferente. A perspectiva é de agir sobre o cenário atual da saúde, que é diferente em cada região, e que associa seus determinantes biológicos aos determinantes sociais da saúde, como renda, educação, habitação, saneamento e outros. A proposta do projeto ‘Ciência, educação e cultura para a saúde e a superação da pobreza’, desenvolvido pelo IOC agregando diversas unidades da Fiocruz, assume justamente este objetivo. A primeira parada, em caráter piloto, ocorreu de 23 a 27 de janeiro, no município de Paudalho, no interior de Pernambuco.

Os pouco mais de 50 mil moradores da cidade participaram de atividades na praça, sessões de cinema, oficinas e exposição a céu aberto. Para 40 professores, agentes de saúde e estudantes da localidade, o curso de férias ‘Saúde é o que interessa, doença é o que não presta’ abordará temas de saúde. O foco principal são as doenças associadas à pobreza, como esquistossomose, tuberculose, geohelmintoses, hanseníase e filariose. “Combinar promoção da saúde com prevenção de doenças implica em conhecimento, troca de saberes e aplicação de conhecimentos. Implica em mudanças culturais locais, onde as escolas, as unidades básicas de saúde e os grupos culturais têm um papel muito relevante. Atingir esse público, difundir e trocar conhecimentos, sensibilizar e mobilizar as pessoas é o principal objetivo das expedições contemporâneas da Fiocruz, que começarão pelo Nordeste e se espalharão por todo o país, consolidando nossas redes de parcerias”, afirma Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC e líder da iniciativa.

O curso para professores, estudantes e agentes de saúde é parte das iniciativas 



Parcerias

A iniciativa está integrada ao Programa Brasil Sem Miséria, do governo federal, e conta com numerosos parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social, Governo do Estado de Pernambuco, Fiocruz Pernambuco, Fiocruz Brasília, Fiocruz Minas, Fiocruz Bahia, Instituto de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e Diretoria de Planejamento (Diplan/Fiocruz). Articular tantos parceiros foi um desdobramento natural do papel provocativo que o Instituto assume no campo das doenças negligenciadas da pobreza. “Foi a partir de nossa ação, por meio de uma Nota Técnica publicada no início de 2010, que o MDS incluiu o tema das doenças da pobreza no Plano Brasil Sem Miséria. Estamos dando sustentação a esta perspectiva por meio de várias frentes, em que já temos a pesquisa científica e a pós-graduação. O projeto ‘Ciência, educação e cultura para a saúde e a superação da pobreza’ é mais uma destas frentes”, Tania situa. A ação em Paudalho será uma verdadeira prova de fogo para o formato de ação planejado. “Esperamos colher bons frutos desta ação piloto em Paudalho, que abrirá caminho para a pactuação de movimentos mais amplos, em diversas localidades”, descreve.

Nova versão

Tania conta que a ideia de retomar as expedições do Instituto Oswaldo Cruz aos sertões do Brasil (1911-1913), quando Carlos Chagas, Arthur Neiva, Belizário Penna e outros cientistas da época descreveram a situação de saúde em profundos rincões, partiu da identificação da pobreza como um problema que persiste.

Família de Paudalho em 1912, época em que as expedições científicas originais do Instituto Oswaldo Cruz percorreram o interior do país


“Muito foi feito, por meio de políticas públicas específicas”, ressalta, acrescentando que o Brasil já retirou 40 milhões de pessoas da faixa da pobreza e alterou parte dos principais determinantes sociais das doenças transmissíveis. Isto, associado à promoção da saúde e a intervenções preventivas e curativas, já reduziu de mais de 50% para menos de 5% o impacto das doenças infecciosas na mortalidade da população. No entanto, restam 16,2 milhões de brasileiros na extrema pobreza. O enfrentamento das doenças infecciosas da pobreza se concentra exatamente nas localidades em que estão as pessoas mais pobres, foco agora das ações do Plano Brasil sem Miséria”, justifica.


Escolha intencional

A escolha do município de Paudalho para a realização da primeira expedição deve-se ao fato do município constar entre os prioritários do projeto Sanar, do Governo de Pernambuco, para enfrentamento de três doenças negligenciadas: esquistossomose, helmintoses e tuberculose. “Paudalho também pode ser considerado representativo dos pequenos municípios que lidam e lutam bravamente contra a pobreza”, Tania informa. Dos domicílios locais, 51,6% abrigam famílias vivendo com até dois salários mínimos. Além disso, Paudalho tem uma rica tradução cultural e uma forte história de movimentos sociais pelo direito à terra e à cidadania, tendo sido palco de lutas pioneiras das ligas camponesas no Nordeste.

Programação

Serão várias atividades concomitantes. O curso atenderá professores da educação básica, alunos do 8º e 9º ano e agentes de saúde. O Fórum de cultura com saúde, ciência e educação, integrando arte e cidadania, aberto à população, ocupará o centro da cidade no momento das tradicionais festividades de São Sebastião, abrindo diversos espaços para debates, informação e formação sobre saúde. Estão previstos mostra de vídeos, exposição e oficinas de música e uso do lixo, dentre outros temas. Tendas para encontros estarão disponíveis para a interação do público e formação de uma rede de apoio ao Plano Brasil sem Miséria. Observação astronômica, Show de Química e Noite do Cordel e de Violeiros completam a programação, organizada pelo Espaço Ciência e pelas Secretarias de Saúde e de Cultura.


23/01/2012 -- Atualizado em 27/01/12

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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