Publicada em: 21/09/2012 às 16:26
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Conheça as principais doenças tropicais negligenciadas
Jornalismo

Saiba mais sobre os principais agravos que estão em pauta no XVIII Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária

::Rio sedia congresso mundial sobre doenças tropicais negligenciadas::
::Veja os destaques da programação do XVIII CIMTM::

Presentes em 149 países, as doenças tropicais negligenciadas representam um inimigo que se aproveita da fragilidade social e econômica. São vírus, bactérias e parasitos que atingem um bilhão de pessoas, sobretudo na faixa tropical do globo, onde se concentram as populações mais vulneráveis dos países em desenvolvimento. Com a intensa circulação de pessoas, o problema se torna cada vez mais uma questão global.

Se, por um lado, a pobreza, o acesso limitado à água limpa e ao saneamento contribuem para a propagação das doenças, os próprios agravos perpetuam essa condição de miséria e de desigualdade nas áreas endêmicas, em uma dinâmica circular. A infecção por doenças tropicais prejudica o desenvolvimento intelectual das crianças, reduz a taxa de escolarização e muitas vezes desabilita os infectados para o trabalho, o que acarreta consequências econômicas. Mais do que um problema para a saúde, as doenças negligenciadas configuram um entrave ao desenvolvimento humano e econômico das nações.

Conheça os principais agravos em pauta no Congresso

Dados sobre malária, dengue, esquistossomose, tuberculose,
hanseníase e outras doenças tropicais negligenciadas

MALÁRIA
 
Patógeno: Cinco espécies de protozoários do gênero Plasmodium.
Transmissão: Picada de mosquitos anofelinos infectados (cerca de vinte espécies).
Sob risco: 3,2 bilhões de pessoas em 99 países.
Novos casos/ano: Cerca de 200 milhões de casos / ano no mundo e 300.000 no Brasil.

Uma criança morre de malária a cada 30 segundos na África. Em âmbito global, são atingidos 100 países, distribuídos pela América Latina, Oriente Médio, Ásia e Europa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 216 milhões de pessoas adoecem por ano, levando a 655.000 óbitos. Os alarmantes números da malária a colocam no topo das doenças negligenciadas de maior morbidade e mortalidade do planeta. Se tratada na fase aguda, tem cura, mas a crescente resistência dos parasitas às drogas disponíveis vem preocupando a comunidade médica internacional. Já há casos de resistência à arteminisinina - principal droga antimalárica - no Vietnã, Birmânia, Camboja e Tailândia. Acredita-se, ainda, que a malária retarde o crescimento econômico anual em 1,3% em áreas endêmicas com alta prevalência.

 

DENGUE
 
Patógeno: Vírus tipos DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
Transmissão: Picada de mosquitos infectados, das espécies Aedes aegypti (América) e Aedes albopictus (Ásia).
Sob risco: 2,5 bilhões em 100 países.
Novos casos/ano: entre 50 e 100 milhões de novos casos/ ano no mundo e 765.000 no Brasil.

Dentre as doenças transmitidas por mosquitos, a dengue é a que vem se alastrando mais rapidamente pelo globo: em 50 anos, o número de casos aumentou em 30 vezes, sendo que 70% estão concentrados no sudeste asiático e nas ilhas do Pacífico. Menos de 1% das infecções evoluem para óbito, mas, na última década, dez países entraram para a lista dos afetados pela doença, tais como Sri Lanka, Nepal, Timor-Leste, Indonésia e Tailândia. A resistência dos mosquitos aos inseticidas disponíveis e o surgimento do sorotipo 4 do vírus vêm desafiando a comunidade científica a criar novas formas de contenção da doença.

 

DOENÇA DE CHAGAS

Patógeno: Protozoário da espécie Trypanosoma cruzi.
Transmissão: Fezes de triatomíneos infectados, insetos conhecidos como ‘barbeiros’, penetram na pele por meio da picada; ingestão de água e alimentos contaminados; transfusão de sangue e transplante de órgãos oriundos de pacientes com Chagas; de mãe para filho.
Sob risco: 25 milhões de pessoas em 21 países.                                       
Novos casos/ano: 56 mil novos casos / ano e 166 no Brasil.    

Responsável por 14 mil mortes ao ano, a doença de Chagas mata mais pessoas na América Latina do que a malária ou qualquer outra doença parasitária. Segundo a OMS, dez milhões sofrem da forma crônica da doença, para a qual não existe cura. A cardiopatia chagásica crônica (CCC), altamente incapacitante para o trabalho, constitui a mais séria complicação e atinge pelo menos um terço destes pacientes em algum momento de suas vidas. As campanhas de combate ao barbeiro no Brasil reduziram significativamente os índices de transmissão, conquistando-se, em 2006, o certificado de interrupção da transmissão pelo principal vetor no país (o Triatoma infestans), concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Hoje, as novas infecções ocorrem, sobretudo, pela ingestão de alimentos contaminados. Se tratada no início da fase aguda, a chance de cura pelos medicamentos disponíveis beira os 100% – no entanto, os sintomas podem levar até 30 anos para aparecer, ou seja, quando a fase crônica já está instalada.

 

LEISHMANIOSES

Patógeno: Protozoários do gênero Leishmania.
Transmissão: Picada de flebotomíneos (insetos conhecidos como mosquito-palha) infectados. São transmissores as espécies dos gêneros Lutzomya (Américas) e Phlebotomus (Europa, África e Ásia), totalizando 30 espécies.
Sob risco: 350 milhões de pessoas em 98 países.
Novos casos/ano: Cerca de 1,8 milhão de casos (1,5 milhão de Leishmaniose Cutânea - LC e 300 mil de Leishmaniose Visceral - LV) / ano. No Brasil, 3.500 de LV e 22.000 de LC.

Endêmica em 98 países – sendo a maioria nações em desenvolvimento –, as leishmanioses são responsáveis pela morte de cerca de 50 mil pessoas todos os anos. São as formas mais comuns da doença a leishmaniose visceral (LV), que leva à morte se não for tratada nas primeiras semanas, e a leishmaniose cutânea (LC), que provoca lesões crônicas ou de cura espontânea na pele e nas cartilagens. O Brasil é o único representante das Américas na lista de países que concentram 90% dos novos casos, figurando ao lado de Bangladesh, Índia, Etiópia, Nepal e Sudão. Ao serem picados por insetos flebotomíneos infectados, animais silvestres e domésticos, como cães e gatos, se tornam repositório do parasita, contribuindo com a propagação da doença. A coinfecção é uma das principais preocupações da comunidade médica, principalmente nos casos de pacientes portadores do HIV.

 

ESQUISTOSSOMOSE

Patógeno: Cinco espécies do verme Schistosoma.
Transmissão: Contato com cercárias (fase inicial de vida do Schistosoma) liberadas em água doce (rios e afins) por caramujos do gênero Biomphalaria.
Sob risco: 800 milhões em 77 países e territórios.
Novos casos/ano: 230 milhões de novos casos/ano no mundo

Embora seja uma verminose de relativa baixa mortalidade, com 80% dos casos concentrados na África, a esquistossomose passou a constar entre as enfermidades negligenciadas de maior importância após reavaliação da OMS. Consequência da espoliação crônica que acarreta aos pacientes, com comprometimento da capacidade cognitiva e de aprendizado das crianças e da força de trabalho dos adultos jovens – consideradas as duas populações responsáveis pelo desenvolvimento de suas nações. Embora tenha tratamento, a exposição permanente dos grupos ¬de risco aos caramujos e à água contaminada incorre na reincidência cíclica da infecção. Estima-se que 2,5 milhões de pessoas sejam portadores da doença no Brasil. Em maio de 2012, o Ministério da Saúde adotou a resolução da Assembleia Mundial de Saúde para eliminação da esquistossomose como problema de saúde pública até 2020. Em junho de 2012, a Fiocruz e o Instituto Oswaldo Cruz divulgaram a aprovação da segurança da primeira vacina contra esquistossomose na fase 1 de testes clínicos.

 

TUBERCULOSE

Patógeno: Bactéria conhecida como ‘bacilo-de-koch’, a Mycobacterium tuberculosis.
Transmissão: Contato com a bactéria presente na saliva e em secreções de um paciente.
Sob risco: 2 bilhões de pessoas em 95 países.
Novos casos/ano: 8,8 milhões de novos casos / ano e 69 mil no Brasil.

A tuberculose é a segunda maior causa de mortes por um único agente infeccioso no mundo, perdendo apenas para a Aids. É responsável por um milhão e meio de óbitos. Os países em desenvolvimento concentram 95% das infecções e é atribuída à tuberculose a principal causa de morte entre mulheres de 15 a 44 anos nestas regiões. Embora tenha cura e, segundo a OMS, o índice de transmissão tenha caído 40% de 1990 a 2010, a insurgência de bactérias multirresistentes aos medicamentos disponíveis vem mantendo a comunidade médica em alerta. Dentre os pacientes com Aids, a tuberculose responde como a principal causa de morte por coinfecções. Cerca de 350 mil pessoas vivendo com Aids – ou seja, ¼ do total de infectados – morrem em virtude da doença. Estima-se que este grupo tenha entre 20 e 30 vezes mais chances de se infectar devido ao enfraquecimento das defesas imunológicas.

 

HANSENÍASE

Patógeno: bacilo Mycobacterium leprae.
Transmissão: Contato com a bactéria presente na saliva e em secreções de um paciente.
Novos casos/ano: 219.000 novos casos / ano no mundo e 34.000 no Brasil.

Devido ao comprometimento da OMS e de nações atingidas com políticas de prevenção e de acessibilidade aos medicamentos, a hanseníase deixou de ser endêmica em 119 países desde 1985. Hoje, a Organização trabalha com a meta de reduzir em 35% a incidência de novos casos até 2015. Assim como nas leishmanioses, o Brasil é o único país latino-americano dentre os de alta prevalência, respondendo por 16% dos novos casos. Constam na lista, ainda, a Indonésia, Filipinas, Congo, Madagascar, Moçambique, Nepal, Tanzânia e Índia. O paciente pode levar até 20 anos para manifestar os sintomas e sofrer danos permanentes na pele, mucosas e nervos periféricos. A terapia multidrogas é eficaz e grande aliada nos esforços de erradicação da doença: a resistência às drogas utilizadas é muito rara.

Fonte dos dados: Organização Mundial da Saúde


 

21/09/2012
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)


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