Publicada em: 26/09/2012 às 17:24
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Leishmanioses chegam às grandes cidades
Jornalismo

Pesquisadores falaram sobre a dispersão mundial da doença, que já atinge países da Europa

Endêmicas em 98 países, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as leishmanioses são responsáveis pela morte de cerca de 50 mil pessoas todos os anos. São as formas mais comuns da doença a leishmaniose visceral (LV), que leva à morte se não forem tratadas nas primeiras semanas, e a leishmaniose cutânea (LC), que provoca lesões crônicas ou de cura espontânea na pele e nas cartilagens. No dia 25 de setembro, uma mesa-redonda sobre o tema discutiu a epidemiologia e o controle da doença, as apresentações foram realizadas por pesquisadores do Brasil, da Argentina e da Espanha, e integraram a programação do XVIII Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária.

Pesquisador da Universidade de Brasília (UNB), Gustavo Romero, criticou as atuais formas de prevenção da Leishmaniose, como a eliminação de cães, a vacinação e o uso de coleiras especiais e inseticidas. “Os resultados são baixos para frear a transmissão das leishmanioses”, destacou. De acordo com o especialista, em 2011, o Brasil registrou mais de três mil casos da doença, sendo 47% concentrados na região Nordeste. “No ultimo ano, a taxa de mortalidade foi de 6,6%. É preciso focar no diagnóstico e tratamento, melhorando o acesso da população à saúde pública”, afirmou.

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Carlos Henrique Nery Costa, também acredita que a eliminação de cães não vai solucionar o problema das leishmanioses no Brasil. Segundo ele, o país precisa de estudos que compreendam a maneira como esses animais são infectados. O pesquisador lembrou que há 30 anos a doença era uma enfermidade rural, mas rapidamente se espalhou para os centros urbanos. “O processo de disseminação da doença é uma ameaça para os países vizinhos. Será que as leishmanioses vão se tornar uma doença intercontinental? É bem provável que isso se torne uma pandemia, atingindo a todos”, destacou.

Divulgação ICTMM

Durante a mesa redonda do dia 25, pesquisadores falaram sobre a dispersão mundial da doença, que já atinge países da Europa

O histórico da doença na Argentina foi apresentado pelo diretor do Instituto Nacional de Medicina Tropical (INMeT), Oscar Salomon. O país registrou os seus primeiros casos em 2004, na província de Clorinda. De acordo com Salomon, em 2012 foram contabilizados 100 casos, com 10% de óbitos. “A cada ano, os números aumentam, mas temos feito esforços para controlar o problema por meio de parcerias entre o governo e os pesquisadores”, ressaltou. O pesquisador citou a criação do Programa Nacional de Leishmanioses, em 2009, como um passo fundamental para o avanço nas pesquisas, e defendeu: “a gestão dos cães domésticos é importante para entender a forma como a transmissão da doença acontece”.

Pesquisador do Centro de Colaboração para Leishmanioses da OMS, Israel Cruz, debateu sobre o surto da doença que ocorreu em Madri, na Espanha, entre os anos de 2009 e 2012. Segundo o especialista, a Europa registra cerca de 700 casos da doença por ano. Se comparado ao Brasil, este número é baixo, mas causa preocupação as autoridades europeias. A capital espanhola registrou no ano passado 30 casos de leishmanioses e, segundo Cruz, a origem da epidemia tem sido atribuída a alterações ambientais. “Medidas de controle estão sendo aplicadas, mas é preciso novas estratégias, como a identificação de áreas de risco e sem saneamento, o estabelecimento de um sistema de vigilância entomológica, campanhas de sensibilização pública e o fortalecimento da comunicação entre os profissionais da saúde humana e veterinária”, enfatizou.

Manoela Andrade
27/09/2012
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)


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