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Algumas gotinhas de sangue e pronto: nova aposta para detecção da hepatite C

Método que utiliza amostra de sangue seco para detecção da hepatite B permite diagnosticar, também, o tipo C da doença

Ele é simples como o teste do pezinho. Bastam gotas de sangue do dedo com o auxílio de uma lanceta (instrumento semelhante a um pequeno alfinete) e de um papel de filtro para coletar a amostra que permitirá definir se uma pessoa tem anticorpos contra o vírus da hepatite C. A necessidade de agulha, seringa e refrigeração da amostra de sangue, exigida pela metodologia atual, fica dispensada. A estratégia foi adaptada pela pesquisadora Lívia Villar, do Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Gutemberg Brito

 Técnica facilita o monitoramento epidemiológico de áreas de difícil acesso

“Procuramos aproveitar técnicas e materiais que já estão em uso na rede pública de saúde – como o papel de filtro e o teste de ELISA – para criar uma abordagem mais barata e simples de detecção de anticorpos contra o vírus”, explica Lívia. O ELISA é um teste imunoenzimático empregado no diagnóstico laboratorial de diversas doenças, permitindo a detecção de anticorpos específicos no plasma sanguíneo. Na técnica desenvolvida por Lívia, a amostra de sangue seco passa por um processo de diluição para que o sangue seja retirado do papel de filtro e submetido à análise. Outro diferencial é que a técnica de coleta das amostras também permite a detecção simultânea de anticorpos e de antígenos, o que reduz o período de janela imunológica do teste.

Descomplicando

O desenvolvimento da estratégia foi concluído pela equipe no primeiro semestre de 2012. Aplicada, inicialmente, para o diagnóstico da hepatite B, ela acaba de ser adaptada para detectar também o vírus da hepatite C. O estudo foi publicado na edição de outubro de 2012 no periódico científico Journal of Medical Virology e aponta que o método tem sensibilidade e especificidade acima de 90%, índice considerado ideal para testes imunoenzimáticos. A próxima etapa de validação é a de reprodutibilidade, na qual pesquisadores utilizam amostras colhidas em todo o país com o objetivo de averiguar se o teste é universalmente eficaz.

Gutemberg Brito

Equipe do Laboratório de Hepatites Virais: estratégia inicial contemplava o diagnóstico do tipo B da doença

As populações que vivem longe dos centros urbanos e em locais de difícil acesso serão especialmente beneficiadas pela inovação. Como a coleta de sangue venoso exige a presença de um profissional de saúde especializado, além de diversos itens específicos para fazer a retirada de sangue e manter as amostras armazenadas de forma adequada, o monitoramento do vírus, nestas áreas, costuma ser limitado. “O papel de filtro mantém a amostra seca e pode ser enviado pelo correio e permanecer em temperatura ambiente por semanas, sem que isso comprometa a qualidade do resultado”, explica Lívia. A inovação no diagnóstico das hepatites virais também é missão do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, que em 2012, também apresentou um modelo inovador para kits de diagnóstico – neste caso, para a hepatite A.

Gutemberg Brito

Lívia Villar investiu em materiais e técnicas já em uso no SUS para desenvolver a estratégia 

Alerta para a transmissão sexual

O protagonismo do IOC na produção de pesquisa de ponta e inovação se estende, ainda, ao atendimento e tratamento de pacientes, como é o caso do Ambulatório de Hepatites Virais, unidade vinculada ao Laboratório de Hepatites Virais que é referência no município do Rio de Janeiro para o tratamento de casos agudos da doença. Chefe do ambulatório, pesquisadora e médica, Lia Lewis reitera a necessidade de ampliar o acesso da população aos testes de diagnóstico para a hepatite C. A unidade realizou o atendimento de mais de quatro mil pacientes apenas em 2012.

De acordo com a médica, até 1993 a forma mais recorrente de transmissão era via transfusão de sangue. Com a implementação da triagem sorológica pelo Ministério da Saúde nos bancos de sangue, hoje, são as infecções decorrentes de procedimentos invasivos que predominam: elas respondem por 65% dos casos atendidos no ambulatório. Sejam por motivos estéticos ou médicos, estas intervenções têm em comum o uso de instrumentos cortantes e o contato com sangue do paciente.

Gutemberg Brito

Lia Lewis alerta para o alto índice de contaminações por procedimentos médicos e estéticos

As tatuagens, secagem de vasinhos, maquiagem definitiva, manicure e depilação estão entre os procedimentos estéticos de risco destacados por Lia. “Em geral, a infecção ocorre devido ao reaproveitamento de materiais ou falta de esterilização. Na tatuagem, por exemplo, o maior perigo, hoje, é o reaproveitamento da tinta e não mais da agulha, que deve ser descartável”, explica a médica. Ela recomenda, ainda, que cada pessoa leve seu kit pessoal de manicure para o salão.

Já os casos de infecção por procedimentos médicos ocorrem quando os profissionais de saúde não seguem as medidas universais de boas práticas da biossegurança. “Um par de luvas não trocado entre um atendimento e outro é o suficiente para infectar uma pessoa. Basta que haja contato com o sangue de ambos, sangue este que nem sempre está visível”, ressalta. O ambulatório vem atendendo casos onde a transmissão ocorreu por implantes dentários, exames como colonoscopia e endoscopia, cesarianas, hemodiálise e até mesmo a simples punção venosa para hidratação com soro. “Alguns dentistas, por exemplo, esterilizam apenas a ponta da broca, mas suas mãos têm contato com a luminária e com todo o resto do equipamento, o que facilita o transporte do vírus de um lugar para o outro”, alerta Lia. O vírus da hepatite C, de acordo com a pesquisadora, pode permanecer infeccioso em superfícies por mais de 24 horas.

Apesar de não ser a via principal de transmissão, a infecção pelo vírus também pode ocorrer por meio sexual, em casos em que os parceiros possuam lesões nos órgãos genitais. Elas funcionam como portas de ‘saída’ e ‘entrada’ para o vírus. “Lubrificação reduzida favorece o surgimento de microlesões durante a relação sexual e, consequentemente, aumenta os riscos de transmissão. Mas basta utilizar lubrificantes e preservativos”, assinala a médica.

Sobre a hepatite C

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 150 milhões de pessoas no mundo possuem a forma crônica da hepatite C e 350 mil morrem todos os anos em virtude de complicações da doença, como cirrose e câncer de fígado. Dentre os países mais afetados, estão Egito, Paquistão e China. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 1% da população (ou seja, cerca de dois milhões de pessoas) tenham anticorpos contra o vírus, o que significa que elas estão infectadas ou já tiveram contato com o patógeno. A cura espontânea ocorre em 50% dos casos. Os outros 50% evoluem para a forma crônica da doença e, destes, cerca de 20% sofrerão de cirrose e 2% poderão evoluir para câncer. De acordo com Lia, 90% dos casos são assintomáticos, o que atrasa o diagnóstico e o acompanhamento médico, fundamental para o controle do quadro. “Urina de cor escura, fezes claras, enjoo e icterícia, doença que deixa a pele e os olhos amarelos podem ser sintomas indicativos de hepatite C”, alerta a médica.

 

Isadora Marinho
25/02/2013
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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