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Aedes ‘do bem’: projeto avança no Rio

Trabalhos de campo do projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’ estão sendo realizados nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói. Metodologia é natural, segura, autossustentável e não tem fins lucrativos

Trazido ao Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’ é uma iniciativa científica pioneira em andamento em cinco países. A nova estratégia de pesquisa para o controle da doença utiliza a bactéria Wolbachia para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti, de forma natural e autossustentável. Atualmente, equipes de Entomologia de Campo e de Engajamento Comunitário atuam em quatro localidades nas cidades do Rio de Janeiro e em Niterói. Os bairros de Vila Valqueire, Urca, Tubiacanga e Jurujuba participam de estudos para a realização de futuros testes de campo, com a soltura de mosquitos com Wolbachia.

Na Austrália, mosquitos que receberam a Wolbachia em laboratório foram soltos de forma sistemática, em algumas localidades no norte do país, em 2011. Nestes locais, a presença de mosquitos com a bactéria bloqueadora do vírus se tornou predominante de forma eficaz e autossustentável. Esta metodologia também se mostra natural, segura e não tem fins lucrativos.

De acordo com Luciano Moreira, líder do projeto no país e pesquisador da Fiocruz, o objetivo da iniciativa é tornar o programa de pesquisa científica ‘Eliminar a Dengue’ uma alternativa para o controle da doença. “Estamos confiantes de que esta estratégia científica inovadora possa de fato contribuir para, futuramente, abrir uma nova alternativa de controle da dengue, baseada no bloqueio do vírus dentro do Aedes aegypti, cooperando assim, para a melhoria da saúde da população”, destacou.

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Mais de 120 cidadadãos fluminenses atuam como parceiros da iniciativa, recebendo os especialistas semanalmente em suas casas para recolher os Aedes capturados pelas armadilhas instaladas pelo projeto

As equipes de Entomologia de Campo e de Engajamento Comunitário contam com o apoio de um grupo de especialistas em modelagem matemática, que desenham modelos dedicados a prever a dispersão dos mosquitos na fase de soltura. “Estas equipe realizam os trabalhos de campo semanalmente nas áreas estudadas. Os mosquitos de cada localidade estão sendo analisados com base da captura em armadilhas especiais, que estão instaladas nas residências de 120 moradores voluntários, os chamados ‘anfitriões’ do projeto”, ressaltou. “A transparência junto aos moradores é uma prioridade. Por isso, esforços têm sido dedicados a garantir a informação e esclarecimento dos parceiros locais”, completou o especialista.

Nos Laboratórios da Fiocruz, os mosquitos Aedes aegypti coletados nas localidades estudadas foram cruzados com mosquitos com Wolbachia importados da Austrália com a autorização do IBAMA. Eles deram origem a ovos que nascem naturalmente com Wolbachia. Os primeiros resultados comprovam o sucesso da experiência e os novos ovos são armazenados para a realização dos testes futuros. Após a aprovação regulatória junto aos órgãos competentes, serão realizados os testes em campo, com a soltura de Aedes aegypti com Wolbachia nas áreas estudadas.

 “Os mosquitos foram estudados para verificação da sua capacidade de se reproduzir com os mosquitos locais, gerando populações de mosquitos com Wolbachia. Agora, estamos  verificando se eles bloqueiam os vírus dengue que circulam no Brasil”, explicou Luciano Moreira.

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Desde 2011, o programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’ está presente em cinco países: Austrália, Vietnã, Indonésia, Brasil e China, atuando em diferentes fases em cada um deles

O projeto no mundo

Desde 2011, o programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’ está presente em cinco países, atuando em diferentes fases em cada um deles. Seguindo o sucesso do primeiro experimento de campo na Austrália, o programa busca a aprovação de órgãos regulatórios para conduzir experimentos similares no Vietnã, Indonésia e Brasil. Os testes de campo visam mensurar o impacto do método na redução dos casos de dengue nas comunidades destes locais, onde as taxas de transmissão são muito superiores às da Austrália. Em 2012 e 2013, novas localidades  australianas iniciaram testes em campo.

Financiadores

O projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’ integra o esforço internacional sem fins lucrativos do Programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’ (Eliminar a Dengue: Nosso Desafio), que testa o método na Austrália, Vietnã, Indonésia e, agora, Brasil. Trata-se de um programa de pesquisa liderado pela Universidade de Monash (Melbourne, Austrália) com diversos colaboradores internacionais. No Brasil, o projeto conta com recursos do Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS e Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos – DECIT/SCTIE), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNPq) e Foundation for the National Institutes of Health (Estados Unidos).

Sem fins lucrativos

Além de todas as vantagens e garantias científicas, o programa ‘Eliminar a Dengue: Nosso Desafio’ possui um diferencial único por ser uma iniciativa sem fins lucrativos. Como esta é uma exigência dos financiadores do projeto, existe a garantia absoluta de que os mosquitos com Wolbachia nunca serão vendidos e que, em nenhum momento, haverá qualquer tipo de custo ou de cobrança para os moradores dos bairros em estudo.

Autossustentável

O método de controle é baseado na soltura programada dos mosquitos com Wolbachia, que, ao se reproduzirem na natureza com mosquitos locais, passam a Wolbachia de mãe para filho através dos ovos. Com o passar do tempo, a expectativa é de que a maior parte da população local de mosquitos tenha Wolbachia e seja incapaz de transmitir dengue. Como conseguem transmitir a Wolbachia de geração em geração através dos ovos e possuem vantagens reprodutivas (tendo maiores chances de deixar prole), nos testes em andamento na Austrália, em poucas semanas os mosquitos com Wolbachia se tornaram predominantes nas populações locais de Aedes aegypti. Ou seja: por ser autossustentável, o método exige solturas pontuais e limitadas de mosquitos, dispensando a soltura continuada de mosquitos.

Metodologia segura e natural

Como é uma bactéria intracelular, a Wolbachia apenas pode ser transmitida de mãe para filho, no processo de reprodução dos mosquitos. Testes realizados na Austrália comprovam que mosquitos com Wolbachia não transmitem a bactéria porque, como é intracelular, a Wolbachia não atravessa o estreito duto salivar do mosquito. Muitos insetos, incluindo diversas espécies de mosquitos, naturalmente carregam cepas diferentes de Wolbachia. Esses mosquitos comumente
picam pessoas sem efeitos negativos – como o pernilongo comum, por exemplo. Durante cinco anos, pesquisadores do programa ‘Eliminar a Dengue’, na Austrália, voluntariamente alimentaram uma colônia de mosquitos com Wolbachia, resultando em centenas de milhares de picadas de mosquitos nessa equipe sem que fossem detectadas reações alérgicas.
Naturalmente presente em cerca de 70% dos insetos no mundo, a Wolbachia é uma bactéria intracelular e não existem evidências de qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente. Estudos recentes demonstraram que esta bactéria é amplamente presente entre os invertebrados, incluindo borboletas e diversos mosquitos.

Cristiane Albuquerque

10/05/2013
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

 

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