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As neurociências e seus desafios

Durante a 3ª Jornada Fluminense sobre Cognição Imune e Neural, pesquisadores debateram temas como psicologia evolucionista, imunidade inata, sonhos, além de correlações entre infecções e cognição

Muitos dos mecanismos de atuação do cérebro e do sistema imune ainda são um mistério para a Ciência e os especialistas estão cada vez mais empenhados em desenvolver pesquisas na interface entre as neuro- e as imuno-ciências. Com o objetivo de aumentar a interseção entre elas, o tema foi debatido durante a 3ª Jornada Fluminense sobre Cognição Imune e Neural, que aconteceu no dia 14 de agosto, no campus da Fiocruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro. O evento, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e pela Academia Nacional de Medicina (ANM), visa criar um fórum de discussão entre especialistas dos sistemas ‘cognitivos’, imune e neural  e permitir que as especificidades e os paradigmas de cada uma destas ciências representem estímulo para a reflexão por cientistas da outra área. Psicologia evolucionista, imunidade inata, imagens internas, sonhos e loucura, e correlação entre infecções e cognição estiverem em pauta.

De acordo com o coordenador do evento e chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, a ilustração de estudos nos dois campos das ciências estimula o diálogo entre profissionais e estudantes das duas áreas que normalmente não se sentam juntas em reuniões e congressos. Assim, paradigmas importantes em uma das áreas podem se tornar interessante para a outra. “Os sistemas cognitivos evoluem a partir da vivência dos indivíduos, modulando a forma como esses sistemas responderão a estímulos externos. Estes aspectos são interessantes porque, apesar de termos, nos organismos vertebrados mandibulados, sistemas sofisticados em funcionamento (como o renal e o cardiorespiratório), os sistemas cognitivos são, por excelência, aqueles que aprendem. Durante a Jornada, diferentes estudos são usados para ilustrar o 'conhecer' e  o 'reconhecer' nos dois sistemas”, explicou o coordenador.

 Gutemberg Brito

 

O pesquisador Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro ressaltou o aprofundamento dos estudos das neurociências

Na abertura do evento, o diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a realização da Jornada como uma atividade que colabora para o desenvolvimento do conhecimento científico. Para ele, o evento converge com o início do processo estratégico de desenvolvimento de atividades na área de neurociências e saúde no âmbito da Fiocruz. “A iniciativa se insere no momento em que o IOC vem atuando para desenvolver, em parceria com a vice-presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, um programa interno de fomento às neurociências”, ressalta.

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou a configuração de uma área de neurociências na Fiocruz, com interface direta com o Ministério da Saúde, a fim de planejar a criação de um Instituto Nacional de Neurociências. “Diversas instituições de pesquisa estão participando na concepção e configuração dessa rede. Este é, portanto, um momento estratégico para o desenvolvimento desta área e a Fiocruz vai apoiar esta iniciativa”, destacou Gadelha.

 Gutemberg Brito

 

Criação de uma área de neurociências na Fiocruz é abordada durante a cerimônia de abertura da 3ª Jornada Fluminense sobre Cognição Imune e Neural

Cognição nos sistemas imune e neural

Dando início ao ciclo de atividades científicas, a conferência ‘Infecção, inflamação e cognição: mediações, correlações e implicações' foi apresentada pelo vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Hugo Caire de Castro Faria Neto. O especialista explicou que casos de sepse podem comprometer a capacidade cognitiva. “Disfunções severas como malária cerebral e septcemia podem trazer como consequência disfunções cognitivas. Com o tratamento dessas disfunções é possível diminuir o déficit cognitivo decorrente da sepse”, explicou o pesquisador.

As ‘Bases neurais da antecipação motora em humanos’ foi o tema apresentado pela pesquisadora Claudia Vargas, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ). A especialista explicou que a atividade cerebral que antecede a execução de um movimento voluntário, denominada 'potencial de preparação', decorre do recrutamento de uma extensa rede de regiões cerebrais. Este potencial está presente também quando o observador antecipa a ocorrência de um movimento a ser executado por outrem, por exemplo, quando o goleiro é capaz de prever um chute ao gol. A pesquisadora mostrou ainda que uma lesão cerebral em local chave da rede de codificação da antecipação motora pode comprometer a capacidade de predição da ocorrência da ação alheia. “Se levarmos em consideração os fatores que influenciam o planejamento motor, é possível realizar um trabalho de reabilitação em pacientes com disfunções motoras para que eles sejam capazes de recodificar os movimentos”, ressaltou.

Já o pesquisador Yuri Chaves Martins, do Albert Einstein College of Medicine, Estados Unidos, que ministrou a conferência ‘Utilizando imagens para reconhecer objetos (inclusive micróbios) do mundo real’, argumentou que o sistema nervoso apresenta as mesmas características do sistema imune, sendo reorganizado a partir de experiências prévias. “Ambos os sistemas parecem produzir imagens internas do meio ambiente onde se situam. A proposta é instigar a mudança de paradigma, traçando um paralelo entre estes sistemas, para podermos avançar na área”, apontou.

Na palestra ‘A imunidade inata: da origem do reconhecimento molecular’, o pesquisador do Departamento de Imunologia da UFRJ, Marcelo Torres Bozza, relacionou a imunidade inata como parte do processo de evolução dos seres vivos. “A partir da década de 90, observamos uma mudança radical na literatura e no interesse dos cientistas pelo estudo da imunidade inata. Procuro ressaltar em minhas pesquisas o aspecto evolutivo do sistema imune e da questão do reconhecimento feito por ele”, salientou.

 Gutemberg Brito

 

Palestrantes e coordenador da 3ª Jornada Fluminense sobre Cognição Imune e Neural

Comportamento e cooperação, sonho e cognição

Os aspectos do comportamento e da cooperação foram abordados nas conferências ‘Psicologia evolucionista: a psicologia depois de Darwin’, de Maria Emília Yamamoto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e ‘O cérebro social: construindo conexões’, de Cecília Hedin Pereira, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ).

Segundo Cecília, o homem é um ser social com capacidade de cooperação inata, cujas características fazem parte do cérebro social, construído a partir da evolução humana. “Uma das ideias é de que a consciência seja necessária para essa construção. O mundo inconsciente influencia o mundo consciente”, ressaltou.

Para a pesquisadora Maria Emília Yamamoto, o senso de cooperação do ser humano é uma característica que está presente desde os nossos ancestrais, sofrendo adaptação de acordo com cada grupo de indivíduos. “Um conceito que viabiliza a cooperação é o pertencimento a determinado grupo. Um marcador que pode trazer a noção de pertencimento a um grupo é a religião, por exemplo, pois é um fenômeno existente em todas as culturas”.

Encerrando o evento, a conferência ‘Sonhos, memórias e loucuras’ foi proferida pelo pesquisador Sidarta Tollendal Gomes, do Instituto do Cérebro da UFRN e um dos coordenadores do evento. Ele destacou que os sonhos permitem ao ser humano acessar seu banco de memórias e suas combinações possíveis revelando a estrutura da mente do sonhador. “Os sonhos são uma experiência universal, que até os nossos ancestrais experimentaram. As contribuições de Freud são fundamentais para o estudo dos sonhos, pois eles reverberam memórias a nível molecular e eletrofisiológico”, finalizou o pesquisador.

Vanessa Sol
16/08/2013
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