Fiocruz
no Portal
neste Site
Fundação Oswaldo Cruz
Página Principal

Leônidas Deane: um legado de inspiração para a ciência

Sessão Especial do Centro de Estudos lembrou o centenário do parasitologista. Exposição, que reúne acervo de objetos pessoais, fotografias, caricaturas, ilustrações científicas, que pertenciam ao pesquisador, fica disponível até abril

:: Leônidas Deane: uma vida dedicada à ciência
:: Leônidas e Maria Deane: companheiros de vida e profissão


Para comemorar o centenário do parasitologista Leônidas de Mello Deane, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) promoveu, na última sexta-feira (21/03), a jornada comemorativa 'Centenário Leônidas Deane: um parasitologista no campo, no laboratório e na sala de aula', que aconteceu em uma sessão especial do Centro de Estudos do IOC. A homenagem conta ainda com uma exposição sobre a vida de Leônidas, que ficará em exibição até o dia 11 de abril, das 8h às 17h, no hall do edifício que recebe o nome do expoente parasitologista, Pavilhão Leônidas Deane. O acervo conta com objetos pessoais, fotografias, caricaturas, ilustrações científicas, que pertenciam ao pesquisador. O cientista teria completado cem anos no último dia 18 de março.

Cerimônia de abertura

Estiveram presentes na mesa de abertura o diretor do IOC, Wilson Savino, e os pesquisadores Ricardo Lourenço, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários e organizador do evento, e José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias. Familiares e profissionais que conviveram com o parasitologista também marcaram presença.

Dando início à jornada, Wilson Savino ressaltou a importância de manter viva a memória de grandes cientistas brasileiros: “Hoje é um dia muito importante para o IOC, onde se festeja e resgata a memória da ciência brasileira, trazendo à luz a recordação do grande cientista que foi o Leônidas Deane”, disse Savino.

 Gutemberg Brito

 Para o diretor do IOC, Wilson Savino, é fundamental resgatar a memória de grandes cientistas

Para Ricardo Lourenço, promover um evento para lembrar o emblemático cientista não foi uma tarefa fácil: “Foi uma grande responsabilidade ter que resumir uma vida inteira de dedicação à ciência. Fui um dos únicos que conviveu com o Dr. Deane em seus últimos dias. Ele soube fazer escola e conquistou muitas pessoas com seu entusiasmo e modéstia”, afirmou o pesquisador.

Coube ao pesquisador José Rodrigues Coura narrar a trajetória do cientista no Instituto, onde permaneceu por dez anos como chefe do Departamento de Entomologia. Visivelmente emocionado, Coura enalteceu a falta que o cientista faz: “Quando recebi por telefone a notícia do falecimento de Leônidas, uma enorme sensação de perda apoderou-se da minha mente e do meu ser inteiro. Se o céu existe, Leônidas Deane certamente está lá e, se Deus o chamou, é porque precisava de um grande ministro e conselheiro. Felizes aqueles que tiveram um mestre como Leônidas Deane”, finalizou.

Ciência e academia: as contribuições de Deane

Após anos de dedicação à ciência, o legado de Deane no estudo sobre leishmaniose visceral é inegável. Disposto a debater sobre as contribuições da nova geração de cientistas à herança científica deixada por Deane, o pesquisador da Universidade Federal do Piauí, Carlos Henrique Costa, destacou o desenvolvimento de diversos campos relacionados à doença, como a biologia celular, genética, fatores de virulência e epidemiologia. No entanto, o especialista enfatizou que "mesmo com o crescente aumento da produção científica, não foi possível erradicar o agravo ou desenvolver uma vacina para humanos, o que representa um desafio para os futuros pesquisadores”, disse.

Como ensinar Ciência, um campo amplo e de temas muitas vezes complicados? Deane, um parasitologista no campo, no laboratório e também na sala de aula, era mestre no assunto. Por meio da integração de ciência e arte, ele conseguia transmitir anos de conhecimento para seus alunos, muitos renomados pesquisadores atualmente.

Com a palestra "Arte e cognição", Isabela Frade, arte educadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explicou que a união desses dois campos é um método crucial para facilitar o aprendizado. "As imagens ajudam na percepção dos alunos e contribuem para as estratégias de ensino. Cada assunto pode ser melhor explorado quando as utilizamos, e o Deane sabia fazer muito bem isso", enfatizou.

Ciclo de ideias

Durante a tarde, o evento abriu espaço para palestras com personalidades que conviveram com Leônidas Deane. Com o tema “De novo a ameaça das alas amarillas: a disseminação de chikungunya nas Américas”, o pesquisador Ricardo Lourenço deu início às atividades apresentando dados de um trabalho desenvolvido acerca do arbovírus chikungunya. O estudo, realizado ano passado, contém as principais características do vírus, a sua forma de transmissão, bem como a descrição dos sintomas causados pela picada dos vetores, os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Além disso, o pesquisador destacou estatísticas sobre a disseminação do chikungunya pelo mundo. “Aprendi com o Dr. Deane que, na biologia, temos que estudar a relação parasito-hospedeiro para conhecer a epidemiologia das doenças”, contou Ricardo que concluiu a palestra com a mostra de uma coletânea de imagens da carreira de Leônidas, em vídeo, produzida pelo chefe do Setor de Produção e Tratamento de Imagens do IOC, Genilton Vieira.

 Gutemberg Brito

 

 Ricardo Lourenço durante palestra sobre o arbovírus chikungunya

Em seguida, um registro histórico de Leônidas Deane discursando no Palácio do Planalto, em frente ao ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, deu o tom dos comentários do Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, que consagrou a tarde dedicada à memória dos feitos do pesquisador. Segundo o presidente, Deane traduziu a proximidade do sociólogo com o cientista. “Deane expressou, ao longo da vida, um tipo de formação de pensamento que é quase constituinte dessa instituição. A ideia de que a pesquisa deve ser voltada para a resolução de problemas, alvo daquilo que é relevante para a sociedade e para a saúde. Outra característica é o pensar nacional, refletida na trajetória de um pesquisador que sai de Belém e se envolve em um processo de exploração do que seriam grandes serviços nacionais”, destacou.

Gutemberg Brito

 

 O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, ressaltou a visão pioneira de Deane

A segunda palestra da tarde, apresentada pelo pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Urbano Ferreira, trouxe o foco das discussões para a malária, uma doença negligenciada que prevalece em condições de pobreza e contribui para a manutenção do quadro de desigualdade. Segundo o pesquisador, a espécie de parasita causador da doença predominante no Brasil, Plasmodium vivax, está concentrada na região amazônica. Em seu trabalho, Marcelo descreve a epidemiologia da malária em um assentamento agrícola de fronteira na Amazônia brasileira. A base da pesquisa está na análise da transmissão da doença de acordo com características do indivíduo afetado como gênero, idade e tipo de moradia. “De 1970 a 1990 os casos de malária tiveram explosão no Brasil, o grande fator foi a ocupação da Amazônia, com obras e projetos de colonização do espaço. De lá pra cá muita coisa mudou, morre-se pouco de malária no Brasil, mas ainda é preciso manter atenção sobre a doença”, afirmou.

Fechando o ciclo de ideias e homenagens, o parasitologista Erney Camargo da USP resgatou uma versão mais intimista de Leônidas Deane. O pesquisador ainda era estagiário da faculdade de Medicina da USP quando se conheceram em 1954. Entre a descrição de pesquisas com protozoários e histórias de convivência, a palestra de Erney descontraiu a plateia. “Deane sempre se preocupou com os tripanossomas, mas nunca fugimos da responsabilidade social daquilo que estudávamos. Sempre relacionávamos os nossos estudos a enfermidades com grande impacto social como a doença de Chagas e a malária”, finalizou.


Lucas Rocha, Paula Netto e Vinicius Ferreira
26/03/2014
Autorizada a reprodução sem fins lucrativos desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

 

Versão para impressão:
Envie esta matéria:

Instituto Oswaldo Cruz /IOC /FIOCRUZ - Av. Brasil, 4365 - Tel: (21) 2598-4220 | INTRANET IOC| EXPEDIENTE
Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - Brasil CEP: 21040-360

Logos