Publicada em: 07/05/2014 às 12:03 |
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Vigilância permanente contra a poliomielite Última linhagem de poliovírus encontrada no Brasil, nos anos 1980, teve seu genoma sequenciado. Informação é crucial para rastrear a origem do patógeno, no caso de uma reintrodução da doença na população brasileira
Gutemberg Brito
O sequenciamento da última linhagem de poliovírus encontrada no Brasil, nos anos 1980, foi realizada por pesquisadores do Laboratório de Enterovírus do IOC. A informação permite rastrear a origem do patógeno, no caso de uma reintridução da doença na população brasileira Quando o assunto é uma possível reemergência da paralisia infantil, dois caminhos preocupam os cientistas. O primeiro é a possibilidade de, com tantas viagens intercontinentais, o vírus pegar carona na intensa circulação de pessoas. O segundo é bem mais complexo: como a vacina mais comum na atualidade é baseada em um vírus atenuado, é comum que os indivíduos imunizados excretem os vírus através das fezes. A característica é positiva para o efeito de imunização do conjunto da população pois, ao entrar em contato com crianças não vacinadas, em áreas com saneamento básico precário, por exemplo, o vírus atenuado acaba provocando a imunização de um maior número de indivíduos. Ao mesmo tempo, porém, existe o risco de que este vírus vacinal atenuado sofra mutações que o tornem neurovirulento. “De qualquer forma, é fundamental estar vigilantes e preparados para agir”, afirma o pesquisador Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC. Ele lidera o grupo que acaba de realizar o mapeamento completo do genoma de um representante desta linhagem, isolado de uma amostra de 1988. Os achados fazem parte da tese de doutorado de Fernando Tavares, desenvolvida durante o curso de Biologia Parasitária do IOC. O trabalho foi publicado no periódico científico Genome Announcements e as sequências genéticas foram cadastradas no GenBank, um banco online internacional de dados genético.
De acordo com Edson Elias, a vigilância da poliomielite e a vacinação, mesmo nos países que erradicaram o poliovírus, devem continuar enquanto houver patógeno circulando no mundo. “Devido ao trânsito intenso de pessoas pelo globo, o risco de importá-lo é real. Se a população não tiver uma cobertura vacinal excelente, as linhagens selvagens podem ser reintroduzidas em países que já haviam erradicado o vírus”, explica. É o caso da Somália, Etiópia, Quênia e Camarões, que vêm sendo atingidos por epidemias esporádicas locais. Recentemente, a Síria, que passa por um conflito armado, viu a poliomielite ressurgir após 14 anos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de cobertura vacinal, antes dos conflitos, era de 90%. Hoje, atinge apenas 68%. Enquanto isso, Nigéria, Paquistão e Afeganistão, países endêmicos para a poliomielite, registraram 120, 58 e 37 casos, respectivamente, em 2012. Os dados são da Global Polio Eradication Initiative, programa coordenado pela OMS em parceria com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. O mapeamento do genoma da linhagem brasileira – a última linhagem a ser detectada no país – serve, também, para estudos de epidemiologia molecular: é importante conhecer este genoma para identificar a relação que o vírus selvagem que circulava no Brasil tinha com os de outros lugares do mundo. “No caso de uma reincidência da poliomielite aqui, poderemos apontar se a linhagem é local ou se foi importada, seja ela selvagem ou de origem vacinal”, afirma o pesquisador. O virologista explica que a amostra sequenciada foi referente a um dos últimos casos no país – época em que a circulação do vírus era muito reduzida como efeito do sucesso da política de vacinação. “Quando o mundo erradicar o poliovírus, teremos a memória biológica da doença registrada pelo seu genoma”, finaliza Edson Elias. Sobre a poliomielite Isadora Marinho |
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