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Estudo compara métodos para medir infestação por Aedes aegypti

Em avaliação encomendada pelo Ministério da Saúde, pesquisadores da Fiocruz concluíram que técnica de baixo custo que captura ovos do inseto é o melhor método para estimar população do mosquito

O uso de armadilhas para capturar insetos é uma estratégia mais custo-efetiva para monitorar a infestação de mosquitos da dengue do que a amostragem por larvas, método utilizado atualmente no Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa). A conclusão é de um estudo feito para avaliar diferentes técnicas de detecção do inseto e a pertinência de incluir novos métodos no Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD) do Ministério da Saúde. O trabalho foi coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo PNCD. A nota técnica com os resultados e recomendações da pesquisa pode ser acessada aqui e no site do Ministério da Saúde.

Segundo Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coordenadora do projeto, atualmente não existe um método ideal para quantificar a população de Aedes aegypti em uma área. No Brasil, a pesquisa de larvas é utilizada para calcular nível de infestação pelo mosquito e, com isso, estimar o risco de epidemias de dengue, conforme a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, nos últimos anos, novas tecnologias foram desenvolvidas para medir a quantidade de mosquitos no ambiente, e a pesquisa realizada pela Fiocruz, a pedido do Ministério da Saúde, foi desenvolvida para subsidiar a escolha de novas formas de monitoramento no país. “Hoje, a pesquisa larvária é usada como padrão, mas nosso estudo apontou que este é o método menos eficiente para avaliar a infestação por Aedes aegypti. Este índice, além de identificar larvas, e não mosquitos adultos, diretamente, depende muito da busca ativa dos agentes de vigilância, que precisam identificar os criadouros do mosquito para encontrar as larvas. Observamos que todas as armadilhas testadas são mais sensíveis do que a técnica atual”, afirma a pesquisadora.

 

  Ovitrampa é mais sensível e específica para monitorar Aedes aegypti

A pesquisa avaliou três armadilhas vendidas comercialmente para captura de fêmeas adultas de mosquitos – Adultrap, Mosquitrap e BG-Sentinel – e um modelo que captura os ovos postos pelos insetos, chamado de ovitrampa. O trabalho começou em 2009, e as técnicas foram testadas por dois anos e meio, em cinco cidades, representativas das quatro regiões do país com maior incidência de dengue: Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. A conclusão foi que todas as armadilhas refletem a população adulta do vetor da dengue de forma mais eficiente que o LIRAa. Em especial, a ovitrampa é o método mais sensível e específico para monitorar  a população de Aedes aegypti, além de ser o mais barato e o único que não é protegido por patente. De acordo com Denise, apenas a ovitrampa encontrou os mosquitos em todas as situações pesquisadas. Já as demais armadilhas tiveram alguns resultados falso-negativos, uma vez que havia insetos no local, mas elas não conseguiram capturá-los.

Usada desde 1965 em pesquisas em diversos países, a ovitrampa utiliza vasos de planta pretos com infusão à base feno para atrair mosquitos fêmea que buscam locais para por ovos. Dentro dos recipientes, são colocadas palhetas de Eucatex, nas quais os ovos ficam presos. A maior complexidade do método está na identificação da espécie de mosquito a que pertencem os ovos. Em princípio, seria necessário levá-los para o laboratório e esperar pela eclosão, para observar o inseto gerado. No entanto, segundo a chefe do PROCC/Fiocruz, Cláudia Codeço, a capacidade das ovitrampas de capturar principalmente os ovos do Aedes aegypti permite criar uma metodologia para simplificar esta etapa. “Em todas as nossas medições, mais de 90% dos ovos encontrados nas ovitrampas foram de Aedes aegypit, o que mostra que esta armadilha é altamente específica para a espécie. Portanto, recomendamos fazer uma verificação deste tipo apenas uma a duas vezes por ano em cada área e utilizar o fator de correção na pesquisa cotidiana”, explica.

Outra recomendação da pesquisa diz respeito ao treinamento dos agentes de vigilância: para incorporar armadilhas ao Programa Nacional de Controle da Dengue será preciso capacitar os profissionais previamente para utilizar os instrumentos e manter uma avaliação continuada deste trabalho. Segundo Denise, a pesquisa contou com a visita mensal de coordenadores para acompanhar o trabalho dos agentes de vigilância em campo. Foi verificado que, embora dependam menos do esforço e capacitação da equipe do que a identificação de larvas, bons resultados das armadilhas também requerem qualificação e motivação dos profissionais.

A pesquisadora ressalta ainda que, embora sejam chamados de armadilhas, todos os equipamentos avaliados no estudo servem apenas para a vigilância entomológica e não são métodos de combate aos mosquitos, pois não atuam de maneira eficiente para reduzir a população de insetos nos locais onde são instalados. “O nome armadilha remete à idéia de uma ferramenta que vai prender os mosquitos e tirá-los de circulação, mas não é este o propósito. Ela serve apenas para estimar a quantidade de insetos em uma área. Um mosquito não deixa de ir para uma caixa d’água aberta ou para um ralo cheio de matéria orgânica porque existe uma armadilha no ambiente”, destaca Denise.

Também participaram do estudo os pesquisadores Arthur Weiss da Silva Lima, Simone Costa Araújo e José Bento Pereira Lima, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC/Fiocruz; Nildimar Alves Honório e Rafael Maciel de Freitas, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC/Fiocruz; Cláudia Torres Codeço, chefe do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz) e Allan Kardec Ribeiro Galardo, do Laboratório de Entomologia Médica do Instituto de Pesquisas Científica e Tecnológica do Estado do Amapá (Iepa).


Maíra Menezes
22/07/2014
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