Publicada em: 12/08/2014 às 14:34 |
|||||||||
Estudo investiga relação entre genética de pacientes e avanço de sintomas da Aids Associação entre uma variante de um gene e a ausência de sinais de progressão da doença foi encontrada pela primeira vez em pacientes brasileiros Por que algumas pessoas infectadas pelo HIV não apresentam sintomas de Aids mesmo após dez anos sem tratamento, enquanto outras adoecem rapidamente? A resposta para esta pergunta pode ser a chave para o desenvolvimento de vacinas contra a infecção ou de medicamentos capazes de otimizar o tratamento da doença. Entre as possíveis explicações investigadas pelos cientistas estão as diferenças genéticas entre os indivíduos, em especial aquelas que acontecem em uma região altamente variável do DNA chamada de Complexo Principal de Histocompatibilidade ou Antígenos Leucocitários Humanos (HLA, na sigla em inglês). Foi neste trecho do genoma que um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investigou, de forma inédita, a ocorrência do perfil genético HLA- B*52 em pacientes brasileiros. Foi verificado que esta variedade possui uma característica muito especial: está associada à chamada ‘não progressão de longo termo’ da doença, quando os sintomas da síndrome não são desenvolvidos mesmo após dez anos de infecção. O trabalho, coordenado pela pesquisadora Sylvia Teixeira e pela chefe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, Mariza Morgado, foi publicado na revista científica Genes & Immunity.
Gutemberg Brito
Segundo Mariza Morgado, características genéticas de pacientes infectados pelo HIV que não apresentam sintomas da Aids podem ajudar no desenvolvimento de drogas contra a doença Genética e imunidade O mecanismo do HLA funciona da mesma forma em todas as pessoas, mas, dependendo de pequenas variações genéticas, a molécula pode se ligar a antígenos distintos. Ou seja: para sinalizar uma mesma infecção, os indivíduos utilizam fragmentos diferentes das proteínas dos vírus ou das bactérias, o que pode impactar na capacidade de reagir às doenças. No caso do HIV, estudos têm indicado que a variedade genética do HLA pode acarretar diferentes graus de eficácia na sinalização da infecção pelo vírus. “Talvez as moléculas HLA dos pacientes classificados como não progressores de longo termo – aqueles que passam mais de dez anos infectados sem desenvolver sintomas de Aids – estejam apresentando os antígenos ideais para o controle da doença”, pondera Mariza. Esta sinalização certeira poderia ser o ponto de partida para a produção de uma vacina ou de um novo medicamento. Região mais variável do DNA
“Estamos falando da região mais variável do nosso genoma. Até hoje, não foi encontrado outro trecho do DNA com mais variação entre os indivíduos do que o dos genes HLA”, destaca Sylvia. Com tanta diversidade, é como buscar uma agulha em um palheiro: apenas na chamada Classe I locus B, região na qual está incluído o HLA-B*52, existem 3.455 variações do gene HLA. Análise na população brasileira “O resultado foi uma surpresa boa. A associação do perfil genético com a evolução da doença não é uma relação de causa e efeito. Um indivíduo que tem determinada variação genética, como o HLA-B*52, não está automaticamente protegido, mas tem uma probabilidade maior de evoluir para um quadro de ‘não progressão”, afirma Mariza, ressaltando ainda a importância de estudar a associação no Brasil por conta de suas características demográficas. “Os aspectos genéticos dependem muito da população em que estão inseridos. Há genes associados à proteção contra a Aids em caucasianos que não apresentam este mesmo efeito em estudos realizados na África. Especificamente no caso do Brasil, a população é muito mais miscigenada do que em outros países, por isso é importante realizar a análise no nosso contexto”, justifica.
Incógnita Ao mesmo tempo em que persistem as perguntas sobre os efeitos antagônicos da variedade HLA-B*52 em cada população, a relevância dos estudos sobre a região HLA do genoma parece estar bastante clara. Desde o sequenciamento do genoma humano, em 2003, a facilidade cada vez maior para estudar o código genético dos indivíduos estimulou as pesquisas sobre associações entre as variações do DNA e a suscetibilidade ao HIV. Contrariando a expectativa dos cientistas, estes estudos acabaram por reforçar a importância dos genes HLA na reação à doença. “Obviamente, existem vários fatores que influenciam na progressão da Aids, e pensávamos que, ao analisar o genoma completo, seriam encontrados muitos genes envolvidos neste processo. No entanto, um estudo americano extensivo, com milhares de pacientes HIV positivos, apontou que a maioria dos genes associados à progressão da doença está situada no cromossomo 6, que é justamente onde estão localizados os genes do HLA”, diz a pesquisadora. Tudo indica que muitos esforços ainda serão dedicados a este trecho tão variado quanto promissor do genoma humano. Maíra Menezes |
|||||||||