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Malária é tema de edição especial da revista ‘Memórias’

Artigos sobre estratégias para erradicar a doença, investigação de novas drogas e desafios do combate à infecção no Brasil estão entre os destaques

Inteiramente dedicada à malária, a revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ de agosto apresenta, em 21 artigos, diferentes aspectos da doença, incluindo pesquisas inéditas, revisões da literatura e textos de opinião. É a quarta vez que a publicação reserva uma edição especial para o agravo, que, em 2012, atingiu 207 milhões de pessoas no mundo, provocando 627 mil mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os destaques, um artigo de pesquisadores da Espanha e Moçambique analisa as questões cruciais para erradicar a infecção e apresenta uma proposta de ‘check list’ com itens que precisam ser considerados pelos países que decidem enfrentar este desafio. Novas substâncias com potencial para combater o parasito causador da malária são apresentadas em um estudo de cientistas de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Já pesquisadores de Portugal revelam um aspecto inédito da relação entre vetor e parasito: a participação de substâncias chamadas eicosanoides na resposta imune dos mosquitos transmissores à infecção pelo Plasmodium. Entre os trabalhos que abordam o panorama atual da doença, um artigo liderado por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) discute os desafios do Brasil e apresenta o cenário fora da região amazônica, onde a falta de informação continua sendo uma das principais dificuldades para a cura. A publicação, lançada durante o 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), em Rio Branco, no Acre, já está disponível gratuitamente online. Acesse aqui.
 
‘Check list’ para erradicar a malária
Antes considerada impossível, a erradicação da malária vem se tornando o objetivo de um número cada vez maior de iniciativas de enfrentamento da doença. No entanto, além da capacidade técnica, algumas decisões estratégicas são necessárias para se alcançar esta meta, segundo um artigo de pesquisadores da Espanha e Moçambique. Apesar da ausência de uma vacina, os cientistas afirmam que as ferramentas disponíveis – como combinações de drogas, métodos de diagnóstico e de prevenção – podem ser suficientes para eliminar a transmissão, desde que sejam bem direcionadas. Os pesquisadores apresentam uma proposta de ‘check list’ de itens cruciais a serem observados, incluindo a localização de portadores assintomáticos, a melhoria nos sistemas de vigilância, o compromisso político e a garantia de recursos. Os autores ressaltam ainda que as ações de erradicação exigem determinação maior nas suas etapas finais, quando identificar e combater os últimos casos da doença torna-se cada vez mais difícil e dispendioso. Confira o artigo.

Drogas promissoras contra Plasmodium
Em busca de novos fármacos para enfrentar a malária, cientistas do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas) e das universidades federais de Minas Gerais e do Rio de Janeiro sintetizaram 19 substâncias e testaram sua atividade contra parasitos do gênero Plasmodium, causadores da doença. As moléculas foram derivadas do medicamento atavaquone, que já é empregado contra a malária em associação com outra droga. Nos testes ‘in vitro’, dois compostos sintetizados revelaram-se tão eficientes para destruir o Plasmodium quanto a cloroquina, um dos medicamentos mais utilizados contra a infecção atualmente. As duas substâncias apresentaram uma potência menor nos testes ‘in vivo’, mas, ainda assim, conseguiram reduzir em mais de 50% a quantidade de parasitos no sangue de ratos infectados, utilizados como modelo experimental de estudo da malária. Considerando que há cada vez mais parasitos resistentes aos tratamentos disponíveis, os cientistas afirmam que as duas moléculas sintetizadas são promissoras para o desenvolvimento de novos fármacos contra a doença. Veja o estudo.

Aspecto inédito na interação entre parasito e vetor
Assim como ocorre com os seres humanos, os mosquitos anofelinos, transmissores da malária, desenvolvem uma reação imunológica na tentativa de se defender do parasito Plasmodium, causador da doença. Quando os insetos sugam o sangue de uma pessoa infectada, os parasitos se multiplicam em cistos aderidos ao seu intestino, invadem a hemolinfa (semelhante à corrente sanguínea) e chegam às glândulas salivares – de onde são secretados junto com a saliva no momento da picada. No entanto, apenas 2% dos parasitos conseguem atravessar todas estas etapas. Um dos mecanismos que podem explicar este fenômeno é apontado, pela primeira vez, por cientistas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. A pesquisa mostra que substâncias chamadas eicosanoides são capazes de estimular ou bloquear o ciclo dos parasitos nos mosquitos. Estas moléculas são conhecidas por participar da reação inflamatória e da resposta imune em seres humanos e, segundo os pesquisadores, dados de diversos estudos apontam para um papel relevante também na reação dos insetos às infecções. Acesse a pesquisa.

Desafios do combate à doença no Brasil
Embora 99,5% dos casos de malária no Brasil estejam concentrados na região amazônica, a doença também exige atenção nas demais áreas do país. Um artigo de revisão liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) aponta que o total de registros da infecção na área extra-amazônica caiu de cerca de 2.500, em 1996, para 827, em 2013. No entanto, a proporção de mortes cresceu 187% no mesmo período nesse território. A falta de informação sobre a doença permanece como um dos principais desafios para o diagnóstico e a cura da malária fora da região amazônica, e a demora no diagnóstico é um dos fatores que contribuem para os óbitos. De acordo com os pesquisadores, nesta área, apenas 19% dos casos são tratados nas primeiras 48 horas de infecção. Por outro lado, os cientistas alertam que os mosquitos transmissores da malária já foram encontrados em todos os estados do país, o que gera um risco de reintrodução da doença em locais onde a transmissão foi eliminada. Assim, os pesquisadores ressaltam que é necessário reforçar os sistemas de vigilância na área extra-amazônica, para detectar rapidamente as infecções e prevenir a disseminação da malária e as mortes no Brasil. O estudo foi realizado em colaboração com pesquisadores do Programa Nacional de Controle da Malária do Ministério da Saúde, incluindo a coordenadora geral, Ana Carolina Faria e Silva Santelli. Também participaram cientistas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz); da Secretaria estadual de Saúde de São Paulo e da Universidade de São Paulo (USP). Confira o artigo.


Maíra Menezes
25/08/2014
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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