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Estudo ganha menção honrosa no Prêmio Capes 2014

Realizada no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC, tese sobre bactérias Acinetobacter baumannii é parte de Programa de Pós-Graduação do INCQS

Com foco nas bactérias causadoras de infecções hospitalares, a tese de doutorado da engenheira de alimentos Karyne Rangel Carvalho, orientada pela pesquisadora Marise Dutra Asensi, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes de Teses 2014. Intitulado ‘Estudo da diversidade genética, caracterização fenotípica e molecular de mecanismos de resistência a antimicrobianos e virulência em Acinetobacter baumannii isolados em hospitais do Rio de Janeiro’, o trabalho é parte do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). “Antes desta pesquisa, havia apenas um estudo publicado no Brasil sobre bactérias desta espécie. Nosso trabalho foi o primeiro a realizar a caracterização genotípica destes micro-organismos no país e a estudar exemplares do Rio de Janeiro”, conta Karyne. O resultado da premiação foi divulgado no Diário Oficial da União na quinta-feira, 2 de outubro.

Gutemberg Brito

Karyne Rangel Carvalho (à direita) começou a estudar bactérias Acinetobacter baumannii em 2006 sob orientação da pesquisadora Marise Dutra Asensi


Originárias do ambiente, as bactérias Acinetobacter baumannii não eram agentes comuns de doenças em pacientes até aproximadamente dez anos atrás. No entanto, nos últimos anos, elas passaram a ser encontradas com frequência em infecções adquiridas em hospitais, provocando quadros como pneumonia, meningite e sepse (infecção generalizada). “A disseminação destas bactérias ocorreu principalmente por causa da aquisição de genes de resistência a antibióticos. Com isso, a proliferação delas é favorecida em unidades de saúde, onde o uso destes fármacos é intenso”, explica Marise. “Atualmente, nos casos de infecção hospitalar provocados por bactérias gram-negativas, esta espécie é a terceira mais frequente”, pontua.

A pesquisa de doutorado analisou amostras de Acinetobacter baumannii de 141 pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva e enfermarias cirúrgicas de dez hospitais públicos e privados do Rio de Janeiro. Entre estas, 110 foram identificadas como superbactérias resistentes aos carbapenemas, classe de antibióticos mais potente e a principal indicada no tratamento das infecções. “Quando as bactérias são resistentes aos carbapenemas, a opção para a terapia passa a ser a polimixina, um antibiótico antigo e bastante tóxico para o organismo do paciente”, ressalta Karyne.

A análise do DNA das bactérias resistentes mostrou que elas eram portadoras de uma enzima relacionada à capacidade de destruir os antibióticos. Além disso, a pesquisa conseguiu identificar que apenas dois genótipos diferentes eram responsáveis pela grande maioria dos casos, indicando que estas bactérias poderiam ter vantagens adicionais para causar infecções e resistir aos tratamentos. Diferentes estudos moleculares detectaram, entre outras características, uma alta capacidade de formar biofilmes – estruturas em que as bactérias se unem e são envolvidas por uma espécie de ‘capa protetora’ que dificulta a ação de antibióticos e desinfetantes – e de aderir às células pulmonares.

“Estas bactérias conseguem sobreviver em ambientes adversos e podem permanecer por um longo tempo sobre superfícies ou sobre a pele, mesmo sem causar doenças. Isso facilita o carreamento destes micro-organismos entre as unidades de saúde”, diz a autora da tese, explicando que pacientes e profissionais de saúde podem transportar as bactérias de um hospital para o outro.

Segundo a orientadora da pesquisa, a caracterização genética e molecular das bactérias Acinetobacter baumannii pode ter impactos no controle destas superbactérias. “O estudo conseguiu identificar os dois genótipos mais virulentos e algumas características que contribuem para que elas sejam causadoras frequentes de infecções. A partir destes resultados, passamos a conhecer os micro-organismos que precisam ser combatidos”, destaca Marise. Apesar de a tese de doutorado ter se concentrado nas amostras do Rio de Janeiro, análises de cepas de outros estados recebidas pelo Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC durante a realização do trabalho revelaram que os dois genótipos identificados são os mais frequentes nacionalmente. “A comparação realizada com genomas de bactérias de diversos países mostrou ainda que existe uma semelhança entre os micro-organismos mais frequentes no Brasil e aqueles da Argentina. No entanto, estas bactérias possuem genomas diferentes das cepas mais comuns na Europa e nos Estados Unidos, o que revela características regionais”, diz a pesquisadora.

Em busca de mais respostas
Os resultados obtidos durante a pesquisa de doutorado foram divulgados em quatro artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais e desdobramentos do estudo estão em andamento. No Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, o doutorando Thiago Pavoni Gomes Chagas, aluno do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, realiza análises do genoma completo das bactérias Acinetobacter baumannii isoladas de pacientes no Brasil e utiliza técnicas de bioinformática e proteômica para investigar seus mecanismos de virulência. Em pesquisa de pós-doutorado no INCQS/Fiocruz, Karyne estuda alguns mecanismos de virulência em Acinetobacter baumannii e o perfil de susceptibilidade destes micro-organismos a desinfetantes hospitalares.

Maíra Menezes
03/10/2014
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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