Publicada em: 06/11/2014 às 09:17 |
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Pesquisa alerta para risco de DSTs Estudo identificou altas taxas de HPV, HIV e hepatite B entre homens que fazem sexo com homens. Trabalho reuniu seis laboratórios do IOC e foi tema do Centro de Estudos do dia 07/11 Um estudo coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) aponta para a necessidade de ações de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) voltadas para homens que fazem sexo com homens – grupo conhecido como HSH. Publicada na revista científica Plos One, a pesquisa encontrou altas taxas de infecções em um grupo de cerca de 600 voluntários da cidade de Campinas, em São Paulo. O levantamento revelou que 40% deles já tinham sido expostos a pelo menos um dos dois tipos de HPV (papilomavírus humano) mais associados a alguns tipos de câncer. Além disso, 8% foram diagnosticados com HIV – um percentual quase 20 vezes maior que o encontrado na população brasileira em geral – e 11% já haviam sido infectados com hepatite B – uma prevalência aproximadamente dez vezes acima da média para a região pesquisada. Clique aqui para acessar o artigo. Os resultados do trabalho foram apresentados nesta sexta-feira (07/11) no Centro de Estudos pelas pesquisadoras Selma Gomes, do Laboratório de Virologia Molecular; Alcina Nicol, do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas, e Mariza Morgado, chefe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular, além de Adriana Pinho, estudante de pós-doutorado do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde.
Foto: Gutemberg Brito
Parte do grupo responsável pelo estudo, as pesquisadoras Mariza, Elisabeth, Alcina, Sylvia e Selma consideram que a união de capacidades dos laboratórios foi fundamental para traçar um retrato abrangente das infecções entre HSH Para traçar um panorama fiel das doenças sexualmente transmissíveis entre HSH, o estudo envolveu cientistas de seis laboratórios do IOC/Fiocruz, que integram a área de pesquisa em DST. Também colaboraram pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), do Laboratório Municipal de Patologia Clínica de Campinas e da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Além de HPV, HIV e hepatite B, o grupo investigou a ocorrência de hepatite C e infecção pelo vírus HTLV. O esforço conjunto conseguiu detectar que mais da metade dos voluntários tinha pelo menos uma infecção e quase 30% apresentavam uma sobreposição de duas ou mais DSTs. “Nesse grupo de difícil acesso para pesquisas, conseguimos estudar diversas infecções unindo as especialidades dos diferentes laboratórios”, destaca a virologista Selma Gomes, pesquisadora do Laboratório de Virologia Molecular do IOC e coordenadora da pesquisa. O trabalho contou com uma metodologia especial para recrutar voluntários. Trinta homens, incluindo ativistas de organizações LGBT e frequentadores da Parada Gay de Campinas, foram chamados pelos pesquisadores a participar do estudo e convidar outros três voluntários. Durante um ano, cada novo participante indicou até três indivíduos para a pesquisa, em uma estratégia de amostragem conhecida como recrutamento dirigido pelo participante, similar a uma ‘bola de neve’. “Essa metodologia tem se mostrado eficiente para acessar populações cujos comportamentos são estigmatizados, pois a captação é feita pelos próprios pares, que conseguem localizar melhor estes indivíduos”, explica a epidemiologista Adriana Pinho, pós-doutoranda do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do IOC.
HIV: 5% de novas infecções ao ano Vacina pode ser estratégia contra HPV Baixa proteção contra hepatite B Hepatite C e vírus HTLV exigem ações diferenciadas Dos sete pacientes com hepatite C, seis declararam uso de drogas. A chefe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC, Elisabeth Lampe, que realizou a análise das amostras juntamente com a pesquisadora Lia Lewis, do mesmo laboratório, diz que este resultado aponta para uma das principais vias de disseminação da doença atualmente: o uso drogas injetáveis. “A hepatite C é transmitida sobretudo pelo contato sanguíneo. Após a instituição da triagem para a doença nos bancos de sangue, em 1993, as transfusões deixaram de ser um problema. Porém, o uso de drogas injetáveis mantém o vírus em circulação”, afirma ela. A cientista ressalta ainda que todos os pacientes diagnosticados com hepatite C no estudo tinham outras DSTs associadas. “Os usuários de drogas costumam ter menos cuidados com a saúde do que outros grupos. Além disso, o contato sanguíneo pode transmitir outros vírus, como HIV e hepatite B”, explica Elisabeth, acrescentando que campanhas para evitar o compartilhamento de seringas e agulhas são a principal forma de prevenção neste caso, já que não existe vacina para a hepatite C ou o HIV. Já o vírus HTLV foi diagnosticado em oito participantes do estudo. Apesar de pouco conhecido, estima-se que ele infecta entre 500 mil e 2 milhões de brasileiros, mas apenas cerca de 5% deles desenvolvem doenças por causa da infecção. Neste caso, as mais comuns são a mielopatia associada ao HTLV, as dermatites e o linfoma. A pesquisadora Ana Carolina Vicente, chefe do Laboratório de Genética Molecular de Micro-organismos do IOC, esclarece que o HTLV pode ser transmitido por relações sexuais e compartilhamento de agulhas, mas a forma mais frequente de contágio é pelo aleitamento materno. “Durante a amamentação, células de defesa da mãe são transferidas para o filho e entre estas células estão os linfócitos, que são infectados pelo HTLV”, explica. Segundo a pesquisadora, desde 1992, os bancos de sangue do Brasil realizam a triagem para o HTLV e, por isso, não há risco nas transfusões sanguíneas. Para prevenir a transmissão da infecção para os recém-nascidos, a medida mais importante é o teste para diagnóstico durante a gravidez. “Em alguns estados esse procedimento já é previsto em lei, mas não há legislação obrigando a realização do exame em todo o país. Quando o HTLV é diagnosticado na gestante, ela deve ser aconselhada a não amamentar”, afirma a geneticista. Maíra Menezes |
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