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Aliadas no tratamento da hanseníase e tuberculose

Pesquisadores comprovam que as estatinas potencializam o poder de ação do medicamento utilizado no tratamento destas doenças

Algumas das doenças mais antigas da história, a hanseníase e a tuberculose permanecem como uma preocupação para a saúde pública brasileira. Nos últimos anos, a resistência aos medicamentos vigentes tem chamado a atenção de cientistas. Em busca de alternativas que colaborem para resolver esta questão, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) comprovaram que as estatinas, substâncias amplamente usadas para o controle das taxas de colesterol, são capazes de potencializar a ação da rifampicina, principal antibiótico utilizado atualmente no tratamento destas enfermidades. O estudo é resultado da dissertação de mestrado defendida pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC por Lívia Silva Lobato.

A hanseníase e a tuberculose são doenças infecciosas provocadas pelos microorganismos Mycobacterium leprae e Mycobacterium tuberculosis, respectivamente. O tratamento é realizado de forma padronizada por meio da combinação de drogas, entre elas a rifampicina. Coordenador do estudo e pesquisador do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, Flávio Alves Lara, afirma que a resistência crescente aos medicamentos durante os últimos anos é um fator de preocupação. "Para as duas doenças o tratamento atual é tido como eficaz. Apesar disso, o que temos observado é que, após alguns anos, esses pacientes retornam ao centro médico", afirma.

De acordo com o microbiologista, por conta do mecanismo de resistência aos antibióticos, algumas bactérias podem sobreviver ao tratamento e, com o tempo, os pacientes voltam a apresentar sintomas das doenças. Essa resistência pode ocorrer de duas formas: os microorganismos podem, por meio de mutações, alterar o sítio alvo da droga ou se esconder dela, através do acúmulo de moléculas gordurosas (como colesterol) na parede celular, formando uma barreira que impede o acesso do medicamento à célula. É neste ponto que o colesterol entra como uma peça-chave.
 

Gutemberg Brito

Coordenador do estudo, o pesquisador Flávio Alves ressalta que a resistência aos medicamentos vem sendo o grande desafio para os pacientes de tuberculose e hanseníase

Conhecimento em construção

Investigações anteriores haviam constatado que o colesterol apresenta função importante na tuberculose e na hanseníase, uma vez que é importante para a sobrevivência das micobactérias e para seus mecanismos de resistência. A pesquisadora Maria Cristina Vidal Pessolani, chefe do Laboratório de Microbiologia Celular, já havia demonstrado que o M. leprae, ao invadir as células, aumenta consideravelmente o metabolismo e a captação de colesterol. Uma possibilidade, portanto, seria estudar a viabilidade do uso das estatinas como alternativa para o controle das duas doenças. Partindo de todos estes dados, Flavio traz uma nova pergunta: verificar se o uso das estatinas conjugada à rifampicina reduziria a capacidade de ação e de multiplicação das micobactérias, com impactos positivos sobre as lesões teciduais relacionadas às doenças e à resistência ao medicamento.

O pesquisador testou a substância atorvastatina em camundongos divididos em grupos, que foram submetidos a diferentes modalidades de tratamento. Os resultados indicaram que, após o tratamento com a estatina, a viabilidade das micobactérias no organismo dos animais foi diminuída. Com o uso das estatinas de forma isolada, houve redução de 60% na viabilidade. Já quando a atorvastatina foi combinada com a rifampicina, o efeito foi uma capacidade de eliminar as bactérias mediante o uso de uma dose 10 vezes menor que a recomendada atualmente. “O mecanismo de ação das estatinas limitou a oferta de colesterol às bactérias, fazendo com que elas perdessem uma fonte importante para o seu crescimento e multiplicação. Além disso, já era sabido que nessas condições suas paredes celulares tornam-se mais permeáveis à droga, facilitando assim a ação da rifampicina no organismo”, explica o especialista.

Próximos passos

Etapa fundamental para verificar a eficácia de um novo tratamento, os estudos clínicos estão sendo realizados com pacientes com tuberculose atendidos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Os testes com voluntários, que estão sendo realizados com o uso da atorvastatina associada ao tratamento vigente (combinação de antibióticos por cerca de seis meses), indicarão se a nova estratégia conseguirá diminuir as lesões observadas nos pacientes, incluindo os danos ao tecido pulmonar e a redução de funções respiratórias.

Flávio ressalta os benefícios que a estratégia pode trazer para os pacientes: "As estatinas são substâncias já presentes no mercado, eficientes, de baixo custo e seguras. Esperamos combater o aumento da resistência, aumentando a eficácia do tratamento, reduzindo posteriormente o seu tempo e o seu custo, aumentando a adesão dos pacientes”, conclui o pesquisador.


Paula Netto
24/06/2015
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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