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Tese do IOC vence prêmio promovido pelo MS

Pesquisa de métodos para diagnóstico precoce da dengue foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical. Artigo sobre papel do colesterol na hanseníase recebeu menção honrosa

Vencedora do ‘Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS’ de 2014, a pesquisa de doutorado da bióloga Monique da Rocha Queiroz Lima realizou uma ampla avaliação de diferentes marcas de testes capazes de diagnosticar a dengue logo nos primeiros dias da infecção. Defendida pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a tese também apresentou inovações para melhorar a sensibilidade dos exames e para utilizá-los na confirmação de óbitos por dengue e na vigilância dos mosquitos Aedes aegypti, transmissores da doença. O resultado da premiação promovida pelo Ministério da Saúde foi anunciado no dia 12 de novembro durante o evento ‘Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde’, que reuniu cerca de 800 pesquisadores, representantes do setor produtivo e gestores de saúde, em Brasília. A entrega dos certificados foi realizada pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, e pelo o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, Carlos Gadelha. “Foi emocionante receber este prêmio. É um reconhecimento por anos de dedicação, trabalhando na bancada e escrevendo. Além disso, confirma que a pesquisa foi importante para a sociedade”, diz Monique.

Foto: Erasmo Salomão/Ministério da Saúde

Promovido pelo Ministério da Saúde, prêmio destaca mérito científico
com contribuição para o Sistema Único de Saúde

Além do primeiro lugar na categoria tese de doutorado, o IOC conquistou uma menção honrosa na premiação. Um artigo liderado por pesquisadores do Laboratório de Microbiologia Celular do Instituto foi destacado no grupo de trabalhos científicos publicados. O estudo mostrou que o acúmulo de colesterol nas células infectadas pelo Mycobacterium leprae contribui para a persistência da infecção causadora da hanseníase. Além disso, a pesquisa apontou que drogas de baixo custo disponíveis no mercado podem contribuir para o tratamento da doença.

Investigação pioneira em dengue
A tese ‘Antígeno NS1 dos Vírus Dengue: desempenho de testes disponíveis comercialmente e aplicações alternativas para o diagnóstico precoce das infecções por dengue’ foi orientada por Flávia Barreto, pesquisadora do Laboratório de Flavivírus do IOC, e co-orientada por Rita Nogueira, chefe do mesmo Laboratório. As pesquisadoras explicam que os testes analisados detectam uma proteína do vírus da dengue, chamada de antígeno NS1. Desta forma, conseguem diagnosticar a doença na fase inicial. “Quando o vírus começa a se replicar no organismo, a proteína NS1 viral é liberada no sangue do paciente. Como isso ocorre precocemente, nos primeiros dias de febre, a confirmação da infecção pode ser feita rapidamente”, afirma Flávia.

A investigação sobre os testes do antígeno NS1 foi iniciada por Monique ainda no mestrado. De acordo com Rita, os primeiros exames com esta abordagem chegaram ao Brasil entre 2007 e 2008, mas não havia estudos abrangentes sobre a eficácia deles no país. “Além da comparação entre as metodologias dos diferentes fabricantes, faltava uma avaliação sobre a sensibilidade dos testes para detectar os vírus da dengue presentes no Brasil”, conta a pesquisadora, ressaltando que, até 2010, o país tinha três sorotipos do patógeno circulando simultaneamente. Defendida em 2009, no mesmo programa de pós-graduação, a dissertação de Monique apresentou a primeira avaliação ampla dos exames no Brasil, apontando uma sensibilidade satisfatória para a detecção dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus da dengue.

Inovação acessível
No doutorado, o estudo foi aprofundado, incluindo também o sorotipo 4 do vírus. Detectado no país, em Roraima, em 1982, este sorotipo do vírus voltou a ser identificado no mesmo estado, em 2010, e se espalhou rapidamente por todo o território nacional. Neste caso, porém, os testes para diagnóstico precoce da doença apresentaram um desempenho abaixo do esperado, identificando apenas 46% das infecções, segundo uma avaliação realizada no Laboratório. Analisando o resultado, as pesquisadoras consideraram que o motivo da baixa sensibilidade poderia ser a alta frequência de casos de infecções secundárias devido às sucessivas epidemias de dengue no Brasil. “Grande parte da população brasileira já teve pelo menos um tipo de dengue e possui anticorpos contra a doença. Embora não sejam específicos para o dengue 4, estes anticorpos se somam àqueles produzidos durante a infecção corrente e podem se complexar à NS1, reduzindo a quantidade de proteínas livres, que podem ser detectadas pelos testes”, explica Flávia.

A solução encontrada por Monique para o problema mostrou-se simples, econômica e eficiente: basta ferver as amostras de soro dos pacientes por cinco minutos antes da realização dos exames para aumentar a chance de diagnosticar a infecção. “O calor é capaz de dissociar os antígenos dos anticorpos, aumentando a quantidade de proteínas livres no soro. Com este procedimento, que pode ser realizado também em unidades básicas de saúde, a sensibilidade dos testes passou para mais de 70%”, afirma a autora.

Foto: Arquivo pessoal

Laboratório de Flavivírus do IOC foi reconhecido pela segunda vez no 'Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS'

Aplicações para a saúde pública
O uso dos testes de detecção do antígeno NS1 para confirmar mortes por dengue também foi uma inovação apresentada na pesquisa. Segundo Flávia, esta aplicação não era prevista pelos fabricantes dos exames, mas pode ser uma ferramenta útil. “Nós observamos que é possível fazer o diagnóstico a partir de órgãos de pacientes que morreram por causa da infecção, como timo, rim, fígado, cérebro e pulmão. Portanto, esta é mais uma técnica que pode ser utilizada para confirmar ou descartar um caso fatal da doença”, relata a orientadora do projeto. O estudo demonstrou ainda a utilidade dos exames para identificar a infecção nos mosquitos Aedes aegypti, o que pode contribuir para avaliar os riscos de transmissão da doença em áreas infestadas por estes vetores.

Resultados da tese foram publicados em cinco artigos em revistas científicas. Rita ressalta que as informações auxiliam o Ministério da Saúde a definir estratégias para uso dos testes de captura do antígeno NS1. Atualmente, estes exames são utilizados em unidades de saúde chamadas de sentinela, que têm o papel de monitorar a ocorrência de casos da doença para orientar as políticas públicas. “Estes testes levam, em média, de 15 minutos a duas horas para apresentar o resultado. Além de ajudar na tomada de decisões para o manejo individual dos pacientes, esta rapidez é muito importante para a coletividade, pois permite mobilizar as equipes de controle do Aedes aegypti e reduzir a disseminação da doença”, destaca.

A conquista do primeiro lugar na categoria tese de doutorado levou o Laboratório de Flavivírus do IOC a ser reconhecido pela segunda vez na premiação. Em 2007, um artigo que partiu de resultados da tese de doutorado de Flávia já tinha recebido menção honrosa na categoria trabalho científico publicado. “Produzir conhecimento científico que atenda às demandas do Ministério da Saúde e do país é uma preocupação constante do Laboratório. Por isso, ficamos muito satisfeitos com este reconhecimento”, declara Rita.

Novas opções contra a hanseníase
Ganhador de uma menção honrosa na categoria trabalho científico publicado, o artigo ‘Sobrevivência intracelular do Mycobacterium leprae depende do acúmulo de colesterol em macrófagos infectados: potencial alvo para novas drogas para o tratamento da hanseníase’ foi divulgado na revista Cellular Microbiology, onde foi eleito ‘editor’s choice paper’ (acesse aqui). Liderado por pesquisadores do Laboratório de Microbiologia Celular do Instituto Oswaldo Cruz, o estudo foi realizado em parceria com cientistas dos laboratórios de Hanseníase e de Imunofarmacologia do IOC; do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz); da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz); da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro); do Instituto Lauro de Souza Lima, de São Paulo; e das universidades de British Columbia e Victoria, do Canadá.

A pesquisa mostra que o micro-organismos causador da hanseníase altera o metabolismo do colesterol, levando ao acúmulo destas moléculas no interior das células infectadas. De acordo com os pesquisadores, esta é uma estratégia eficiente do M. leprae para obter lipídeos (moléculas gordurosas) que podem ser usados como fonte de energia e carbono. Uma vez que esta alteração metabólica favorece a sobrevivência do patógeno, o estudo aponta um caminho para potencializar o tratamento da hanseníase. O trabalho revela que a lovastatina – um medicamento de baixo custo amplamente utilizado para reduzir os níveis de colesterol no sangue – favorece a destruição do M. leprae nas células infectadas. Segundo os autores, os resultados indicam que medicamentos deste tipo poderiam ser usados como drogas adicionais contra a doença, reduzindo a duração da terapia e a frequência de casos em que a infecção volta a se manifestar mesmo após o tratamento completo.

Sobre o prêmio
O ‘Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS’ foi criado pelo Ministério da Saúde em 2002 com o objetivo de valorizar os cientistas e as pesquisas que contribuem para o desenvolvimento das políticas públicas de saúde do país. Além da tese de doutorado, são premiadas as categorias de dissertação de mestrado, artigo científico publicado e monografia de especialização ou residência. Os vencedores são escolhidos em duas etapas. Na primeira, dois especialistas elegem os 20 melhores trabalhos. Já na segunda, o ganhador é escolhido por uma comissão julgadora composta por representantes de 16 instituições, entre elas, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Os vencedores do prêmio recebem uma quantia em dinheiro e cedem os direitos autorais de seus trabalhos ao Ministério da Saúde, que pode publicá-los e utilizá-los livremente nas políticas públicas do setor.

Maíra Menezes
19/11/2014
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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