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Em busca de tratamentos para doenças negligenciadas

Pesquisadores das Américas, Europa e África debateram, durante o II Workshop ResNet NPND, o uso de produtos naturais como base para novas drogas contra Chagas, doença do sono, leishmaniose e malária

Centenas de moléculas derivadas de plantas já foram apresentadas na literatura científica com atividade contra protozoários causadores das doenças de Chagas e do sono, da leishmaniose e da malária. Publicada em dois artigos na revista científica Current Medicinal Chemistry em 2012, a compilação foi realizada por integrantes da Rede de Pesquisas de Produtos Naturais contra Doenças Negligenciadas (conhecida pela sigla em inglês ResNet NPND), da qual fazem parte pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O coordenador da rede, Thomas Schmidt, da Universidade de Münster, na Alemanha, comenta que apenas cerca de 5% das plantas foram estudadas até hoje. “Ainda há uma vasta diversidade a ser explorada, com muitos tesouros escondidos esperando por nós”, afirmou durante palestra realizada no Centro de Estudos do IOC, na última sexta-feira (28/11), que encerrou o II Workshop ResNet NPND.

Foto: Gutemberg Brito

Em sua palestra, Schmidt lembrou que, segundo a OMS, cerca de um bilhão de pessoas sofrem com doenças negligenciadas no mundo

Realizado de 25 a 28 de novembro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o encontro reuniu pesquisadores das Américas, Europa e África. Os cientistas discutiram dados referentes a diferentes moléculas em investigação com potencial de ação sobre parasitos causadores de doenças negligenciadas. Também estiveram em pauta técnicas para identificação e isolamento de componentes bioativos, métodos para avaliação de moléculas in vitro e in vivo e aspectos da biologia dos parasitos que podem ser utilizados como alvo para novas drogas, entre outros temas.

Uma das organizadoras do workshop, a chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, Maria de Nazaré Soeiro, afirma que a interação multidisciplinar e o uso de diferentes abordagens metodológicas são aspectos fundamentais para avançar nas pesquisas. “A busca por novos fármacos se faz através da complementariedade de competências e expertises em diversas áreas. Nosso Laboratório, por exemplo, tem ampla experiência em ensaios pré-clínicos de drogas antiparasitárias, utilizando modelos experimentais in vitro e in vivo. Sempre trabalhamos em forte parceria com redes nacionais e internacionais de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, interagindo com grupos de química medicinal, parasitologia e farmacologia, entre outros”, relata Nazaré. Além da identificação de novos candidatos a medicamentos, as colaborações buscam a caracterização físico-química das moléculas, a validação de seus alvos e a otimização dos compostos mais promissores, visando conferir maior potência e seletividade.

Também organizadora do evento, a pesquisadora Solange Lisboa de Castro, do mesmo Laboratório, explica que a padronização das substâncias derivadas da natureza é um desafio, mas muitos exemplos mostram que é possível superá-lo. “Podemos citar a artemisinina – principal droga contra a malária, originalmente extraída de uma planta chinesa – e o taxol – um potente medicamento contra o câncer, identificado em plantas da costa dos Estados Unidos. A natureza é uma fonte riquíssima de substâncias anti-inflamatórias, antitumorais e antiparasitárias”, declara.

Foto: Gutemberg Brito

Químicos, parasitologistas e biólogos moleculares de 15 países colaboram e trocam experiências na ResNet NPND

Rede internacional de colaboradores
Criada em 2011, a ResNet NPND quase dobrou de tamanho desde então. A rede começou com 24 cientistas, incluindo, principalmente, líderes de grupos de pesquisa do Brasil e da Alemanha. Já em 2014, este número chegou a 44, alcançando outros países das Américas e da Europa, além da África e da Ásia. Para o coordenador da iniciativa, a diversidade do grupo é um aspecto relevante para as pesquisas. “Na lógica comercial, a competição é o estímulo da inovação. Já na busca de tratamentos contra doenças negligenciadas, pensamos que a colaboração científica é a melhor estratégia”, diz Schmidt.

Presente à sessão de encerramento do II Workshop ResNet NPND, o diretor do IOC, Wilson Savino, elogiou a iniciativa e destacou a importância dos aspectos econômicos no enfrentamento das doenças negligenciadas. “O foco atual da rede é desenvolver medicamentos contra estas infecções. Quando este objetivo for alcançado, será preciso pensar em como abordar a produção em larga escala e a patente destes novos fármacos, para que os tratamentos sejam acessíveis para as populações afetadas”, comentou.


Maíra Menezes
02/12/2014
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