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Palestras sobre história da região de Manguinhos na comemoração dos 106 anos do Instituto Oswaldo Cruz

Integrando as comemorações dos 106 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e a Semana do Patrimônio da Fiocruz, o Centro de Estudos apresenta edição especial nesta sexta-feira, dia 26, em parceria com a Casa de Oswaldo Cruz (COC). Sobre o tema O nascimento da região de Manguinhos palestram o pesquisador Renato Gama Rosa, chefe do Patrimônio da COC, e Joaquim Justino, historiador da Universidade Gama Filho e autor de um estudo sobre o subúrbio do Rio de Janeiro. O coordenador é Ricardo Lourenço, vice-diretor de Políticas de C&T em Saúde do IOC. O evento acontece às 10h, no auditório do Pavilhão de Cursos.

Renato apresentará o tema A Formação do Campus da Fiocruz em Manguinhos: 1900 - 2000 , sobre uma pesquisa iniciada em 1998. "A idéia era aproveitar o primeiro centenário da Fiocruz para contar a história da instituição do ponto de vista da ocupação geográfica e dos aspectos arquitetônicos". A partir daí, foi publicada em 2003 a obra Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos (Coleção História e Saúde, Editora Fiocruz), redigido por Renato e Alexandre José de Souza Pessoa sob coordenação de Benedito Tadeu de Oliveira. O conteúdo reunido no livro será base para a palestra do historiador.

arquivo/COC
Instalações da fazenda desapropriada onde tiveram início as atividades do Instituto Soroterápico Federal que mais tarde se transformaria no Instituto Oswaldo Cruz

O historiador Joaquim Justino mostrará na palestra Contribuição ao estudo da história do subúrbio do Rio de Janeiro: as freguesias de Inhaúma e Irajá um importante trabalho sobre a evolução da região onde está localizada a Fiocruz. A pesquisa contribui para compreender o contexto em que se deu a ocupação de Manguinhos.

Antecedentes

O IOC surgiu como Instituto Soroterápico Federal (ISF) em 25 de maio de 1900 com a meta de desenvolver vacinas e soros para as doenças que afastavam os navios estrangeiros dos portos brasileiros, causando prejuízos incalculáveis ao comércio internacional. O Instituto foi fundado pelo barão de Pedro Afonso, um famoso cirurgião carioca que desde 1894 dirigia o Instituto Vacínico Municipal, voltado para a obtenção de soros contra a peste bubônica. O local escolhido era uma fazenda desapropriada pelo governo no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, onde mais tarde seria construído o Castelo Mourisco, até hoje símbolo e sede da Fiocruz.

Por indicação do cientista francês Louis Pasteur, que pela primeira vez relacionara micróbios e condições de higiene à ocorrência de doenças, o bacteriologista paulistano Oswaldo Gonçalves Cruz assumiu a direção técnica do ISF. Logo ele e o barão de Pedro Afonso se desentenderiam e ambos pediriam demissão. O governo federal, no entanto, elegeu Oswaldo Cruz como novo diretor do Instituto em 1902 e, no ano seguinte, promoveu-o a diretor-geral de Saúde Pública, cargo que hoje corresponderia ao de ministro da Saúde. Sua incumbência era sanear a capital e erradicar as três principais doenças do país: varíola, febre amarela e peste bubônica.

O ISF foi transformado em Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em 1908 pelo presidente Afonso Penna. Oswaldo Cruz deixa a Diretoria-Geral de Saúde Pública, assumindo exclusivamente a direção do Instituto e dando início a uma série de expedições científicas pelo interior do Brasil, saneando lugares inóspitos como a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em plena selva amazônica, conhecida como Ferrovia da Morte devido ao grande número de trabalhadores que morreram por febre amarela durante sua construção. Em outra expedição, desta vez ao interior de Minas Gerais, foi descoberta a doença de Chagas, que leva o nome do cientista pioneiro em seu estudo, Carlos Chagas, discípulo de Oswaldo Cruz.

Ao assumir a direção do Instituto Soroterápico Federal, Oswaldo Cruz deu início à construção de novas instalações para as pesquisas, que eram feitas precariamente nas antigas casas de fazenda. Assim surgiu o que hoje é o conjunto histórico de Manguinhos, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1984: o prédio da Cavalariça, onde eram mantidos cavalos inoculados para a produção do soro anti-pestoso; o Pavilhão da Peste, onde o soro era fabricado a partir dos anticorpos produzidos pelos cobaias; e, finalmente, o Castelo Mourisco, obra que Oswaldo Cruz idealizou como um símbolo da ciência brasileira, mas que viu inacabada. Ele morreu um ano antes do final da construção, em 1918.

O pesquisador da COC vai abordar em sua palestra toda a evolução do campus, utilizando um amplo acervo de mapas e imagens. A palestra também mostrará a formação de instalações, como o Pavilhão Gomes de Faria (1962) e do próprio Pavilhão de Cursos (1948), onde o Centro de Estudos é realizado. "Muitas pessoas vão se surpreender", comenta. Muitas reformas? "Várias. Desde 1986 estamos passando por reformas. As reformas são, na verdade, em etapas, até porque não dava para fazer tudo o que se desejava ao mesmo tempo".

Renato comenta que, durante as pesquisas, os autores encontraram materiais e outros artigos inéditos que praticamente ninguém conhecia. "Com isso, o trabalho foi enriquecendo. Inclusive com algumas fotos aéreas ótimas", diz. As fontes são principalmente arquivos públicos, como o Arquivo Geral da Cidade e o próprio Arquivo da Fiocruz, além do CPDOC, da FGV. "Ajudamos a identificar várias imagens de outros arquivos, incluindo algumas plantas arquitetônicas que estavam na Diretoria de Administração do Campus (DIRAC) da Fiocruz", completa.

Paisagem em transformação

Por meio das fotografias, é possível visualizar uma antiga ilha pertencente à Fiocruz - a Ilha do Pinheiro -, no local onde hoje está situada a Fazenda do Pinheiro. "Esta ilha foi sofrendo um processo de assoreamento e acabou engolida pelo continente. Esse processo se deu principalmente a partir da década de 40 e 50, mas a poluição foi muito maior na década de 70 e 80" , Renato conta. Lá era mantida uma colônia de macacos rhesus , utilizados em pesquisas experimentais. As imagens também mostram a mudança da paisagem, com o surgimento da Favela do Amorim e a construção do Viaduto de Bonsucesso.

arquivo/COC
Primorosa obra em estilo eclético e ornamentado ricamente segundo a tradição árabe, o Castelo Mourisco começou a ser construído em 1905

"Além dos arquivos pesquisados, entrevistamos arquitetos que trabalharam aqui entre a década de 30 e a década de 70, como Jorge Ferreira e Roberto Nadalutti", Renato acrescenta. Eles compunham a equipe de arquitetos da Divisão de Obras do antigo Ministério da Educação e Saúde. Nos anos 50 houve a separação dos Ministérios. Em 1977, a Divisão de Obras foi extinta. Atualmente, alguns dos projetos são elaborados pela própria Casa de Oswaldo Cruz (COC), outros são desenvolvidos sob a coordenação da DIRAC.

Mudanças na cidade e no campo

O professor Joaquim Justino, autor da pesquisa Contribuição ao estudo da história do subúrbio do Rio de Janeiro: as freguesias de Inhaúma e Irajá , conta que, no início do século XIX, as freguesias rurais de Inhaúma e Irajá desempenhavam um papel importante em relação à agroexportação de produtos primários nas grandes fazendas e engenhos e, ao mesmo tempo, em relação ao abastecimento interno. "A Fazenda Engenho da Pedra, por exemplo, cuja extensão chegava à Fazenda do Engenho Novo, era uma grande produtora de açúcar e servia ao mercado externo", afirma.

O processo de transformação de uma sociedade de estrutura rural e escravista em uma sociedade urbana e de trabalhadores em processo de emancipação se deu primeiro em Inhaúma, afirma Justino, freguesia mais próxima ao centro comercial, para depois chegar ao Irajá. Estas transformações durante o século XIX geraram um mercado mais amplo e acabaram por criar regiões rurais especializadas na geração de produtos que abasteciam a cidade.

Na cidade, no entanto, ainda reinava uma contradição fundamental: ao mesmo tempo em que existia um conjunto cada vez maior de trabalhadores livres, ainda permaneciam resquícios das relações escravistas. "Isso forçou novas relações espaciais, dando origem a problemas de habitação que estavam relacionados ao modo capitalista de habitar", diz. Agora, a indústria estava se concentrando cada vez mais na região central da cidade, o que forçou moradores da região a irem para áreas mais afastadas ou para favelas próximas.

Apesar da pressão e de outras medidas anteriores, Justino conta, foi a intervenção estatal do prefeito Pereira Passos (1903-1906) o fator determinante para o deslocamento em massa da população para fora da cidade, aprofundando a segregação social no Rio de Janeiro. "O Estado quis esvaziar a cidade como moradia de trabalhadores, mas não como mercado", ressalta. Já em 1890, a explosão populacional era uma realidade. Entre 1872 e 1890, sua população duplicou, passando de 274 mil para 522 mil habitantes.

 

Por Gustavo Barreto e Raquel Aguiar
22/05/06

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