Com o saldo de ter contribuído para a carreira de mais de 250 estudantes de mestrado e doutorado de diversas partes do país, o Seminário Laveran & Deane festeja o aniversário de 20 anos
O evento é único. O cenário, exuberante. Realizado em um ambiente que proporciona total imersão no debate científico, o Seminário Laveran & Deane sobre Malária, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), chegou, em 2015, à marca de 20 anos de contribuições para a pesquisa e o ensino de pós-graduação em malária no país. Para celebrar a conquista, a 20ª edição do evento foi seguida de uma comemoração que reuniu cerca de 140 participantes, entre 17 e 19 de setembro, na Ilha de Itacuruçá, Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro – local que, há dezoito anos, é palco das discussões do encontro. Para prestigiar o evento, participaram representantes do Instituto Pasteur, em Paris e da Guiana Francesa, de outras instituições francesas, do Consulado da França, do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, além de pesquisadores de importantes institutos de pesquisa e ensino do Brasil, incluindo a Universidade de São Paulo (USP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Instituto Evandro Chagas (IEC) e da própria Fundação Oswaldo Cruz.
A inovação de formato é a principal marca do Seminário Laveran & Deane – ou, simplesmente, ‘o Laveran’, como os participantes costumam chamar o evento de forma afetiva. Nele, estudantes do primeiro ano de mestrado ou do segundo de doutorado têm a oportunidade de apresentar suas dissertações e teses para pesquisadores sêniores na área. O resultado é uma troca intensa, que permite o aperfeiçoamento da qualidade científica dos estudos.
Certamente não é coincidência que o coordenador e idealizador do Seminário, o pesquisador Cláudio Tadeu-Daniel Ribeiro, nutra a paixão pela pesquisa em malária desde o mestrado. “Todos os anos, cientistas brasileiros e estrangeiros saem de seus locais de trabalho para se dedicarem integralmente a esse Seminário. Cada um deles colaborou para o aprimoramento dos projetos apresentados aqui”, ressalta o malariologista, que é chefe do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC, membro da Academia Nacional de Medicina e presidente da Federação Internacional de Medicina Tropical.
Foto: Josué Damacena |
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Cláudio Ribeiro agradece a participação de todos os pesquisadores que já passaram pelo Seminário: "Sem eles não seria possível" |
Foto: Josué Damacena |
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Depois de concluir o doutorado, Bargieri já participou mais duas vezes do Laveran: "Se for possível, estarei sempre aqui" |
Estreante em participações, a aluna de doutorado na Universidade do Estado do Amazonas, Djane Clarys Baia da Silva, ficou entusiasmada com a iniciativa. “O Laveran foi um misto de sonho e realidade. Aqui, recebemos críticas construtivas sobre o nosso projeto e, depois, voltamos para a nossa cidade de origem, a nossa universidade, prontos para colocar em prática as orientações recebidas. Além disso, a interação professor-aluno se torna algo possível”, destaca. “Essa é uma experiência única que todos os alunos do Brasil deveriam ter”, enfatiza.
Juntamente com Djane, outros 14 estudantes de diversas partes do país participaram, de 13 a 17 de setembro, das atividades tradicionais do Seminário. Cada um deles teve dez minutos para exposição de seu projeto. Em seguida, enfrentaram um debate de no mínimo 40 minutos, no qual alunos e professores puderam fazer críticas e sugestões.
Hermano Albuquerque, que cursa doutorado no IOC, também passou pela intensa sabatina. “Se o aluno pretende se tornar um pesquisador, ele tem que se habituar a ouvir críticas, a fim de transformá-las em algo positivo. Neste evento, o objetivo dos professores é de nos ajudar a melhorar o nosso trabalho. Sem crítica não há ciência”, aponta. Eleitos alunos revelação nesta edição do evento, Djane e Hermano podem voltar ao Seminário, após o doutoramento, com uma função bem diferente: a de professores relatores, responsáveis por documentar as discussões dos grupos.
Foto: Josué Damacena |
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Em momento de descontração, alunos festejam com Djane e Hermano. Antes, o clima era de nervosismo devido às apresentações |
Divulgação |
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Primeiro à esquerda, Leonardo Carvalho posa para foto junto aos primeiros participantes do Seminário, em 1995 |
Há quase uma década, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM/SVS/MS), acredita no potencial do Seminário na formação de futuros pesquisadores. Desde 2008, ainda sob coordenação do médico sanitarista José Lázaro de Brito Ladislau, o Programa, além de ter se tornado o principal patrocinador do Evento, envia representantes a cada edição do encontro.
A atual coordenadora do Programa, Ana Carolina Santelli, explica o motivo. “O Laveran & Deane vai além de um evento de pós-graduação Stricto sensu. Ele é responsável por criar uma rede de colaboração para a pesquisa na área, formar massa crítica e melhorar a operacionalização do PNCM a partir da interlocução entre os seus integrantes”, diz. “A malária é um dos grandes problemas de saúde pública da Região Amazônica. A união de estudantes e professores dessa e de outras localidades proporciona uma interação científica de extrema relevância”, acrescenta o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda.
A atividade também recebe apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Governo Francês, Norte Energia S.A, Grupo Sanofi, Fiocruz, Instituto Oswaldo Cruz e Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
Um mar de desafios
Incansáveis, a pesquisadora Fátima Cruz e a secretária-executiva Cláudia Castro estão ao lado de Cláudio Ribeiro na organização do Seminário nos seus 20 anos de estrada. “Sob o ponto de vista da organização, o Seminário Laveran & Deane se compara a uma escola de samba. Quando acaba o desfile, eles já começam a pensar no próximo ano. Assim também acontece com o nosso evento”, brinca Fátima, que lembra também de alguns obstáculos que precisam ser superados a cada edição. “Realizamos um trabalho diário de pesquisa e capacitação de estudantes e profissionais em todos os níveis dentro do Laboratório, e isso não pode parar. Além disso, a obtenção e o recebimento a tempo de recursos financeiros é uma grande barreira que precisa ser superada. Todo ano é uma grande batalha”, observa.
Nos meses que precedem o evento e também durante este, Cláudia é a responsável por cuidar de cada detalhe logístico. “A tarefa não é nada fácil. É muito trabalho. A cada edição é um novo desafio, mas me sinto recompensada quando vejo as palmas e ouço as saudações e manifestações de carinho e afeto pelo bom trabalho desenvolvido. Por mais que haja um problema ou outro, creio que o final é sempre positivo”, ressalta.
Foto: Josué Damacena |
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No alto, à esquerda, Claudio Ribeiro e Fátima Cruz em um dos momentos de comemoração. Abaixo, estudantes se juntam em 'selfie' de confraternização. Ao centro, o hotel onde o evento é realizado. Abaixo, à direita, professores e alunos com certificados de participação ao final das atividades regulares do Seminário, que ocorreram de 13 a 17 de setembro |
O ano era 1995, e o Instituto Oswaldo Cruz completava seu 95º aniversário. Em meio às comemorações, Cláudio, então Diretor do IOC, criou os ‘Seminários do Instituto Oswaldo Cruz’, abrindo espaço para o surgimento do Seminário Laveran, inspirado em uma iniciativa francesa criada dois anos antes pela Fundação Internacional Laveran. Cinco anos mais tarde, o encontro ganharia seu nome definitivo, homenageando dois expoentes da pesquisa em malária: o cirurgião Charles Louis Alphonse Laveran, militar francês que identificou e descreveu pela primeira vez o parasita Plasmodium a partir de amostra de sangue de um paciente, em 1880, e o saudoso Leônidas de Mello Deane, um dos maiores parasitologistas e malariologistas do mundo.
Ricardo Lourenço, que conviveu profissionalmente com Leônidas Deane até seus últimos dias, conta com alegria que o médico se sentiria lisonjeado com a homenagem. “Ele seria um entusiasta deste seminário. Ele era uma pessoa que se dedicava à formação de recursos humanos, que é a principal meta deste evento. O professor Deane conseguiu formar uma escola”, sintetiza Ricardo, que ficou honrado em receber o título de professor emérito dos Seminários Laveran & Deane.
Em 20 anos de história, os Seminários tiveram 268 participações de estudantes, 46 participações de monitores/relatores, 235 participações de (105) professores, 46 alunos ouvintes e 11 profissionais observadores. Do total de alunos, 61% estavam matriculados no mestrado e 39 % no doutorado, sendo a USP a instituição que mais enviou discentes, com 25,4%, seguida da Fiocruz, com 17,9%.
Vinicius Ferreira
24/09/2015
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