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Especialistas internacionais debatem o enfrentamento da leptospirose

Mudanças climáticas e fenômenos como o El Niño aumentam preocupação com a doença, que é transmitida por água contaminada pela urina de roedores

Especialistas internacionais estão reunidos no Rio de Janeiro de 10 a 12 de novembro para discutir um roteiro de ação que direcione as políticas públicas, as pesquisas científicas e o desenvolvimento tecnológico para o enfrentamento da leptospirose. Promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Rede Global de Ação Ambiental em Leptospirose (Glean, na sigla em inglês), o Workshop Internacional para Pesquisa em Leptospirose com Base nas Necessidades dos Países será realizado de forma integrada à 5ª Reunião da Glean, que terá o IOC como anfitrião. Durante o encontro, um levantamento realizado pela Opas sobre as demandas dos países para combater a doença será apresentado. “Esta é uma iniciativa inédita para unir pesquisadores e autoridades de saúde pública da Opas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), assim como de países das Américas, Europa, Ásia e África com o objetivo de produzir um documento que possa orientar a busca científica e as políticas de saúde para mudar o quadro atual na luta contra a leptospirose”, ressalta a organizadora do evento Martha Pereira, pesquisadora do Laboratório de Zoonoses Bacterianas do IOC e diretora do Centro Colaborador da OMS para Leptospirose.

A pesquisadora faz um alerta: fenômenos como o El Niño, que ocorre este ano, são motivo de preocupação. “Os surtos epidêmicos de leptospirose estão quase sempre relacionados com eventos climáticos que resultam em inundações. O El Niño é bastante conhecido por provocar chuvas intensas nas regiões tropicais do continente americano, aumentando o número de alertas globais e de surtos epidêmicos da doença”, explica a especialista. Com uma taxa de mortalidade que varia entre 5% e 30%, a leptospirose é um desafio cada vez maior devido às mudanças climáticas, que devem aumentar a frequência de enchentes e de aglomerações humanas em condições de vida precárias. Nos ambientes urbanos, a doença é transmitida principalmente pela água contaminada com urina de ratos, que são considerados reservatórios das bactérias do gênero Leptospira, causadoras da infecção. Já nas áreas rurais, bois, cavalos, porcos e outros animais podem ser reservatórios do patógeno, mantendo a bactéria no meio ambiente e assim contribuindo para a ocorrência de casos humanos.

O primeiro dia do workshop será aberto ao público. O cenário global da leptospirose será abordado pelo médico Eric Bertherat, do Departamento de Doenças Pandêmicas e Epidêmicas da OMS, e a situação nas Américas será discutida pelos veterinários e especialistas em saúde pública Cristina Schneider e Baldomero Molina, da Opas. Além disso, haverá palestras sobre as perspectivas no desenvolvimento de vacinas e os avanços científicos e tecnológicos necessários para iniciativas locais e globais em relação ao controle do agravo. As atividades serão realizadas das 9h às 15h30, no Auditório Emmanuel Dias do Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, no Rio de Janeiro (Av. Brasil, 4.365). Integrado às comemorações pelos 115 anos do IOC, o evento tem apoio da Fiocruz, Ministério da Saúde (por meio das Secretarias de Vigilância em Saúde e de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos), Opas/OMS e Glean. A participação é gratuita.

Os organizadores do seminário ressaltam que atualmente não existem estratégias efetivas de baixo custo para enfrentar a doença. Quando diagnosticados no início dos sintomas, os pacientes podem ser tratados e curados. No entanto, a infecção é muitas vezes confundida com outras patologias, já que apresenta sintomas pouco específicos na fase inicial, como febre, dor de cabeça e dor muscular. Em aproximadamente 15% dos casos, há a evolução para formas graves, com apresentação de tom amarelado na pele (icterícia), insuficiência renal e hemorragias. De acordo com a OMS, não existem dados precisos sobre o número de casos de leptospirose em escala global. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, houve 4.706 registros no ano passado, com 327 mortes.

Além da atividade aberta ao público hoje (10 de novembro), os especialistas de diferentes continentes terão reuniões durante o encontro que terá duração de três dias. Ao final, a expectativa é elaborar um documento que seja a base para um plano de enfrentamento global da leptospirose alinhado à perspectiva unificada “Um Mundo, Uma Saúde”, que integra as abordagens de saúde humana, animal e de meio ambiente. O documento a ser consolidado e publicado deve servir de orientação para os setores ligados às políticas de saúde, à pesquisa científica e ao desenvolvimento e inovação tecnológicos.

Confira a programação (as palestras serão ministradas em inglês, com tradução simultânea para português e espanhol):

Terça-feira, 10 de novembro de 2015

9h – Abertura

10h15- Por que é importante tornar a leptospirose uma doença ‘tool ready’ e o que é necessário para isso
Rudy Hartskeerl, Royal Tropical Institute, Holanda

10h45 – Definindo o cenário: Leptospirose como doença emergente e negligenciada
Moderadores: Eric Bertherat, OMS, e Cristina Schneider, Opas
Situação Global da Leptospirose – Eric Bertherat, OMS
Relevância da doença – Federico Costa, Fiocruz
Leptospirose nas Américas – Cristina Schneider, Opas
Leptospirose animal nas Américas – Baldomero Molina, Opas
Leptospirose na África – Katryn Allan, Glasgow University

12h – Intervalo

13h30 – Vacinas contra leptospirose: imunizantes em uso e nova geração
Albert Ko, Yale University, Estados Unidos

14h – Desafios na pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e inovação
Moderadores: Martha Maria Pereira, IOC/Fiocruz, e Wilson Savino, IOC/Fiocruz
Martha Maria Pereira, IOC/Fiocruz, Brasil
Mathieu Picardeau, Institute Pasteur, França
Ana T. Nascimento, Instituto Butantan, Brasil
Jarlath Nally, National Animal Disease Center, Estados Unidos


Reportagem: Maíra Menezes
05/11/2015
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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