Publicada em: 01/12/2015 às 12:04 |
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Desafios para preservação das coleções biológicas Estratégias para manter e modernizar acervo da Fiocruz, que contém milhões de amostras de valor histórico e relevância científica, foram debatidas. Os melhores pôsteres apresentados receberam o Prêmio Professor Doutor Nicolau Maués Serra-Freire Reunido durante mais de cem anos, um acervo com milhões de amostras de micro-organismos, animais e pacientes é mantido nas 30 coleções biológicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), das quais 21 estão sob a guarda do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Dividido entre coleções microbiológicas, zoológicas e histopatológicas, o arquivo inclui peças que datam do início do século XX e está em contínua expansão. A importância e os desafios para preservação desse patrimônio foram debatidos durante a mesa redonda que encerrou o II Simpósio Latino-americano de Coleções Biológicas e Biodiversidade, promovido pelo IOC, entre 24 e 26 de novembro.
Foto: Gutemberg Brito
No debate com participação de Magali Romero, Eliane Veiga e Manuela Silva, Marcelo Pelajo afirmou que as coleções biológicas precisam ser percebidas como patrimônio histórico, científico e tecnológico O caráter histórico do acervo foi destacado pela pesquisadora Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Ela lembrou que muitas coleções começaram como arquivos particulares de pesquisadores que marcaram a trajetória da medicina e da ciência no Brasil, como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva e Lauro Travassos. “A partir de 1911, pesquisadores e técnicos do IOC começaram a fazer expedições científicas pelo Brasil. Eles coletaram amostras em diversas regiões do país, tornando a instituição um centro para coleções”, contou Magali, ressaltando que diversos exemplares não poderiam ser encontrados nos mesmos locais atualmente devido às transformações ambientais. Apesar de seu valor indiscutível, as coleções da Fiocruz correram risco de ser perdidas no período da ditadura militar. Em 1970, no episódio que ficou conhecido como ‘massacre de Manguinhos’, dez pesquisadores do IOC foram cassados e a manutenção do acervo na instituição foi prejudicada. “Passamos por momentos muito difíceis. Chegamos a ouvir que não havia interesse em manter as coleções na Fiocruz e que deveríamos nos desfazer delas. Mas as nossas amostras são base para pesquisas e lutamos para preservá-las”, relatou a presidente do Simpósio, Delir Corrêa Gomes Maues da Serra Freire, chefe do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados do IOC e uma das pesquisadoras que trabalharam para manter as coleções no período. “Hoje somos reconhecidos internacionalmente pelo nosso acervo”, completou.
Resgate e modernização Outra iniciativa é a criação do Centro de Recursos Biológicos em Saúde (CRB-Saúde), que deve ser instalado no campus de Manguinhos, reunindo amostras de microrganismos patogênicos relacionados principalmente às doenças tropicais. De acordo com a pesquisadora Manuela da Silva, assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência e coordenadora de Coleções Biológicas da Fiocruz, além do aspecto de conservação, o projeto deve contribuir para a pesquisa científica e a inovação biotecnológica. “Essa estrutura vai oferecer serviços e produtos certificados para a comunidade científica, a indústria e o Sistema Único de Saúde. Estamos na fase de planejamento e pretendemos fazer visitas a outros CRBs no Brasil para refinar o nosso projeto”, relatou.
Período de crise Um dos motivos de preocupação dos pesquisadores é o fim da ação orçamentária que destinava recursos especificamente para a manutenção das coleções biológicas da Fiocruz, chamada de 20AQ. Por decisão do Ministério do Planejamento, no orçamento de 2016, esta ação deixará de existir, e as atividades relativas às coleções deverão ser contempladas pela verba dirigida às ações de pesquisa da Fundação. Embora não se saiba qual será o aporte de recursos, a expectativa é que o financiamento seja reduzido com essa mudança. “Entendemos que a crise afeta a todos. No entanto, precisamos reafirmar a importância das coleções, para que esta despesa não seja vista como secundária”, afirmou Marcelo Pelajo, acrescentando que as iniciativas na área não devem ser interrompidas. “Nesse momento, ainda há recursos originados em ações externas de fomento. Então, lógico que muitos projetos futuros serão dificultados, mas não paralisados”, disse.
Para Manuela Silva, a visibilidade que as coleções biológicas obtiveram nos últimos anos deve contribuir para que o patrimônio contido nelas não seja novamente abandonado. Segundo a especialista, nos últimos dez anos, a valorização institucional do acervo resultou em uma série de ações, como a criação da Câmara Técnica e a publicação do Manual de Organização de Coleções Biológicas da Fiocruz. Além disso, no cenário nacional, a decisão do governo federal de criar a Rede Brasileira Centro de Recursos Biológicos reforça o valor destas atividades. “Conseguimos chamar atenção para as coleções. Vamos passar por um período complicado, mas esses arquivos têm um valor inestimável e não podemos desistir”, declarou. Premiação homenageia Nicolau Serra-Freire
Os vencedores da premiação foram Barbara Cristina Euzebio Pereira Dias de Oliveira, do Laboratório de Patologia do IOC, primeira autora do estudo ‘A inserção da Coleção de Febre Amarela na era da patologia digital’; Vitor Hugo da Silva Martins, da Plataforma de Apoio à Pesquisa e Inovação do IOC, primeiro autor da pesquisa “Contribuições do Instituto Oswaldo Cruz para a biodiversidade: novos táxons descritos nos últimos dez anos”; e Alexandre da Silva Xavier, do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do IOC, primeiro autor do trabalho “Caracterização morfológica dos estágios imaturos da espécie de importância médica e forense Ravinia belforti (Diptera, Sarcophagidae) através da microscopia eletrônica de varredura”. Maíra Menezes e Max Gomes |
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