Publicada em: 07/03/2016 às 13:30 |
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Aedes aegypti e Aedes albopictus mostram baixa competência para transmir Zika Estudo pioneiro foi realizado por pesquisadores do IOC/Fiocruz e Instituto Pasteur com colaboração de instituição da Martinica Uma pesquisa inédita avaliou a competência vetorial de mosquitos do gênero Aedes para a transmissão do vírus Zika em cinco países: Brasil, Estados Unidos, Guiana Francesa, Martinica e Guadalupe. Uma vez que mensura a presença de partículas virais ativas na saliva do vetor, o dado sobre competência vetorial é fundamental para compreender a transmissão do vírus e estimar o risco de propagação da doença. Publicado na revista científica ‘Plos Neglected Tropical Diseases’, o estudo foi realizado por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com as unidades do Instituto Pasteur na França, Guiana Francesa, Guadalupe e Nova Caledônia, além do Centro de Controle de Mosquitos do Conselho Geral da Martinica. Os testes foram realizados com mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus do Rio de Janeiro e da Flórida. Já na Guiana Francesa, Martinica e Guadalupe, onde não há registro da presença da espécie A. albopictus, apenas o A. aegypti foi estudado. Os resultados apontam que mosquitos A. aegypti e A. albopictus do Brasil e dos Estados Unidos, assim como insetos A. aegypti da Guiana Francesa, Martinica e Guadalupe, são infectados pelo vírus, mas com diferenças significativas. Além disso, a competência dos insetos para transmitir o Zika durante a picada é baixa. “A competência vetorial é determinada geneticamente, por isso podem existir diferenças entre as populações de mosquitos. Constatamos que as populações de A. aegypti e de A. albopictus das Américas podem, sim, ser infectadas pelo Zika e transmitir a doença. Porém, esse potencial de transmissão é reduzido e heterogêneo”, afirma o entomologista Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC e um dos autores do artigo. O trabalho ainda tem como primeira autora a estudante Thaís Chouin Carneiro, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC, que realiza doutorado-sanduíche no Instituto Pasteur, em Paris, como bolsista do Programa Capes/Cofecub.
O resultado sugere que outros fatores podem ter contribuído para a rapidez de disseminação do agravo, compensando a baixa taxa de transmissão pelos mosquitos. Segundo a pesquisadora Anna-Bella Failloux, chefe da unidade de Arboviroses e Insetos Vetores do Instituto Pasteur e uma das autoras do estudo, a falta de imunidade da população para a doença e a grande quantidade de vetores A. aegypti vivendo em proximidade com as pessoas são elementos que podem ter favorecido a propagação do Zika nas Américas. “Os mosquitos A. aegypti são altamente antropofílicos, picando principalmente os seres humanos. As diversas alimentações desses insetos aumentam a chance de infecção”, diz a cientista. As descobertas não alteram as medidas de prevenção necessárias para reduzir a proliferação dos insetos, já que as duas espécies são combatidas com as mesmas medidas de eliminação de criadouros. Sobre a metodologia
De modo geral, foram observados altos índices de infecção inicial dos insetos após o contato com o vírus Zika. No entanto, a taxa de disseminação do vírus dentro do mosquito, cruzando a barreira do intestino, e a eficiência de transmissão pela saliva do foram mais baixas. O estudo também traz dados importantes sobre o tempo de incubação do vírus Zika dentro dos mosquitos. Nas análises feitas quatro e sete dias após a ingestão do sangue infectado, nenhuma das populações de mosquitos apresentou partículas virais na saliva. Novas análises, realizadas 14 dias após a alimentação dos mosquitos com sangue infectado, foram realizadas em dois grupos de vetores. Nos A. aegypti do Brasil, apenas 10% tinham presença do vírus ativo na saliva. Nos A. albopictus dos Estados Unidos, a taxa foi ainda menor, de 3,3%. Comparações com chikungunya e febre amarela
“Isso permanece uma incógnita. Não podemos descartar a possibilidade de que existam mais vias de transmissão, através de outros vetores ou diretamente de uma pessoa para a outra, por meio de fluidos corporais”, pondera o pesquisador, ressaltando que os questionamentos não reduzem a importância do combate aos vetores. “Os mosquitos do gênero Aedes são comprovadamente vetores da infecção e evitar a sua proliferação é fundamental na luta contra Zika, dengue e chikungunya”, enfatiza. O estudo destaca que o maior período de incubação do Zika nos mosquitos pode ser uma vantagem para as estratégias de controle. “De forma geral, os mosquitos das Américas não são tão eficientes para transmitir o vírus Zika. Assim, as medidas de combate aos vetores devem ser priorizadas para limitar a propagação do vírus pelos mosquitos”, declara Anna-Bella. Nos locais onde a circulação do vírus ainda não ocorre, o maior intervalo necessário para que os insetos comecem a transmitir a infecção após picar a primeira pessoa doente aumenta a janela de tempo disponível para realizar ações de bloqueio, que buscam eliminar os vetores antes que o ciclo da doença se estabeleça. Diferenças regionais
Hábitos do Aedes Foto da capa: Aedes aegypti adulto, por Josué Damacena Reportagem: Maíra Menezes07/03/2016 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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