Pesquisa mostra ganho de peso em dobro após dieta exclusiva. Estudo identificou, pela primeira vez, enzima que atua na digestão de células de fungos em larvas de mosquito
A alimentação das larvas do mosquito Aedes aegypti está no foco de uma pesquisa liderada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Publicado na revista ‘Plos One’, o estudo mostra benefícios a partir do consumo de leveduras Saccharomyces cerevisiae, que compõem os fermentos biológicos. Na comparação com a ração de gato – um dos compostos comumente usados para alimentar larvas em laboratório –, a dieta exclusiva com leveduras originou larvas e mosquitos machos adultos com aproximadamente o dobro do peso, o que indica uma vantagem nutricional. Além disso, o estudo demonstrou, pela primeira vez, que as larvas do A. aegypti possuem a enzima beta-1,3-glucanase. Capaz de romper a parede celular dos fungos, essa enzima é importante para a absorção dos nutrientes contidos nesses micro-organismos.
Foto: Gutemberg Brito |
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Larvas alimentadas com leveduras (à esquerda) atingiram o dobro do peso das larvas que receberam ração de gato (à direita) |
Primeira fase de vida dos mosquitos, as larvas nascem quando os ovos do A. aegypti eclodem após entrarem em contato com a água. Na natureza, elas se alimentam da matéria orgânica diluída na água ou presente no fundo dos recipientes onde nasceram. Muitas vezes, micro-organismos, como bactérias e fungos, estão entre as partículas ingeridas naturalmente. Quando atingem o peso necessário, as larvas se transformam em pupas. Por sua vez, as pupas não se alimentam, mas atravessam um processo de transformação, dando origem aos insetos adultos.
Potencial nutricional
A pesquisa recém-publicada confirmou que as larvas do A. aegypti são capazes de se desenvolver a partir de uma alimentação exclusiva com leveduras, chegando até a forma adulta. Em média, as larvas alimentadas com leveduras demoraram dois dias a mais para se transformarem em pupas. No entanto, segundo os pesquisadores, esse atraso pode ser considerado pequeno e não reflete, necessariamente, uma carência nutricional. “Algumas pesquisas apontam que as larvas podem atrasar a pupação quando se encontram em ambientes nutricionalmente ricos. Isso seria uma estratégia para adquirir reservas para a vida adulta”, pondera Raquel Santos Souza, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC e primeira autora do artigo.
Foto: Gutemberg Brito |
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Raquel Souza aponta que a dieta com leveduras tem grande quantidade de proteínas e açúcares |
Os pesquisadores observaram que a dieta com S. cerevisiae contém aproximadamente 12 vezes mais proteínas e três vezes mais açúcares do que a ração de gato. Além disso, a solução com leveduras tem menor chance de contaminação do que a ração de gato. “Bactérias nocivas para as larvas podem se desenvolver na ração de gato, prejudicando a criação de mosquitos em laboratório. Por esse motivo, a ração de peixe é uma alternativa utilizada nas criações em larga escala, mas o preço é bastante alto. Embora mais estudos ainda sejam necessários, uma dieta desenvolvida a partir de leveduras ou utilizando estes micro-organismos como aditivo poderia ser vantajosa, por oferecer uma alimentação controlada e livre de contaminações”, avalia Genta.
Identificação inédita
De acordo com os pesquisadores, a enzima beta-1,3-glucanase – que atua para romper a parede celular dos fungos – já tinha sido encontrada em baratas, cupins, gafanhotos, besouros, larvas de mariposas e flebotomíneos. Porém, a detecção nas larvas de A. aegypti representa a primeira identificação em mosquitos. “A presença dessa enzima com altos níveis de atividade indica que a alimentação a partir de fungos deve ocorrer na natureza”, comenta Genta. Uma vez que os seres humanos não possuem a enzima beta-1,3-glucanase, os autores consideram que ela poderia ser um alvo interessante para o desenvolvimento de inibidores com o objetivo de combater as larvas do A. aegypti.
Reportagem: Maíra Menezes
29/03/2016
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