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IOC comemora 116 anos apresentando contribuições recentes

Enfrentamento do vírus Zika e eliminação da rubéola estiveram entre os destaques no evento de celebração do aniversário do Instituto

A valorização das contribuições científicas mais recentes marcou a celebração pelos 116 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), comemorados nesta quarta-feira, 25/05, juntamente com o aniversário da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ações relevantes para o enfrentamento do vírus Zika e as contribuições para a eliminação da rubéola no Brasil, assim como inovações na preservação e divulgação do acervo das Coleções Biológicas do IOC e no trabalho da Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto (Ceua-IOC) foram apresentadas no evento realizado no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Diante da plateia lotada por pesquisadores e estudantes, o diretor do Instituto, Wilson Savino, e o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, abriram as atividades comentando o atual cenário nacional. Eles criticaram o fim do Ministério da Ciência e Tecnologia, mediante a fusão com a pasta de Comunicações, e defenderam a relevância da pesquisa científica para a saúde da população brasileira. “Com esse seminário, damos uma demonstração das repostas que o Instituto pode dar à sociedade. São 116 anos produzindo ciência e tecnologia para a saúde desse país. Nesse momento, precisamos continuar trabalhando, produzindo e resistindo”, afirmou Savino. “É muito expressivo que esse aniversário esteja se organizando na forma de mostrar que, apesar de tudo, a produção científica e a capacidade de resposta que percebemos no IOC são vigorosas. Isso é a afirmação de um legado e de um compromisso futuro de luta para preservar e avançar naquilo que são os nossos valores maiores”, declarou Gadelha.

Foto: Gutemberg Brito

A agenda atual do país foi o tom das falas de abertura do diretor do IOC, Wilson Savino, e do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha


Zika: desafios e avanços

À frente da equipe que identificou, pela primeira vez, o vírus Zika no líquido amniótico de gestantes cujos fetos foram diagnosticados com microcefalia – primeira evidência científica da associação do patógeno com a malformação congênita, obtida em novembro de 2015 –, a virologista Ana Bispo, chefe do Laboratório de Flavivírus, descreveu o caminho percorrido em busca de respostas para a emergência internacional de saúde pública provocada pela doença. Uma das cinco unidades de referência para o diagnóstico do vírus Zika no Brasil, o Laboratório de Flavivírus analisou mais de nove mil amostras em apenas cinco meses. Ao mesmo tempo, foram produzidos oito artigos científicos que contribuíram para a compreensão do agravo, incluindo um estudo em parceria com o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), que apontou a presença do vírus Zika na cidade do Rio de Janeiro no início de 2015, meses antes de o vírus ser detectado oficialmente no Brasil. “Atualmente, temos a circulação da dengue, da chikungunya e da Zika no país. Tem sido um trabalho intenso, mas com o esforço de todo o grupo, geramos informações relevantes para a saúde pública e a comunidade científica”, disse Ana.

A identificação inédita de partículas do vírus Zika com potencial de infecção em saliva e urina foi discutida pela pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus. Seguindo a política de divulgação imediata dos achados relacionados à emergência em saúde pública, a descoberta foi anunciada em fevereiro e teve dados completos publicados em abril no site ‘bioRxiv’, que disponibiliza estudos online antes da publicação em revistas científicas. De acordo com Myrna, o trabalho foi realizado com o objetivo de investigar fatores de virulência do vírus Zika, que ainda são pouco conhecidos. Os vírus isolados a partir de amostras de dois pacientes tiveram o material genético sequenciado, mas novos estudos ainda são necessários para investigar a relevância de potenciais vias alternativa de transmissão da doença. Entre os interesses de pesquisa atuais, a pesquisadora citou a produção de um clone infectante do vírus Zika, isto é, uma réplica do patógeno que pode ser usada em pesquisas em laboratório. “Essa é uma ferramenta analítica muito poderosa, que permite, por exemplo, investigar o impacto de mutações no código genético viral”, disse Myrna, acrescentando que os estudos não seriam possíveis sem o empenho da equipe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus. Ela também citou a colaboração do INI/Fiocruz, do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). “O mais importante é que conseguimos trabalhar rápido e bem para dar uma resposta inicial a esse desafio representado pelo vírus Zika. Nosso objetivo é produzir cada vez mais pesquisas de alto impacto científico e social”, avaliou.

Foto: Gutemberg Brito

As diversas frentes de investigação do vírus Zika foram o tema das falas de Ana Bispo, Myrna Bonaldo e Ricardo Lourenço


Chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários, o entomologista Ricardo Lourenço comentou resultados recentes, divulgados no começo dessa semana, que confirmaram o papel do Aedes aegypti como transmissor do vírus Zika no Brasil. De acordo com ele, o mosquito vinha sendo apontado como principal transmissor do agravo com base em estudos realizados nas décadas de 1950 e 1960 e em dados epidemiológicos. Porém, nenhum inseto dessa espécie tinha sido encontrado infectado na natureza desde que os surtos da doença se intensificaram, em 2007. Após analisar cerca de 1.500 mosquitos coletados ao longo de dez meses no estado do Rio de Janeiro, os pesquisadores identificaram insetos A. aegypti naturalmente infectados pelo patógeno. O achado era a peça que faltava no quebra-cabeça para determinar a forma de transmissão vetorial do agravo, pois um estudo com participação do Laboratório já havia demonstrado de forma experimental a capacidade dos mosquitos para transmitir o vírus Zika. “Mostramos que o A. aegypti é o mais competente e o único encontrado infectado na natureza. Isso indica que as ações de combate estão direcionadas para a espécie certa. Se elas não estão funcionando, precisamos aumentar nossos esforços, além de buscar novas tecnologias”, avaliou Ricardo, que também destacou o empenho da equipe do Laboratório e as colaborações com o INI/Fiocruz e a rede internacional dos Institutos Pasteur.

No caminho da eliminação global

“Nós, profissionais da saúde, trabalhamos sempre com o objetivo de controlar ou prevenir doenças. É muito bom quando um país, apesar de todos os desafios, consegue eliminar um agravo, como conseguimos fazer com a rubéola”, comemorou a pesquisadora Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo, ao comentar a conquista alcançada pelo Brasil em dezembro de 2015. O certificado de eliminação da enfermidade, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi obtido após mais de 20 anos de esforços, com intensa participação do IOC. Segundo a pesquisadora, o projeto foi construído sobre três pilares – a ampla cobertura vacinal e as ações de vigilância clínica e laboratorial –, que precisam se manter fortes para garantir a sustentabilidade da conquista. Como referência regional para a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e referência nacional junto ao Ministério da Saúde, o Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo foi responsável por fornecer dados que comprovaram a eliminação da doença e por colaborar na elaboração dos documentos que subsidiaram a certificação. O trabalho em vigilância, que inclui o monitoramento de genótipos virais, permanece ativo, agindo para prevenir a reintrodução do vírus. “Ainda existem muitos casos de rubéola no mundo. Por isso, viajantes frequentemente chegam infectados ao Brasil e precisamos realizar o diagnóstico rápido, identificar o genótipo para confirmar que se trata de uma cepa estrangeira do vírus e implementar ações para impedir que a infecção se propague no país. Não podemos parar”, declarou.

Foto: Gutemberg Brito

A virologista Marilda Siqueira integrou o esforço de eliminação da rubéola no país


Renovação em diferentes campos

Ao lado das conquistas no combate a doenças, a celebração pelos 116 anos do IOC destacou o avanço na preservação e difusão do acervo das Coleções Biológicas. Patrimônio histórico, com grande potencial de contribuição para pesquisas científicas, as amostras depositadas em oito Coleções Zoológicas e na Coleção de Febre Amarela serão digitalizadas em uma iniciativa com apoio do BNDES. Coordenador do projeto no IOC, o pesquisador Marcelo Pelajo, chefe do Laboratório de Patologia, contou que os equipamentos adquiridos para a digitalização – um escâner de lâminas e duas lupas motorizadas tridimensionais – foram recebidos há menos de um mês e já estão em operação. “Com as imagens de alta qualidade, pesquisadores em qualquer lugar do planeta poderão ter acesso aos exemplares das Coleções com facilidade. Além de aumentar a difusão, a digitalização ajuda na preservação, porque reduz a manipulação, o transporte e o deslocamento das amostras”, ressaltou o pesquisador.

Foto: Gutemberg Brito

O patologista Marcelo Pelajo apresentou novas tecnologias incorporadas às Coleções Biológicas, enquanto o pesquisador Flávio Lara trouxe as ações recentes da Comissão de Ética no Uso de Animais


Com o objetivo de analisar os aspectos éticos de todos os procedimentos envolvendo animais no Instituto, garantido a sua contribuição para o entendimento de princípios biológicos fundamentais e reduzindo o impacto sobre o bem-estar dos animais, a Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA-IOC) realizou 33 reuniões no ano passado e 16 apenas entre janeiro e maio deste ano. Segundo Flávio Alves Lara, coordenador do órgão e pesquisador do Laboratório de Microbiologia Celular, o grupo vem buscando reduzir o tempo de espera pelas autorizações para a realização dos experimentos que possuem “excelente qualidade técnica e importância científica indubitável”. “O IOC cumpre a determinação de ter um responsável técnico em cada biotério e possui um corpo veterinário excelente. Nosso desafio é avançar cada vez mais na política dos três R’s: redução, refinamento e substituição [em inglês, replacement]”, afirmou ele.

Lançamentos e exposição

O encerramento do evento contou com o lançamento da versão em idiomas dos sites dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu e de publicações editoriais. Entre as obras lançadas, está o livro 'South American Trematodes parasites of birds and mammals', que lista 539 espécies de Trematoda descritas na América do Sul, entre elas, alguns parasitos conhecidos por provocar importantes doenças em seres humanos e animais, como o Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose e Fasciola hepatica.

Foto: Gutemberg Brito

As autoras do livro 'South American Trematodes parasites of birds and mammals' reuniram 539 espécies na publicação


A 'Coletânea de Procedimentos Técnicos e Metodologias Empregadas para o Estudo de Bacillus e Gêneros Esporulados Aeróbios', que associa um conjunto de informações que vão desde noções básicas de bacteriologia até o cultivo de bactérias do gênero bacillus, e o catálogo digital 'Espécie de Maruins' também integraram o conjunto de lançamentos. Sobre o tema da doença de Chagas, foram apresentados os livros 'Vetores da doença de Chagas no Brasil' e o 'Atlas Iconográfico dos Triatomíneos do Brasil', além dos blocos de cartões ilustrados 'Vetores da doença de Chagas no Brasil', que trazem dados sobre a morfologia dos insetos, além de mapas sobre a distribuição geográfica das 66 espécies de barbeiros registradas no país.

Foto: Gutemberg Brito

Os autores de obras, entre telas, gravuras, cerâmicas e esculturas, entre outras técnicas.


O aniversário do Instituto teve, ainda, a Exposição Artistas de Manguinhos, que chegou à segunda edição. A iniciativa apresenta o trabalho em artes visuais de trabalhadores e estudantes da Fiocruz, entre diversas modalidades de expressão.

Reportagem: Maíra Menezes
25/05/2016
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