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Artigo defende manutenção das Olimpíadas

Revista científica 'Memórias' publica posicionamento de pesquisadores que apontam evidências contrárias à carta aberta recentemente encaminhada à OMS sugerindo o adiamento do evento

Pesquisadores brasileiros publicaram na revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ um artigo de opinião que defende a manutenção do calendário dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro. Assinado por cientistas do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (PROCC/Fiocruz) e da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV), o artigo apresenta uma série de evidências científicas que apontam para uma expectativa de baixo número de casos de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti em agosto e setembro. Os cientistas argumentam que, considerando o período em que ocorrerão as Olimpíadas, não há motivo suficiente para alterar o calendário do evento, conforme proposto em carta aberta recentemente encaminhada à Organização Mundial da Saúde (OMS). O artigo [clique aqui para acessar gratuitamente] foi publicado mediante o protocolo de 'fast track' que a revista adotou para temas relacionados ao vírus Zika, com processo acelerado de submissão e disponibilização pública. Criada em 1909, a revista 'Memórias' é um dos mais antigos e importantes periódicos científicos da América Latina, com posição de destaque nas áreas de Medicina Tropical, Biologia Parasitária e Microbiologia.

O artigo ressalta que, conforme preconizado pela OMS, as gestantes devem evitar viajar para as regiões afetadas pelo vírus Zika. “A recomendação para o público em geral é comparecer normalmente [aos Jogos Olímpicos], mantendo em vista as orientações da OMS e das autoridades sanitárias brasileiras”, afirma o texto. Para avaliar o risco de transmissão do vírus Zika durante as Olimpíadas, os pesquisadores consideraram o histórico de casos de dengue – doença transmitida pelo mesmo vetor – desde 2010. Os registros mostram que a atividade do A. aegypti é muito baixa no Rio de Janeiro nos meses de agosto e setembro, com a incidência da dengue variando entre um e sete casos para cada cem mil habitantes neste período. Segundo os cientistas, diversas pesquisas apontam que a capacidade vetorial desses insetos é fortemente reduzida quando a temperatura mínima fica abaixo de 22ºC a 24ºC e, na capital fluminense, as temperaturas mínimas só costumam ficar acima desse patamar a partir de novembro. “Por causa dessa baixa capacidade vetorial, as doenças transmitidas por vetores apresentam risco mínimo de transmissão durante o inverno”, afirmam. Com base nas estatísticas, os pesquisadores estimam que, entre os 350 mil e 500 mil turistas esperados nas Olimpíadas, devem ocorrer quatro casos de dengue com sintomas, com a margem de erro variando entre um e 36.

Segundo os pesquisadores brasileiros, os cientistas internacionais não levaram em conta a sazonalidade das doenças transmitidas pelos A. aegypti na sua argumentação em defesa do adiamento ou realocação dos Jogos Olímpicos. “Nas notificações de Zika na cidade, já é observada uma redução desde abril 2016”, diz o artigo. Ainda em resposta aos pesquisadores internacionais, os cientistas brasileiros ressaltam que o aumento nos registros de dengue em 2015, destacado na carta aberta, foi percebido pela comparação com o ano de 2014, que apresentou um número historicamente baixo, por causa da seca no Brasil. Porém, em comparação com 2011, 2012 e 2013, o ano de 2015 apresentou um terço do número de casos de dengue.

A preocupação expressa na carta aberta com o fato de que os turistas vindos para as Olimpíadas possam levar o vírus Zika de volta para os seus países de origem também é abordada no artigo. Os pesquisadores lembram que, nesse momento, a transmissão do agravo é registrada em 60 países e argumentam que a disseminação do vírus provavelmente já ocorreu durante o carnaval, em fevereiro, quando a circulação do Zika se encontrava no pico e o Rio de Janeiro recebeu um milhão de turistas, o dobro do esperado para as Olimpíadas.

Para os pesquisadores brasileiros, a proposta de adiar as Olimpíadas para um momento posterior pode ter o efeito inverso ao desejado por levar o evento para mais perto do verão. Assim, segundo os cientistas, “o melhor curso de ação não é adiar os Jogos ou incentivar os estrangeiros a não participar, mas sim informar a população sobre medidas de proteção individual”. Nesse sentido, eles destacam a aplicação de repelentes para prevenir as picadas do A. aegypti e o uso de preservativos para evitar a possibilidade de transmissão sexual do vírus Zika, além do reforço nas ações de controle do mosquito por parte das autoridades brasileiras.

Foto da capa: Mosquito Aedes aegypti adulto, por Josué Damacena
Reportagem: Maíra Menezes
03/06/2016
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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