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Vírus Zika em Aedes no RJ: resultados ganham publicação

Anunciado em maio, estudo reforça o papel do A. aegypti na transmissão da doença

O estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que detectou pela primeira vez mosquitos Aedes aegypti do Rio de Janeiro naturalmente infectados com o vírus Zika teve resultados completos publicados. Os dados haviam sido anunciados em maio de 2016. O artigo recém-publicado na seção Zika Fast Track da revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ é o primeiro a relatar a presença do vírus Zika em mosquitos A. aegypti na América do Sul. Para os autores, a pesquisa reforça o papel do A. aegypti na transmissão da doença, já que a presença do vírus não foi detectada em nenhuma outra espécie coletada ao longo do estudo.

No trabalho, foram analisados cerca de 1.700 insetos de diferentes espécies capturados dentro e no entorno das residências de pacientes com suspeita de Zika. A infecção natural foi detectada em três grupos de A. aegypti, sendo dois compostos por fêmeas e o terceiro por um inseto macho. Uma vez que os machos não se alimentam de sangue e, portanto, não podem contrair o vírus de pessoas doentes, o achado aponta para a hipótese de transmissão vertical – quando a fêmea infectada passa o vírus para os filhotes – ou durante o acasalamento. Coordenado pelo Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, o estudo contou com a colaboração do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC e do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). A Secretaria municipal de Saúde do Rio apoiou as coletas.

Foto: Josué Damacena

Equipe coletou mosquitos no interior e no entorno de residências de pacientes com suspeita de Zika

Um ano de levantamento
Para realizar o estudo, a equipe do Laboratório visitou as residências de pacientes com suspeita de Zika no Rio de Janeiro entre junho de 2015 e julho de 2016. Os mosquitos foram aspirados no interior e no entorno destes imóveis. O esforço resultou na coleta de quase 600 A. aegypti; 26 Aedes albopictus; e cerca de 1.100 Culex quinquefasciatus – espécie popularmente conhecida como pernilongo ou muriçoca. Considerando a espécie, o gênero e o local de coleta, os insetos foram divididos em grupos, chamados pelos cientistas de ‘pools’. A presença do vírus Zika nos mosquitos foi investigada com dois métodos moleculares: RT-PCR em tempo real e RT-PCR, que permitem identificar a presença do material genético dos patógenos nas amostras.

Dos 198 pools de A. aegypti três estavam naturalmente infectados, sendo um formado por três fêmeas de Realengo, na Zona Oeste da capital fluminense; outro por uma fêmea de Coelho da Rocha, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense; e o terceiro por um macho dessa mesma localidade. Nos insetos de Realengo, os pesquisadores obtiveram o sequenciamento do material genético dos patógenos detectados. Foi observada semelhança com outros vírus Zika sequenciados durante a atual epidemia nas Américas. Dos 21 pools de A. albopictus e 249 pools de C. quinquefasciatus, nenhum apresentou o vírus.

Resultados internacionais
A identificação de mosquitos infectados no campo é uma etapa central para determinar a espécie que atua como vetor de uma doença. Esse achado indica que os insetos são capazes de se infectar naturalmente ao sugar o sangue de pessoas doentes, o que complementa os resultados dos testes de competência vetorial anteriormente realizados pelo Laboratório. Nestes experimentos os insetos são alimentados artificialmente com sangue contendo o vírus e análises identificam se eles são capazes de liberar a forma ativa do patógeno na saliva, indicando potencial para transmitir a doença pela picada.

No caso do vírus Zika, A. aegypti naturalmente infectados já tinham sido encontrados na África e na Ásia. Em julho deste ano, um estudo publicada na revista científica ‘Journal of Infeccious Diseases’ por pesquisadores da Universidade do Texas Medical Branch relatou a presença de mosquitos A. aegypti com infecção natural no México. A competência vetorial da espécie também foi demonstrada. Em março, cientistas do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC e do Instituto Pasteur publicaram um estudo apontando a capacidade de transmissão do vírus Zika pelos A. aegypti do Brasil. Neste contexto, os pesquisadores consideram que a detecção de infecção natural em mosquitos do Rio de Janeiro reforça a caracterização do A. aegypti como vetor primário da doença durante a atual epidemia no continente americano.

Os cientistas destacam que o trabalho aponta a necessidade de investigar como ocorre a transmissão do vírus Zika para os mosquitos machos e qual a relevância desse fenômeno na propagação da doença. Um achado semelhante foi realizado em 2011, no Senegal, quando pesquisadores encontraram insetos machos da espécie Aedes furcifer infectados com o vírus Zika em um vilarejo. A transmissão vertical do patógeno ou durante o acasalamento são as principais hipóteses para explicar essa contaminação, que pode contribuir para permanência do vírus no ambiente mesmo na ausência de casos em pacientes.

Reportagem: Maíra Menezes
28/07/2016
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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