Publicada em: 11/08/2016 às 11:16 |
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Tuberculose, discriminação e adesão ao tratamento Estudo ouviu pacientes que são moradores da Rocinha, localidade com as mais altas taxas de incidência da doença no município do Rio de Janeiro
Elaborado a partir de entrevistas com pacientes em tratamento, todos moradores da Rocinha, o estudo considerou contextos socioculturais, valores e crenças. “Foi possível compreender percepções individuais sobre a tuberculose, assim como as principais dificuldades atribuídas ao enfrentamento do agravo”, explicou Mello. De acordo com a análise, que, nesta etapa, ouviu seis pacientes, a doença é vista como cotidiana e comum. Essa banalização contribui para a demora na busca por diagnóstico, dificultando o início do tratamento, considerado cansativo pelos pacientes. Já no que se refere ao abandono do tratamento, as justificativas apontadas pelos entrevistados incluem a dificuldade para conciliar a rotina de trabalho, os efeitos colaterais dos remédios e a longa duração do tratamento. Outro problema mencionado foi a suspensão da medicação, sem recomendação médica, no momento em que o quadro clínico apresenta melhoras. Os resultados apontam, ainda, que os pacientes associam a doença fortemente ao estigma. Dentre os relatos, há casos de indivíduos que esconderam o diagnóstico de familiares e de colegas de trabalho por medo de sofrer rejeição. “As atitudes de segregação podem levar as pessoas com tuberculose a se afastar de ambientes onde, até então, elas se sentiam confortáveis, como o local de trabalho, por exemplo”, explicou Mello. “Conhecer a interpretação que pessoas com diferentes vivências têm da doença é fundamental”, destacou. O estudo faz parte de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), que investiga os motivos para o abandono do tratamento. No projeto, os pesquisadores desenvolvem propostas de atividades educativas com pacientes e familiares, e de materiais informativos que estimulem a desmistificação da doença e a promoção da saúde. A iniciativa é coordenada por Anna Cristina Calçada Carvalho, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC. Saiba mais Doença contagiosa provocada pela micobactéria Mycobacterium tuberculosis, a tuberculose é transmitida pelas vias aéreas e se dispersa com maior facilidade em ambientes pequenos e com pouca ventilação – característica comum nas construções desordenadas das grandes cidades. Dentre os principais sintomas estão a tosse (com ou sem secreção) por mais de três semanas, perda de peso, febre baixa, suor noturno, cansaço e falta de apetite. No Brasil, a cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil novos casos e 4,6 mil mortes em decorrência da doença, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2015, a cidade do Rio de Janeiro registrou uma das maiores taxas de incidência entre as capitais. O cálculo, feito para cada 100 mil habitantes, mostrou uma incidência de 66,8 novos casos – superando a média do país, que foi de 30,9 casos, no mesmo ano. O tratamento está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Reportagem: Lucas Rocha 11/08/2016 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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