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Trabalhos em doença de Chagas, herpes e leishmanioses conquistam o Prêmio de Teses Alexandre Peixoto

Biossegurança, HIV, resistência bacteriana e usos do sapoti no combate a moscas também estão entre os temas abordados pelos estudos vencedores. Premiação encerrou as atividades da Semana da Pós-graduação do Instituto

Em sua 4ª edição, o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2016 destacou a qualidade de sete teses apresentadas por recém-doutores formados nos programas de Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A cerimônia de premiação, realizada no dia 25/11, em sessão especial do Centro de Estudos, encerrou as atividades da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do IOC. Entre os vencedores, estiveram trabalhos reconhecidos pelo ‘Prêmio Capes de Teses’ e pelo ‘Prêmio Capes-Interfarma de Inovação e Pesquisa’, oferecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.

“As análises quantitativas fazem parte da rotina da pós-graduação, seja em número de publicações ou fator de impacto de periódicos. Já o Prêmio Alexandre Peixoto comemora a qualidade da pesquisa realizada no Instituto e a relevância dos trabalhos para a comunidade científica e para a sociedade”, ressaltou Elisa Cupolillo, vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC durante a cerimônia de premiação. O diretor do IOC, Wilson Savino, também destacou a importância dos estudos. “As teses premiadas apresentam uma gama temática rica, que reflete a diversidade dos Programas de Pós-graduação do IOC. Os trabalhos apresentam uma qualidade ímpar e reforçam a importância de retornar para a sociedade a produção de conhecimentos sobre importantes agravos de impacto para a população”, disse.

Criado em homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, que faleceu em 2013, o prêmio contemplou, nesta edição, as teses dos recém-formados Carlos Manuel Dutok Sánchez, Edson Oliveira Delatorre, Isabela Resende Pereira, Monica Jandira dos Santos e Thiago Pavoni Gomes Chagas, indicados ao Prêmio Capes de Tese, e Alexandre dos Santos da Silva e Edézio Ferreira da Cunha Junior, indicados ao Prêmio Capes-Interfarma de Inovação e Pesquisa. Na cerimônia de premiação, cada um teve a oportunidade de compartilhar os principais resultados de seus estudos – uma variedade de temas que reflete a pluralidade científica do Instituto, incluindo HIV, doença de Chagas, herpes e leishmanioses, além de abordagens em ensino sobre biossegurança, resistência bacteriana a antibióticos e a investigação das propriedades da fruta sapoti no combate a moscas.

Gutemberg Brito

Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto contempla pesquisas de diversas áreas


Melhorias para pacientes com doença de Chagas

Contemplado com a menção honrosa na categoria Ciências Biológicas II do Prêmio Capes de Tese 2016, o trabalho da biomédica Isabela Resende Pereira foi desenvolvido na Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular. O estudo revelou detalhes sobre o papel do sistema imunológico no desenvolvimento dos problemas cardíacos provocados pela infecção crônica da doença de Chagas e mostrou que terapias capazes de regular essa reação do organismo poderiam reverter os danos sobre o coração. A pesquisa foi realizada em camundongos, considerados modelos para estudo da doença, com orientação de Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, e resultou na publicação de cinco artigos em revistas científicas. Um deles apresentou um candidato vacinal capaz de reprogramar a resposta imunológica, controlar a progressão da doença e recuperar as lesões cardíacas. “É a coroação de um trabalho que eu tenho desenvolvido desde a iniciação científica e que foi amadurecendo ao longo dos anos. O reconhecimento, tanto do Prêmio Alexandre Peixoto, como a menção honrosa do Prêmio Capes, é o resultado de um trabalho conjunto e traz alegrias para várias pessoas”, comemorou Isabela. Saiba mais sobre os estudos clicando aqui.

Novas estratégias terapêuticas para as leishmanioses

A limitação de medicamentos disponíveis é um dos desafios no tratamento das leishmanioses. Os tratamentos atuais utilizam um derivado de metal pesado, que pode acarretar problemas toxicológicos, ao mesmo tempo em que o produto conta apenas com aplicação injetável, o que dificulta a adesão do paciente ao tratamento. Estes desafios foram o ponto de partida do trabalho do recém-doutor Edézio Ferreira da Cunha Junior, da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, orientado por Eduardo Caio Torres dos Santos, pesquisador do Laboratório de Bioquímica de Tripanossomatídeos. A pesquisa busca novas estratégias terapêuticas para o combate às leishmanioses. Estudos com camundongos comprovaram o efeito da substância sintética pterocarpaquinona (LQB-118) no combate às formas cutânea e visceral da doença. O estudo constatou efeito positivo, com o controle das lesões e do tamanho do baço e do fígado, acompanhado de redução da presença de parasitos. Avaliações bioquímicas, hematológicas e histopatológicas mostraram ausência de sinais significativos de toxicidade com uma dose cinco vezes maior do que a terapêutica nos animais tratados. “A indicação é um impulso essencial para dar continuidade à pesquisa, é um sentimento que não tem descrição. O Prêmio reconhece um trabalho feito em busca de um fármaco para a leishmaniose de origem brasileira”, destacou Edézio Ferreira da Cunha Junior. O trabalho foi realizado em parceria com o Laboratório de Química Bioorgânica do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderado pelo professor Paulo Ribeiro Costa.

Gutemberg Brito

Ao lado de seus orientadores, do diretor do IOC, Wilson Savino, e da coordenadora da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, Leila Mendonça, Isabela Resende e Edézio da Cunha recebem o Prêmio Alexandre Peixoto


Resistência bacteriana

O aumento na prevalência de infecções hospitalares é uma das causas do prolongamento da hospitalização de pacientes, que precisam recorrer a antibióticos de amplo espectro, muitas vezes, em unidades de tratamento intensivo (UTIs). A bactéria Acinetobacter baumannii é um importante agente associado ao desenvolvimento de pneumonia, infecções urinárias e meningite em pacientes debilitados nas mais variadas regiões do mundo. A disseminação desse micro-organismo no ambiente, fora de hospitais, pode ser explicada pela resistência aos antibióticos, por sua capacidade de adaptação a condições ambientais desfavoráveis e pela formação de comunidades bacterianas estruturadas (os chamados biofilmes). O trabalho defendido pelo recém-doutor Thiago Pavoni Gomes Chagas, da Pós-Graduação em Medicina Tropical, realizou análises do genoma de bactérias A. baumannii isoladas a partir de pacientes brasileiros. O trabalho foi orientado pela bacteriologista Marise Dutra Asensi, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC, e resultou em três artigos científicos. O primeiro descreve a avaliação dos perfis de resistência e o polimorfismo genético de 155 amostras de A. baumannii oriundas de 11 estados brasileiros. Os resultados da análise mostraram taxas relevantes de resistência a antibióticos entre as amostras de A. baumannii para sete de nove medicamentos testados, incluindo os carbapenêmicos – antibióticos com amplo espectro de atividade. Em um segundo momento, os pesquisadores sequenciaram o genoma de uma cepa de A. baumannii multirresistente, resultando na identificação de genes que conferem resistência a importantes categorias de antibióticos, como beta-lactâmicos, amiglicosídeos e sulfonamidas. A pesquisa também constatou, na bactéria Acinetobacter bereziniae, a produção da enzima carbapenemase do tipo NDM. O achado é relevante na medida em que as bactérias produtoras de NDM são consideradas altamente resistentes a antibióticos.

Reformulação em biossegurança

Profissionais e estudantes que iniciam atividades no IOC partem sempre de um mesmo ponto de largada: o curso ‘QBA-Online’, um instrumento de sensibilização em gestão do ambiente, da qualidade e biossegurança no universo institucional. Recém-formada da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, Mônica Jandira dos Santos realizou uma análise da primeira versão do curso, a partir das avaliações feitas pelos participantes no período de 2008 a 2014. De acordo com o estudo, a iniciativa foi bem avaliada pelos participantes, com destaque para a flexibilidade em relação ao tempo para leitura dos textos disponibilizados e a realização do teste como um dos principais pontos positivos. Já entre os aspectos negativos, o volume da bibliografia foi o mais citado. O diagnóstico ratificou, ainda, a necessidade de reorganização do material instrucional e da oferta de estratégias de ensino que estimulem o interesse dos participantes. O estudo deu origem à implementação da versão 2.0 do curso online. A reorganização dos módulos tornou a ferramenta mais sequenciada, de forma que a temática anteriormente abordada é um pré-requisito para o módulo subsequente. Além disso, foram inseridas diferentes linguagens e estratégias de ensino: vídeos, atividades lúdicas e representações gráficas. Mais de 40 pessoas – entre profissionais e estudantes do IOC – participaram do processo de validação da nova versão.

Gutemberg Brito

Thiago Pavoni, Mônica Jandira, seus orientadores e os coordenadores das Pós-graduações em Medicina Tropical e em Ensino em Biociências e Saúde celebram o momento de entrega da honraria


Alternativa para o tratamento da encefalite causada pelo vírus herpes

Uma das manifestações clínicas mais graves do vírus da herpes simples, a encefalite herpética pode provocar crises convulsivas, déficit motor e nível reduzido de consciência. O tratamento atual, baseado em medicamentos específicos contra o vírus, apresenta uma alta taxa de toxicidade, além de efeitos colaterais e desafios crescentes de resistência. No estudo desenvolvido no âmbito da Pós-graduação em Medicina Tropical, o recém-formado Alexandre dos Santos da Silva avaliou o uso de moléculas de RNA de interferência (siRNA), capazes de inibir a replicação do vírus, como estratégia terapêutica para o tratamento da encefalite herpética. A pesquisa realizada com camundongos testou o uso da molécula RVG-9R no tratamento da doença. Os resultados mostraram a inibição da replicação do vírus tanto no cérebro quanto no gânglio trigeminal dos animais, com capacidade de redução dos sintomas logo no início da infecção. A utilização da molécula foi mais eficaz na diminuição dos sinais clínicos da doença que o aciclovir – medicamento mais importante no tratamento das infecções pelo vírus herpes. Já a administração combinada de RVG-9R com o aciclovir teve um efeito ainda mais importante: além de inibir a replicação do vírus, foi capaz de prevenir a mortalidade dos camundongos, reduzir a perda de peso e as manifestações da encefalite herpética. O trabalho foi orientado pela pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, Vanessa Salete de Paula.

Gutemberg Brito

Alexandre apresenta resultados da sua pesquisa durante a sessão especial do Centro de Estudos do IOC


Análise da diversidade viral do HIV

Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a epidemia de HIV do tipo 1 (HIV-1) apresentou aumento das mutações genéticas relacionadas à resistência aos medicamentos antirretrovirais. A tendência foi verificada no doutorado de Edson Oliveira Delatorre, desenvolvido na Pós-graduação em Biologia Parasitária. A avaliação da diversidade genética do vírus é fundamental para o monitoramento e detecção precoce da potencial introdução e disseminação de vírus emergentes na epidemia brasileira. Para as análises, foram consideradas gestantes infectadas pelo HIV-1. As mutações podem trazer impactos na eficácia da terapia profilática para a prevenção da transmissão vertical do vírus, da mãe para o bebê. De acordo com a pesquisa, a epidemia do HIV-1 na região metropolitana se modificou entre os períodos de 2005 a 2008 e de 2012 a 2015, com um aumento significativo na circulação de subtipos não-B (de 19% para 31%). Além da linhagem majoritária do subtipo C, que circula pelo Brasil, outras cinco variantes do mesmo subtipo, originadas de diferentes regiões africanas, foram encontradas no Rio de Janeiro. A circulação de diferentes linhagens do vírus de origem africana indica a existência de redes de transmissão com cerca de 30 anos, que atuam na região metropolitana e no interior do estado.

Controle alternativo de moscas

O trabalho do recém-doutor Carlos Manuel Dutok Sánchez, formado pela Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde, investigou o potencial do sapoti, fruto que tem sido alvo de estudos na medicina etnobotânica, para o controle alternativo de moscas. De acordo com a pesquisa, o uso do fruto pode alterar o desenvolvimento pós-embrionário de espécies da mosca doméstica e de moscas da família Calliphoridae. Além da diminuição da quantidade de larvas, foram alcançadas porcentagens de mortalidade acima de 40%, com um índice de até 61% para no caso da mosca doméstica. Nos estudos de atividade inseticida, o uso do extrato aquoso bruto do fruto demonstrou agir diretamente sobre o período de desenvolvimento dos insetos, de larva a adulto, o que o torna um candidato para o controle alternativo das espécies. Tanto a fruta como o extrato preparado a partir de suas sementes têm demonstrado níveis baixos ou ausentes de toxicidade. Os pesquisadores realizaram triagens fitoquímicas dos extratos aquoso e hidroalcoólico das sementes para determinar os parâmetros de controle de qualidade e a composição química do material. De acordo com a pesquisa, os dois extratos, classificados como ‘potencialmente não irritantes’, poderiam ser utilizados sem provocar reações colaterais quando em contato com a pele. O trabalho foi orientado pelos pesquisadores Margareth Maria de Carvalho Queiroz, chefe do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC, e Bernardo Reyes Tur.

Gutemberg Brito

Os recém-formados, Edson Delatorre e Carlos Sánchez, também comemoraram o recebimento do prêmio


Sobre o Prêmio

O Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto foi criado para contemplar as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC. A premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente em fevereiro 2013, época em que coordenava o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Celular e Molecular, como uma homenagem ao geneticista por seu legado na formação de jovens pesquisadores e cientistas. Clique aqui para conhecer os ganhadores das edições anteriores.

Reportagem: Lucas Rocha (com informações de Kadu Cayres e Maíra Menezes)
Edição: Raquel Aguiar
25/11/2016
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