Biossegurança, HIV, resistência bacteriana e usos do sapoti no combate a moscas também estão entre os temas abordados pelos estudos vencedores. Premiação encerrou as atividades da Semana da Pós-graduação do Instituto
Em sua 4ª edição, o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2016 destacou a qualidade de sete teses apresentadas por recém-doutores formados nos programas de Pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A cerimônia de premiação, realizada no dia 25/11, em sessão especial do Centro de Estudos, encerrou as atividades da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do IOC. Entre os vencedores, estiveram trabalhos reconhecidos pelo ‘Prêmio Capes de Teses’ e pelo ‘Prêmio Capes-Interfarma de Inovação e Pesquisa’, oferecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.
Gutemberg Brito |
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Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto contempla pesquisas de diversas áreas |
Contemplado com a menção honrosa na categoria Ciências Biológicas II do Prêmio Capes de Tese 2016, o trabalho da biomédica Isabela Resende Pereira foi desenvolvido na Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular. O estudo revelou detalhes sobre o papel do sistema imunológico no desenvolvimento dos problemas cardíacos provocados pela infecção crônica da doença de Chagas e mostrou que terapias capazes de regular essa reação do organismo poderiam reverter os danos sobre o coração. A pesquisa foi realizada em camundongos, considerados modelos para estudo da doença, com orientação de Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, e resultou na publicação de cinco artigos em revistas científicas. Um deles apresentou um candidato vacinal capaz de reprogramar a resposta imunológica, controlar a progressão da doença e recuperar as lesões cardíacas. “É a coroação de um trabalho que eu tenho desenvolvido desde a iniciação científica e que foi amadurecendo ao longo dos anos. O reconhecimento, tanto do Prêmio Alexandre Peixoto, como a menção honrosa do Prêmio Capes, é o resultado de um trabalho conjunto e traz alegrias para várias pessoas”, comemorou Isabela. Saiba mais sobre os estudos clicando aqui.
A limitação de medicamentos disponíveis é um dos desafios no tratamento das leishmanioses. Os tratamentos atuais utilizam um derivado de metal pesado, que pode acarretar problemas toxicológicos, ao mesmo tempo em que o produto conta apenas com aplicação injetável, o que dificulta a adesão do paciente ao tratamento. Estes desafios foram o ponto de partida do trabalho do recém-doutor Edézio Ferreira da Cunha Junior, da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, orientado por Eduardo Caio Torres dos Santos, pesquisador do Laboratório de Bioquímica de Tripanossomatídeos. A pesquisa busca novas estratégias terapêuticas para o combate às leishmanioses. Estudos com camundongos comprovaram o efeito da substância sintética pterocarpaquinona (LQB-118) no combate às formas cutânea e visceral da doença. O estudo constatou efeito positivo, com o controle das lesões e do tamanho do baço e do fígado, acompanhado de redução da presença de parasitos. Avaliações bioquímicas, hematológicas e histopatológicas mostraram ausência de sinais significativos de toxicidade com uma dose cinco vezes maior do que a terapêutica nos animais tratados. “A indicação é um impulso essencial para dar continuidade à pesquisa, é um sentimento que não tem descrição. O Prêmio reconhece um trabalho feito em busca de um fármaco para a leishmaniose de origem brasileira”, destacou Edézio Ferreira da Cunha Junior. O trabalho foi realizado em parceria com o Laboratório de Química Bioorgânica do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderado pelo professor Paulo Ribeiro Costa.
Gutemberg Brito |
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Ao lado de seus orientadores, do diretor do IOC, Wilson Savino, e da coordenadora da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, Leila Mendonça, Isabela Resende e Edézio da Cunha recebem o Prêmio Alexandre Peixoto |
O aumento na prevalência de infecções hospitalares é uma das causas do prolongamento da hospitalização de pacientes, que precisam recorrer a antibióticos de amplo espectro, muitas vezes, em unidades de tratamento intensivo (UTIs). A bactéria Acinetobacter baumannii é um importante agente associado ao desenvolvimento de pneumonia, infecções urinárias e meningite em pacientes debilitados nas mais variadas regiões do mundo. A disseminação desse micro-organismo no ambiente, fora de hospitais, pode ser explicada pela resistência aos antibióticos, por sua capacidade de adaptação a condições ambientais desfavoráveis e pela formação de comunidades bacterianas estruturadas (os chamados biofilmes). O trabalho defendido pelo recém-doutor Thiago Pavoni Gomes Chagas, da Pós-Graduação em Medicina Tropical, realizou análises do genoma de bactérias A. baumannii isoladas a partir de pacientes brasileiros. O trabalho foi orientado pela bacteriologista Marise Dutra Asensi, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC, e resultou em três artigos científicos. O primeiro descreve a avaliação dos perfis de resistência e o polimorfismo genético de 155 amostras de A. baumannii oriundas de 11 estados brasileiros. Os resultados da análise mostraram taxas relevantes de resistência a antibióticos entre as amostras de A. baumannii para sete de nove medicamentos testados, incluindo os carbapenêmicos – antibióticos com amplo espectro de atividade. Em um segundo momento, os pesquisadores sequenciaram o genoma de uma cepa de A. baumannii multirresistente, resultando na identificação de genes que conferem resistência a importantes categorias de antibióticos, como beta-lactâmicos, amiglicosídeos e sulfonamidas. A pesquisa também constatou, na bactéria Acinetobacter bereziniae, a produção da enzima carbapenemase do tipo NDM. O achado é relevante na medida em que as bactérias produtoras de NDM são consideradas altamente resistentes a antibióticos.
Profissionais e estudantes que iniciam atividades no IOC partem sempre de um mesmo ponto de largada: o curso ‘QBA-Online’, um instrumento de sensibilização em gestão do ambiente, da qualidade e biossegurança no universo institucional. Recém-formada da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde, Mônica Jandira dos Santos realizou uma análise da primeira versão do curso, a partir das avaliações feitas pelos participantes no período de 2008 a 2014. De acordo com o estudo, a iniciativa foi bem avaliada pelos participantes, com destaque para a flexibilidade em relação ao tempo para leitura dos textos disponibilizados e a realização do teste como um dos principais pontos positivos. Já entre os aspectos negativos, o volume da bibliografia foi o mais citado. O diagnóstico ratificou, ainda, a necessidade de reorganização do material instrucional e da oferta de estratégias de ensino que estimulem o interesse dos participantes. O estudo deu origem à implementação da versão 2.0 do curso online. A reorganização dos módulos tornou a ferramenta mais sequenciada, de forma que a temática anteriormente abordada é um pré-requisito para o módulo subsequente. Além disso, foram inseridas diferentes linguagens e estratégias de ensino: vídeos, atividades lúdicas e representações gráficas. Mais de 40 pessoas – entre profissionais e estudantes do IOC – participaram do processo de validação da nova versão.
Gutemberg Brito |
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Thiago Pavoni, Mônica Jandira, seus orientadores e os coordenadores das Pós-graduações em Medicina Tropical e em Ensino em Biociências e Saúde celebram o momento de entrega da honraria |
Uma das manifestações clínicas mais graves do vírus da herpes simples, a encefalite herpética pode provocar crises convulsivas, déficit motor e nível reduzido de consciência. O tratamento atual, baseado em medicamentos específicos contra o vírus, apresenta uma alta taxa de toxicidade, além de efeitos colaterais e desafios crescentes de resistência. No estudo desenvolvido no âmbito da Pós-graduação em Medicina Tropical, o recém-formado Alexandre dos Santos da Silva avaliou o uso de moléculas de RNA de interferência (siRNA), capazes de inibir a replicação do vírus, como estratégia terapêutica para o tratamento da encefalite herpética. A pesquisa realizada com camundongos testou o uso da molécula RVG-9R no tratamento da doença. Os resultados mostraram a inibição da replicação do vírus tanto no cérebro quanto no gânglio trigeminal dos animais, com capacidade de redução dos sintomas logo no início da infecção. A utilização da molécula foi mais eficaz na diminuição dos sinais clínicos da doença que o aciclovir – medicamento mais importante no tratamento das infecções pelo vírus herpes. Já a administração combinada de RVG-9R com o aciclovir teve um efeito ainda mais importante: além de inibir a replicação do vírus, foi capaz de prevenir a mortalidade dos camundongos, reduzir a perda de peso e as manifestações da encefalite herpética. O trabalho foi orientado pela pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, Vanessa Salete de Paula.
Gutemberg Brito |
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Alexandre apresenta resultados da sua pesquisa durante a sessão especial do Centro de Estudos do IOC |
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a epidemia de HIV do tipo 1 (HIV-1) apresentou aumento das mutações genéticas relacionadas à resistência aos medicamentos antirretrovirais. A tendência foi verificada no doutorado de Edson Oliveira Delatorre, desenvolvido na Pós-graduação em Biologia Parasitária. A avaliação da diversidade genética do vírus é fundamental para o monitoramento e detecção precoce da potencial introdução e disseminação de vírus emergentes na epidemia brasileira. Para as análises, foram consideradas gestantes infectadas pelo HIV-1. As mutações podem trazer impactos na eficácia da terapia profilática para a prevenção da transmissão vertical do vírus, da mãe para o bebê. De acordo com a pesquisa, a epidemia do HIV-1 na região metropolitana se modificou entre os períodos de 2005 a 2008 e de 2012 a 2015, com um aumento significativo na circulação de subtipos não-B (de 19% para 31%). Além da linhagem majoritária do subtipo C, que circula pelo Brasil, outras cinco variantes do mesmo subtipo, originadas de diferentes regiões africanas, foram encontradas no Rio de Janeiro. A circulação de diferentes linhagens do vírus de origem africana indica a existência de redes de transmissão com cerca de 30 anos, que atuam na região metropolitana e no interior do estado.
O trabalho do recém-doutor Carlos Manuel Dutok Sánchez, formado pela Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde, investigou o potencial do sapoti, fruto que tem sido alvo de estudos na medicina etnobotânica, para o controle alternativo de moscas. De acordo com a pesquisa, o uso do fruto pode alterar o desenvolvimento pós-embrionário de espécies da mosca doméstica e de moscas da família Calliphoridae. Além da diminuição da quantidade de larvas, foram alcançadas porcentagens de mortalidade acima de 40%, com um índice de até 61% para no caso da mosca doméstica. Nos estudos de atividade inseticida, o uso do extrato aquoso bruto do fruto demonstrou agir diretamente sobre o período de desenvolvimento dos insetos, de larva a adulto, o que o torna um candidato para o controle alternativo das espécies. Tanto a fruta como o extrato preparado a partir de suas sementes têm demonstrado níveis baixos ou ausentes de toxicidade. Os pesquisadores realizaram triagens fitoquímicas dos extratos aquoso e hidroalcoólico das sementes para determinar os parâmetros de controle de qualidade e a composição química do material. De acordo com a pesquisa, os dois extratos, classificados como ‘potencialmente não irritantes’, poderiam ser utilizados sem provocar reações colaterais quando em contato com a pele. O trabalho foi orientado pelos pesquisadores Margareth Maria de Carvalho Queiroz, chefe do Laboratório de Entomologia Médica e Forense do IOC, e Bernardo Reyes Tur.
Gutemberg Brito |
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Os recém-formados, Edson Delatorre e Carlos Sánchez, também comemoraram o recebimento do prêmio |
O Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto foi criado para contemplar as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC. A premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente em fevereiro 2013, época em que coordenava o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Celular e Molecular, como uma homenagem ao geneticista por seu legado na formação de jovens pesquisadores e cientistas. Clique aqui para conhecer os ganhadores das edições anteriores.
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