Publicada em: 06/12/2016 às 19:47 |
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Workshop sobre resistência a inseticidas Evento com especialistas de quase 30 países destaca o alcance global do problema e a importância de ferramentas integradas para manejo de vetores. IOC é anfitrião da atividade :: Confira a programação do evento
Investigando mecanismos moleculares que contribuem para a resistência de mosquitos aos inseticidas, a pesquisadora do Instituto de Ciências da Evolução de Montpellier, na França, Mylène Weill mostrou que diversas mutações genéticas podem permitir aos insetos sobreviver aos produtos aplicados. No entanto, no dia-a-dia, o processo de seleção dos mosquitos resistentes é resultado da combinação de dois fatores: as características genéticas dos mosquitos e a pressão seletiva exercida pelo ambiente. Segundo Mylène, em muitos casos, os insetos que apresentam mutações de resistência têm o seu ciclo de vida e o desempenho nas mais diversas atividades prejudicados. Ou seja, eles levam mais tempo para se desenvolver, se reproduzem menos e morrem mais rapidamente, o que é chamado de ‘custo de fitness’. Apesar disso, esses mosquitos podem se tornar predominantes nos locais onde os inseticidas são utilizados. “Quanto maior ‘custo de fitness’, melhor para o manejo da resistência, porque podemos tentar reverter o perfil de resistência na população de mosquitos suspendendo o uso ou fazendo rodízio de produtos”, explicou a pesquisadora, fazendo a ressalva de que é preciso considerar os diversos usos de inseticidas na sociedade. “Em Montpellier, a resistência aos inseticidas da classe dos organofosforados não foi eliminada após a suspensão do uso desses produtos no controle vetorial. Acreditamos que isso possa estar relacionado com a aplicação de pesticidas na agricultura”, ponderou. O impacto da globalização para a disseminação da resistência aos inseticidas entre mosquitos foi discutido pela pesquisadora da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, Dina Fonseca. “Para prever a disseminação da resistência é preciso compreender a globalização dos mosquitos”, disse a cientista, que mostrou o exemplo de uma espécie de Aedes característica do Japão, chamada de Aedes japonicus, que começou a se espalhar no final do século XX e rapidamente se disseminou para os EUA e a Europa. Embora não seja um vetor importante de doenças, o mosquito é apontado como um exemplo, capaz de evidenciar o deslocamento acelerado dos insetos que acompanha a movimentação de pessoas e mercadorias. Segundo Dina, os dados coletados revelam que múltiplas introduções do A. japonicus ocorreram nas últimas décadas em diferentes regiões do planeta. “A globalização pode favorecer a disseminação da resistência porque populações de mosquitos resistentes podem ser introduzidas em novas áreas. Ao mesmo tempo, torna-se mais difícil diferenciar situações de falhas de controle dos episódios de reintrodução”, comentou a pesquisadora, enfatizando a necessidade da colaboração científica para mapear as origens dos mosquitos e investigar formas de interromper a disseminação da resistência.
Em elaboração desde agosto, um novo plano de ‘Resposta Global para Controle de Vetores’ deve ser apresentado na próxima assembleia geral da OMS, em maio de 2017. A construção do documento foi uma das respostas da entidade após a disseminação do vírus Zika, que chamou atenção para o “fracasso maciço das políticas de controle vetorial”, segundo a diretora geral da OMS, Margaret Chan. Um dos envolvidos no projeto, o coordenador de ecologia e manejo de vetores do Departamento de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS, Raman Velayudhan, afirmou que o baixo investimento e a falta de continuidade das iniciativas são os principais entraves para a efetividade das políticas de controle vetorial. De acordo com ele, o combate aos mosquitos nos ambientes urbanos, habitat preferencial do Aedes aegypti, é complexo, mas existem exemplos bem-sucedidos em países diversos como Singapura, Cuba e Sudão. “Esse é o elefante na sala e não podemos mais ignorá-lo. Nos próximos cinco a dez anos, 75% da população global será urbana e existem cerca de 500 vírus com potencial para transmissão nessas áreas. Precisamos passar de uma abordagem reativa para uma ação planejada de controle vetorial”, disse Raman. Algumas estratégias disponíveis atualmente para o manejo integrado de vetores foram detalhadas pela pesquisadora da Universidade de Durham, no Reino Unido, Anne Wilson. Segundo ela, o controle do Aedes precisa ter por base três pilares: as ferramentas de controle vetorial, que devem ir além dos inseticidas; o engajamento das comunidades, que busca estimular a participação da população na prevenção das doenças; e o engajamento de setores governamentais fora da área da saúde, com o objetivo de melhoria nos serviços públicos como fornecimento de água, drenagem e coleta de lixo. Citando exemplos de ações exitosas, Anne disse que um estudo realizado no México apontou redução nos criadouros do Aedes após um programa de estímulo à reciclagem. “O manejo integrado de vetores é uma estratégia contra a resistência, porque pode reduzir a aplicação de inseticidas. É necessário investir em estudos que avaliem a eficácia das diferentes medidas e trabalhar para construir cidades que sejam desfavoráveis à proliferação do mosquito”, afirmou ela. Reportagem: Maíra Menezes Edição: Raquel Aguiar 06/12/2016 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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