Publicada em: 22/02/2018 às 16:53 |
|||||||||
Conheça os mosquitos que podem transmitir febre amarela Pesquisadores explicam hábitos, ciclo de vida, formas de infecção, prevenção e possibilidade de reurbanização da doença. Assista ao vídeo Dados do Ministério da Saúde mostram que o país contabiliza, de julho de 2017 a fevereiro de 2018, 237 mortes por febre amarela, com 723 casos confirmados e 785 em investigação. Até o momento, todas as notificações estão associadas ao ciclo silvestre da doença, afetando pessoas que contraíram o vírus em áreas de mata ou em suas proximidades. Segundo a pasta, os casos de infecção em área urbana não ocorrem no Brasil desde 1942. Uma das diferenças centrais entre os dois ciclos da infecção está nos mosquitos que transmitem o vírus da febre amarela em cada ambiente, como explicam pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Enquanto nas florestas insetos dos gêneros Haemagogus e Sabethes disseminam o agravo, nas cidades, o Aedes aegypti, vetor da dengue, Zika e chikungunya, tem potencial de transmissão. Em testes de laboratório, foi comprovada a capacidade de mosquitos Aedes do Rio de Janeiro, Manaus e Goiânia de transmitir linhagens do vírus que circulam no Brasil e na África. Os especialistas ressaltam a importância de medidas preventivas para evitar a possibilidade de reurbanização da doença. Assista ao vídeo e saiba mais:
“Os mosquitos Haemagogus e Sabethes vivem na copa das árvores. Por isso, o alvo preferencial das suas picadas são os macacos, que compartilham o mesmo habitat”, relata Dinair Couto, pesquisadora do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários. Assim, no ciclo silvestre da febre amarela, a circulação do vírus é mantida pela interação entre os vetores e os primatas, que são os principais hospedeiros e amplificadores do vírus: é a partir da picada em primatas infectados que mais mosquitos podem contrair o vírus.
Visualmente, Haemagogus e Sabethes são mosquitos bem diferentes. No entanto, seus hábitos apresentam semelhanças. No primeiro grupo, os Hg. leucocelaenus apresentam o tórax coberto de escamas escuras com uma faixa prateada longitudinal na parte superior, enquanto os Hg. janthinomys possuem o tórax coberto de escamas de tonalidade escura, que varia de verde-escuro a azul. “A olho nu, os Haemagogus se parecem com os Aedes, sendo que os Hg. leucocelaenus se assemelham especialmente aos Aedes albopictus por possuírem a mesma listra longitudinal no tórax. A principal diferença é que eles não apresentam listras brancas nas pernas”, destaca Dinair. Por outro lado, os Sabethes chamam atenção pelo colorido metalizado, com tons de violeta, roxo, azul e verde.
Insetos Haemagogus e A. aegypti compartilham uma vantagem reprodutiva: seus ovos podem permanecer viáveis no ambiente por períodos de seca, até que a chuva abasteça novamente os criadouros com água, contribuindo para o nascimento das larvas. A resistência à dessecação é menor para os Haemagogus – cerca de quatro meses – do que para os A. aegypti – pode chegar a um ano. Ainda assim, segundo as pesquisadoras, o período é longo o suficiente para favorecer a continuidade das espécies em locais com variação na frequência de chuvas. Em contrapartida, os ovos de Sabethes precisam entrar em contato com a água logo após a postura ou perdem a viabilidade.
A presença do vetor não é o único fator necessário para a ocorrência de casos de febre amarela. Para que a doença seja disseminada, é preciso haver também vírus em circulação e indivíduos suscetíveis, que possam ser infectados. Considerando esse tripé, os registros de febre amarela em áreas silvestres costumam ter um caráter sazonal, com ocorrência de surtos maiores em intervalos de cinco a dez anos. Geralmente, os casos acontecem entre dezembro e maio, meses chuvosos em grande parte do Brasil, o que favorece a proliferação dos vetores. Além disso, embora haja registros da doença anualmente, epizootias de maior escala são observadas em intervalos de cinco a dez anos. Isso ocorre porque, após um surto, grande parte dos primatas infectados morre e aqueles que sobrevivem adquirem imunidade para o resto da vida. Com isso, a circulação do vírus se torna limitada pela ausência de indivíduos suscetíveis e só volta a crescer conforme aumenta o número de macacos jovens, que não tiveram contato com o agravo, aumenta. Tabela com as características de cada inseto (clique aqui para ampliar) “Quando ocorre uma grande epizootia, o risco de casos humanos acontecerem aumenta, pois a circulação do vírus se torna mais intensa. Porém, é importante destacar que, diferentemente dos animais, as pessoas possuem um meio eficaz de se prevenir: a vacina”, enfatiza Dinair. A lista de municípios com recomendação de vacina pode ser conferida no site do Ministério da Saúde. Pessoas que vão viajar para estas localidades também devem se vacinar com, pelo menos, dez dias de antecedência. Além de seguir as recomendações para imunização, é importante intensificar o combate ao A. aegypti nas cidades, para prevenir um possível retorno da forma urbana da febre amarela. Um estudo liderado pelo IOC em parceria com o Instituto Pasteur, na França, demonstrou, em testes de laboratório, que mosquitos fluminenses das espécies Aedes aegypti, Aedes albopictus, Haemagogus leucocelaenus e Sabethes albipirvus são altamente suscetíveis à transmissão das linhagens virais da febre amarela que circulam no Brasil e na África. A competência vetorial dos mosquitos Aedes também foi verificada em Manaus e, em menor grau, em Goiânia. Confira todos os detalhes do estudo clicando aqui. “Combater o Aedes aegypti é fundamental para reduzir o risco da reintrodução do ciclo urbano da febre amarela, assim como para enfrentar a dengue, a Zika e a chikungunya”, diz a pesquisadora Goreti Freitas, lembrando que eliminar os criadouros é uma das principais formas de combater o vetor. “Diferentemente das espécies silvestres, que colocam seus ovos nos ocos das árvores, o A. aegypti prefere os criadouros artificiais, comuns no ambiente domiciliar. Por isso, é preciso vedar as caixas d’águas, colocar tela nos ralos e descartar adequadamente os objetos que podem acumular água”, orienta ela. Reportagem: Maíra Menezes Edição: Raquel Aguiar e Vinicius Ferreira Atualizada em 02/03/2018 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
|||||||||