Publicada em: 28/03/2017 às 12:00 |
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Carências na educação e queda no investimento são desafios para a ciência no Brasil Presidente da Academia Brasileira de Ciências apresentou palestra no primeiro dia do III Simpósio de Pesquisa e Inovação Das falhas estruturais no campo da educação às dificuldades de financiamento trazidas pelo atual momento político e econômico, os desafios urgentes para a ciência brasileira foram o primeiro tema debatido no III Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Iniciado nesta segunda-feira, 27/03, o evento segue até quarta-feira, 29/03, no Auditório Emmanuel Dias, Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Na cerimônia de abertura, o diretor do IOC, Wilson Savino, destacou a necessidade de reflexão sobre as questões que impactam nas atividades de pesquisa, para além dos desafios encontrados cotidianamente pelos pesquisadores nos trabalhos de campo e nas bancadas dos laboratórios. “Discutir questões que se colocam no nosso Instituto, como a interface da pesquisa com os serviços de referência e as coleções biológicas, e temas que afetam a atividade científica de forma geral, como os desafios para o financiamento e a importância da cooperação, é fundamental”, afirmou Savino. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Krieger, ressaltou a importância do debate para transformar os avanços científicos em inovação. “Os laboratório da Fiocruz sempre tiveram o compromisso com a produção do conhecimento científico em benefício da saúde pública. Precisamos dialogar para estabelecer uma política de inovação e superar as barreiras que ainda impedem que algumas descobertas sejam transformadas em produtos”, disse Krieger.
Na conferência, Davidovich lembrou que a institucionalização da atividade científica no Brasil ocorreu de forma tardia, com os primeiros institutos de pesquisa e universidades criados no começo do século XX – um exemplo é o atual Instituto Oswaldo Cruz, unidade germinativa da Fiocruz, que teve sua origem em 1900 . Em comparação, a Universidade de Harvard, primeira dos Estados Unidos, surgiu em 1636, e, na Europa, a Universidade de Bologna, mais antiga do continente, teve origem em 1088. Atualmente, o Brasil tem 710 doutores para cada milhão de habitantes. A taxa representa apenas cerca de um décimo do verificado nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde há 7,6 mil doutores para cada milhão de habitantes, e 60% do observado na Argentina, que possui 1.178 doutores para cada milhão de habitantes.
A falta de recursos para o financiamento da ciência, tecnologia e inovação no país foi outro ponto destacado pelo presidente da ABC. Após sucessivas quedas, em 2016, o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, assim como os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), da empresa Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) caíram abaixo dos níveis registrados em 2006. Segundo Davidovich, o cenário atual indica que dificilmente será atingida a meta de elevação do investimento no setor para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020 – a proposta foi definida no ano de 2010, ao final da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Em 2017, houve um aumento no orçamento com relação a 2016, mas ainda estamos muito abaixo do que havia em 2013. Afirma-se que isso é consequência da crise econômica, mas existe uma falta de percepção do papel da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento e o crescimento do país”, enfatizou o cientista. Enquanto o Brasil investe aproximadamente 1% do PIB em ciência, tecnologia e inovação, os Estados Unidos aplicam 2,8% e a Coreia do Sul, mais de 4%.
Edição: Raquel Aguiar 28/03/2017 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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