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Intercâmbio científico entre Brasil e China

Centro de Estudos discutiu experiências dos países no enfrentamento dos vírus ebola e Zika. Em visita para discutir parcerias, comitiva chinesa também visitou laboratório do IOC

O potencial de colaboração científica entre o Brasil e a China para o enfrentamento de doenças infecciosas foi destacado nesta terça-feira, 27 de junho, durante a sessão extraordinária do Centro de Estudos promovida conjuntamente pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) com apoio do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz). No encontro ‘Parceria Brasil-China em Saúde’, pesquisadores brasileiros e chineses apresentaram experiências importantes no enfrentamento de duas das mais recentes emergências de saúde pública internacionais: a epidemia de ebola na África ocidental e o surto de Zika e suas complicações.

O evento foi uma das primeiras atividades na agenda da delegação chinesa composta por representantes da Academia de Ciências da China, do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China (China CDC), do Hospital de Doenças Infecciosas de Shenzhen (Shenzhen Third People’s Infectious Disease Hospital) e do Instituto de Genômica de Beijing (BGI). Em uma visita de quatro dias, de 27 a 30 de junho, promovida pelo CDTS em parceria com o Cris, a comitiva participou de reuniões para discutir colaborações e visitou instalações da Fiocruz, especialmente ligadas a técnicas de genômica em saúde pública. O Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC foi uma das unidades que receberam o grupo. Pesquisadores chineses também apresentaram uma palestra sobre as atividades do BGI, considerado um dos maiores centros de sequenciamento genético no mundo.

Foto: Gutemberg Brito

A colaboração científica entre Brasil e China foi considerada estratégica pelos componentes da mesa de abertura do evento

Na abertura do Centro de Estudos, o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, destacou o aspecto estratégico da colaboração entre Brasil e China. “Os dois países integram o grupo Brics [sigla em inglês para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e mantêm uma relação econômica forte. Considerando o alto grau de desenvolvimento científico e industrial da China atualmente, é muito importante que a parte científica dessa cooperação também avance”, afirmou José Paulo. O coordenador do CDTS, Carlos Morel, disse que o controle de epidemias é um tema de interesse para ambos os países. “No Brasil, enfrentamos doenças como dengue, chickungunya e Zika, enquanto a China fez um grande investimento na área de saúde pública depois da epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que atingiu o país no começo dos anos 2000. Temos problemas comuns e capacidade científica para compartilhar”, avaliou Morel.

O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, e o diretor do Cris, Paulo Buss, consideraram ainda que a aproximação entre Brasil e China ocorre em um momento oportuno. “Vivemos um período de emergência e reemergência de doenças, que reforça a importância da pesquisa na área de doenças infecciosas. Esse encontro é relevante para discutirmos questões científicas e, principalmente, como podemos nos tornar grandes parceiros no futuro”, afirmou Rodrigo. “O intercâmbio de ciência e conhecimento é fundamental para o enfrentamento de doenças como ebola e Zika. A Fiocruz mantém colaborações tradicionais, principalmente com países das Américas e da Europa, e a cooperação com a China pode ser um exemplo para a expansão dessa rede”, destacou Buss.

Foto: Gutemberg Brito

A sessão extraordinária do Centro de Estudos lotou o auditório Arthur Neiva, no campus da Fiocruz em Manguinhos

O caráter global das doenças virais foi o ponto de destaque da palestra do vice-diretor geral de Pesquisa e Gestão de Laboratórios do CDC chinês e membro da Academia de Ciências da China, George Fu Gao. Ele lembrou que fenômenos como as mudanças climáticas e as transformações comportamentais das populações humanas vêm favorecendo a emergência de patógenos. Virologista com um amplo trabalho relacionado à interação entre vírus e células hospedeiras e ecologia viral, o pesquisador abordou questões ligadas à evolução dos vírus influenza, causadores da gripe, e resultados de estudos recentes, realizados pela sua equipe, sobre o vírus Zika. “China e Brasil algumas vezes estão diante dos mesmos problemas e podemos fazer algo juntos para enfrentá-los. Por exemplo, no caso do vírus Zika, podemos colaborar para desenvolver inibidores virais, aprimorar a detecção de anticorpos e elaborar vacinas. Como integrantes do grupo Brics, nossa cooperação também pode ajudar outros países, especialmente na África”, afirmou Gao, que, em 2014, liderou equipes chinesas que participaram do combate ao ebola em Serra Leoa.

Foto: Gutemberg Brito

O potencial para colaboração em estudos de sequenciamento genético e imunologia foi apontado por pesquisadores brasileiros e chineses

A atuação chinesa no combate ao ebola na África ocidental foi detalhada pelo pesquisador do Instituto Nacional para Controle e Prevenção de Doenças Virais do CDC da China, William J. Liu. Mais de 70 profissionais do país estiveram na região, atuando em atividades de laboratório, clínicas e de treinamento em saúde pública. O pesquisador, que atuou em Serra Leoa, contou que, além de implantar laboratórios móveis, o grupo construiu o primeiro laboratório fixo com nível de biossegurança 3 do país. “Treinamos mais de 20 profissionais locais. Essa plataforma não se restringe ao diagnóstico do ebola, mas também pode ser utilizada em investigações sobre Zika, febre amarela e outras infecções, com ferramentas para diagnóstico molecular, sorológico e sequenciamento genético”, ressaltou Liu. Entre os estudos desenvolvidos, o pesquisador citou o trabalho que apontou a persistência do ebola no sêmen de pacientes por até nove meses após a recuperação clínica, com a presença de partículas virais infectivas. O estudo foi desenvolvido em parceria pelo CDC da China, CDC dos Estados Unidos, Organização Mundial da Saúde (OMS) e governo de Serra Leoa.

A experiência brasileira diante do vírus Zika foi relatada pelos pesquisadores Patrícia Brasil e José Cerbino, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e Thiago Moreno L. Souza, do CDTS. Patrícia abordou estudos com resultados importantes para o enfrentamento da doença. Entre os trabalhos, citou uma avaliação retrospectiva que apontou a ocorrência de infecções por Zika no Rio de Janeiro em janeiro de 2015, meses antes da primeira detecção do patógeno no país, e uma pesquisa que acompanhou mais de cem gestantes diagnosticadas com a doença, identificando problemas associados ao agravo em 46% das gestações. Discutindo a circulação simultânea dos vírus Zika, chikungunya e dengue no Rio de Janeiro em 2016 e 2017, Cerbino enfatizou a necessidade de aprimorar as ferramentas para diagnóstico. Segundo ele, dados preliminares indicam que, devido à semelhança dos sintomas entre as três doenças, a taxa de concordância entre a suspeita clínica e a avaliação laboratorial fica em torno de 50%. “Nesse cenário, o diagnóstico clínico é um desafio e precisamos dos métodos laboratoriais”, disse Cerbino. A busca por terapias que possam prevenir os danos causados pelo Zika foi um dos temas debatidos por Thiago. O pesquisador apresentou resultados da pesquisa que apontou a capacidade do medicamento antiviral sofosbuvir, usado no tratamento da hepatite C, para inibir a replicação do vírus Zika. Ele abordou ainda um estudo recente que apresentou o maior banco de sequências genéticas do microrganismo publicado na literatura científica. “O sequenciamento genético do vírus Zika é difícil, mas esse resultado foi alcançado pela colaboração nacional e internacional. Esse é um dos temas importantes nos quais a colaboração entre Brasil e China pode ser produtiva”, comentou Thiago.

Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Raquel Aguiar
29/06/2017
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