Publicada em: 22/08/2017 às 16:17
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Primeiros passos
Jornalismo

Profissionais com diferentes perfis na área da saúde e vindos de diferentes partes do Brasil compõem a primeira turma da Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores

As atividades da Pós-graduação Stricto sensu em Vigilância e Controle de Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) tiveram início nesta segunda-feira, 21/08, com uma aula inaugural sobre os desafios da febre amarela – tema que dá a proporção da relevância do assunto a que o novo curso se dedica. A primeira turma de mestrado profissional é composta por 24 profissionais graduados em diferentes áreas da saúde, incluindo ciências biológicas, medicina, veterinária, farmácia e gestão ambiental. “Aprovar a criação de um curso de pós-graduação é uma verdadeira batalha. Tenho certeza de que a formação será excelente, tanto pela qualidade da grade curricular, como pelo empenho e dedicação dos professores”, destacou José Paulo Gagliardi Leite, diretor do IOC, na cerimônia de abertura das atividades. “Estamos muito felizes pela concretização da mais nova Pós-graduação do Instituto. É uma oportunidade única à qual vocês devem se agarrar ao máximo em busca de novos conhecimentos”, complementou Marcelo Alves Pinto, vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC.

Oriundos de sete estados brasileiros e do Distrito Federal, muitos dos estudantes atuam em secretarias municipais e estaduais de saúde. O potencial da formação que se inicia é destacado pelo coordenador do Programa, Fernando Genta. “A ideia central é estimular, entre os alunos, a elaboração de projetos voltados para o controle integrado de vetores, que possam ser aplicados em benefício da saúde pública”, afirmou o pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos.

Gutemberg Brito

Alunos e docentes celebram o início das atividades do curso de mestrado profissional em Vigilância e Controle de Vetores do IOC


Pluralidade de perfis

Entre os estudantes da primeira turma, está a bióloga marinha Betânia Ferreira da Silva Costa, que atua como gerente da Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, no Tocantins. Ao longo dos próximos meses, ela vai conciliar a rotina de trabalho às atividades da Pós-graduação. “Palmas tem uma grande demanda em relação a doenças transmitidas por vetores. Além das arboviroses, as leishmanioses, malária e doença de Chagas são endêmicas no município. A expertise na área vai nos permitir agir de forma pontual sobre esses agravos. Além disso, o curso vai atender ao Brasil de forma geral, não apenas um grande centro como o Rio de Janeiro”, destacou Betânia.

Aos 58 anos, o biólogo Renato Cesar Maspero busca o aperfeiçoamento da interface serviço e pesquisa. “O mestrado proporciona o conhecimento integral de uma variedade de temas. O curso vai fornecer as condições fundamentais para a elaboração de projetos que poderão ser aplicados ao trabalho de campo”, ressaltou Maspero, auxiliar de controle de endemias e gerente de fator de risco biológico na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Moradora de Brasília, Thayna Maria Holanda de Souza presta consultoria técnica para a Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, na área de doenças transmitidas por vetores e animais peçonhentos. “Eu vejo o Instituto Oswaldo Cruz, e a Fiocruz como um todo, como uma instituição de muita expertise na área. Há um grande potencial de aprendizado e troca de conhecimento. Vamos poder utilizar os conteúdos técnicos e científicos diretamente na atuação prática no serviço em saúde. Acredito que esse será o grande diferencial de um mestrado profissional em relação ao mestrado acadêmico”, pontuou Thayna, formada em Química.

Lucas Rocha

Diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite destacou a importância da criação de um curso de pós-graduação na área de vetores


Os caminhos da febre amarela

A aula inaugural da nova Pós-graduação foi ministrada pelo historiador Jaime Benchimol, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O pesquisador traçou um panorama histórico da febre amarela, que teve sua primeira epidemia conhecida no Brasil em 1685, no Recife. A origem teria sido um barco vindo da África, com escala em São Domingos, nas Antilhas. A partir do século XIX, a febre amarela se tornou um grande problema de saúde no continente americano. No Rio de Janeiro, uma epidemia entre os anos de 1849 e 1850 trouxe mudanças para a cidade, como o advento dos primeiros órgãos de saúde pública criados pelo governo imperial.

“A febre amarela era o grande atoleiro da saúde pública brasileira no início do século XX”, enfatizou Benchimol. Em 1902, o então presidente da República, Rodrigues Alves, colocou em prática uma grande reforma urbana. A partir da nomeação de Pereira Passos como prefeito do Rio de Janeiro, a cidade passou por diversas mudanças de infraestrutura, como o alargamento de ruas, o aterro de zonas portuárias, a demolição de áreas insalubres e a construção de novos espaços. Na época, o cientista Oswaldo Cruz, que dirigia o então Instituto Soroterápico Federal (nomeado como Instituto Oswaldo Cruz anos mais tarde), assumiu o cargo de diretor-geral de Saúde Pública e se comprometeu a erradicar a febre amarela da capital do país – feito alcançado em 1907.

Porém, em 1928, o Rio foi acometido por uma nova epidemia, o que levou a uma grande campanha para a erradicação do Aedes aegypti no Brasil e em outros países do continente com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e da Fundação Rockefeller. A erradicação no país foi alcançada em 1958, mas o vetor permaneceu em áreas como Venezuela, sul dos Estados Unidos, Guianas e Suriname, além de toda a extensão insular que engloba Caribe e Cuba. A reintrodução do mosquito no Brasil aconteceu no final da década de 1960 e, hoje, há presença em todos os Estados brasileiros.

A febre amarela tem despertado a atenção de pesquisadores e autoridades de saúde devido aos recentes surtos no Brasil. Até o momento, foram registrados apenas casos da febre amarela silvestre, cuja transmissão ocorre por meio de mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. A maior preocupação de especialistas é que a doença alcance as grandes cidades e passe a ser transmitida pelo Aedes aegypti – vetor dos vírus dengue, Zika e chikungunya –, o que não acontece no Brasil desde 1942.

Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Raquel Aguiar
22/08/2017
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)


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