Publicada em: 13/03/2018 às 10:51 |
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Nova evidência sobre a alta resistência dos ovos do Aedes aegypti à desidratação Mesmo pigmento famoso por definir a cor da pele, a melanina é um dos fatores que permite aos ovos do mosquito sobreviver por muito tempo sem contato com a água. Descoberta reforça a recomendação para eliminação correta dos criadouros do Aedes
Após uma bateria de análises que envolveu mais de 20 mil ovos de quatro espécies de mosquitos, incluindo o Aedes aegypti, pesquisadores identificaram que o grau de presença de melanina, relacionada à pigmentação escura, na casca do ovo influencia diretamente sua resistência à dessecação: quanto mais escuro, mais o ovo conseguirá sobreviver em ambientes secos. Como o ciclo de vida dos mosquitos depende de uma fase aquática – é em ambientes com água que os ovos são depositados – entender a resistência do ovo à dessecação significa responder questões sobre a própria sobrevivência das espécies em ambientes hostis e sua manutenção na natureza mesmo após períodos de seca prolongada. Conduzida por especialistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, em colaboração com a Universidade da Flórida, a pesquisa foi publicada na revista internacional ‘Plos Neglected Tropical Diseases’. Clique aqui para acessar. Josué Damacena
Luana Farnesi analisando alguns dos mais de 20 mil ovos de mosquitos: "achado pode abrir caminho para novas alternativas de controle do vetor" Ao mesmo tempo, a descoberta reforça o papel fundamental da prevenção, a partir da ação semanal em nossas casas, com a remoção manual de potenciais criadouros onde esses ovos podem ser depositados. A evidência trazida pelo estudo em relação ao alto grau de resistência à dessecação dos ovos, que permite que eles sejam transportados a grandes distâncias em recipientes secos, sem serem percebidos justamente por serem escuros, demonstra a necessidade do combate continuado aos criadouros, em todas as estações do ano. “Este achado reforça a orientação sobre a necessidade de não apenas jogarmos fora a água encontrada em um recipiente, mas de esfregarmos a parede do local com a parte verde da esponja. Isso irá esmagar os ovos, inviabilizando que chegue à fase de mosquito adulto, capaz de transmitir doenças a partir da picada”, alerta a pesquisadora Denise Valle, do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC, que juntamente com o biomédico Gustavo Rezende, da UENF, orientou Luana. “É mais fácil controlar o Aedes em suas fases aquáticas - de ovo, larva e pupa –, pois está confinado em um local, do que na fase adulta, quando pode voar e se esconder”, completa. A bióloga Helena Martins Vargas, da UENF, também assina o artigo.
“A introdução dessas duas linhagens na pesquisa foi fundamental para respondermos à pergunta biológica sobre a importância da melanização como indicador da resistência dos ovos à perda de água. Vimos que a casca de ovos da espécie geneticamente modificada, que possuía coloração mais clara, perdia água mais rapidamente do que a casca de ovo da linhagem selvagem, de cor escura. De todos os testes que realizamos, essa foi a única diferença biológica entra elas, evidenciando o importante papel da melanina para a manutenção da espécie”, explicou Luana, que, desde 2003, desenvolve estudos sobre os mecanismos ligados à impermeabilidade de ovos do Ae. aegypti. De olho no controle do Aedes O estudo gera novas pistas sobre uma das numerosas características evolutivas que conferem ao Aedes uma elevada taxa de sobrevivência. Silencioso e de medida milimétrica, ele é capaz de picar uma pessoa e passar despercebido. A saliva das fêmeas, que se alimentam de sangue como parte do processo de maturação dos ovos, possui substâncias anestésicas e anticoagulantes que a possibilitam sugar até duas vezes seu peso em sangue sem ser incomodada. Com essa alimentação, ela é capaz de dar à luz uma geração com cerca de 1500 novos mosquitos, ao longo de seus pouco mais de 30 dias de vida. Essa família extensa é derivada de uma estratégia, digamos, interessante: os ovos, de cor escura, são distribuídos por diversos criadouros, muitos também de cores escuras, como vasos de plantas e pneus; de difícil acesso, como calhas, caixas d’água e bandejas de ar-condicionado; ou não convencionais, como vasilhas de água de animais. Para mais informações, conheça a iniciativa ’10 Minutos Contra o Aedes’ e acompanhe o conjunto de videoaulas ‘Aedes aegypti: introdução aos aspectos científicos do vetor’. 13/03/2018 |
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