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Publicação retrata impactos da gripe espanhola no Rio de Janeiro

Papel do cientista Carlos Chagas na resposta à doença é relatado em livro sobre grande pandemia de influenza, que completa um século em 2018. Obra está disponível para download gratuito

A maior pandemia causada por vírus Influenza dos últimos tempos foi registrada há cem anos: a gripe espanhola, que assolou a Europa e chegou a atingir diversos países, incluindo o Brasil, dizimou entre 20 e 40 milhões de pessoas, segundo a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os impactos para o Estado do Rio de Janeiro e a resposta ao problema – que envolve o cientista Carlos Chagas – estão descritos no livro ‘A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global’, de autoria dos pesquisadores Hermann Schatzmayr, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e Maulori Cabral, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A publicação, que teve sua segunda edição publicada em 2012, está disponível para download gratuito [clique aqui – confira o capítulo sobre a gripe espanhola a partir da página 57]. Falecido em 2010, Hermann Schatzmayr foi um dos expoentes da virologia brasileira [saiba mais sobre o cientista].

A publicação relata que os primeiros casos da gripe com alta taxa de letalidade foram registrados em 1918, após a Primeira Guerra Mundial, entre militares e civis. A pandemia recebeu o nome de gripe espanhola devido ao grande número de casos relatados inicialmente no país, que estava neutro no conflito armado e permitiu a divulgação de dados epidemiológicos. No entanto, dezenas de outros países também foram atingidos.

Estimativas apontam que em oito meses de circulação da cepa virulenta, metade da população mundial tenha tido contato com o microrganismo. A doença, que se manifestava inicialmente como uma gripe comum, evoluía rapidamente para um quadro de pneumonia grave. Nos casos mais acentuados, poucas horas após a internação surgia o quadro de cianose (a tonalidade azulada da pele relacionada à baixa oxigenação) e, em curto prazo, evolução para óbito por insuficiência respiratória aguda.

A principal hipótese é de que o vírus tenha chegado ao Brasil pelo porto de Recife, em setembro de 1918, trazido por marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal. Em setembro, a doença foi detectada em 88 militares que retornaram do país africano e, em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói. As primeiras mortes no Estado apareceram em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

O livro relata que o pânico tomou conta da cidade do Rio de Janeiro, capital do país à época, à medida que os casos aumentavam em número e gravidade. Aos poucos, serviços públicos como escolas e repartições foram interrompidos e o atendimento na área da saúde se tornou caótico. A situação crítica levou à renúncia do então Diretor Geral de Saúde Pública (cargo aproximado ao de Ministro da Saúde atualmente), Carlos Seidl. O novo diretor, Theóphilo Torres, convidou o pesquisador Carlos Chagas, que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate ao agravo, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa. O livro relata que este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.

Em 2005, cientistas realizaram o sequenciamento genético do vírus responsável pela pandemia de 1918 e constataram que se tratava da Influenza A (H1N1). Análises sugerem que a alta mortalidade pode ter sido causada pela rápida elevação do nível de citocinas no organismo, que ocasiona intenso acúmulo de fluidos nos pulmões, comprometendo suas funções em poucas horas. A hipótese reforça o alto número de mortes registradas entre jovens saudáveis, uma vez que, nessas circunstâncias, o sistema imunológico responderia de forma mais exacerbada em relação a idosos.

Outras epidemias
Após o episódio da gripe espanhola, outras pandemias surgiram no mundo, com menor gravidade, dentre elas a gripe asiática (1957), causada pelo vírus Influenza A (H2N2), e a gripe de Hong Kong (1968), ocasionada pela cepa Influenza A (H3N2). A pandemia registrada em 2009 também teve como agente uma variante do vírus H1N1, tecnicamente chamado Influenza A(H1N1)pdm09. A principal hipótese sobre a origem do vírus que concentrou a atenção global em 2009 é de que a cepa tenha se originado a partir de um patógeno animal, que, após mutações, se tornou capaz de infectar pessoas. A pandemia levou à morte entre 151 e 575 mil pessoas em todo o mundo, de acordo com um estudo publicado por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, no periódico científico The Lancet Infectious Diseases, em 2012.

Sobre a publicação
O livro ‘A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global’ apresenta uma perspectiva global e histórica desse campo de pesquisa no Estado, ao longo de mais de um século. A publicação descreve a atuação de instituições do Estado que realizam pesquisa, desenvolvimento tecnológico e produção de fármacos e outros produtos para tratamento e controle de viroses. A obra pode ser acessada online gratuitamente.


Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Raquel Aguiar
28/06/2018
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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