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Reforço no conhecimento das leishmanioses

Contexto histórico, epidemiologia e métodos para o controle e vigilância das doenças transmitidas por flebotomíneos foram destaques de curso voltado a estudantes de pós-graduação e profissionais de saúde

“As leishmanioses ainda representam problemas de saúde pública nas Américas. A vigilância e o controle dos agravos permanecem desafios, principalmente, devido aos distintos cenários epidemiológicos das doenças. O Brasil, por exemplo, concentra mais de 95% dos casos de leishmaniose visceral registrados no continente americano e está entre os países com o maior número de casos de leishmaniose cutânea”, destaca Ana Nilce Maia-Elkhoury, Assessora Regional para Leishmanioses nas Américas, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). A pesquisadora apresentou um panorama dos agravos no curso ‘Ecologia das Leishmanioses’, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), entre os dias 06 e 31 de agosto, no Rio de Janeiro. Temas abrangentes que permeiam o ciclo de transmissão das doenças foram abordados por especialistas de diferentes áreas ao longo da iniciativa, que contou com a participação de estudantes de pós-graduação e de profissionais que atuam em Secretarias de Saúde de estados como Rio Grande do Sul, Pará e Rio de Janeiro.

“Além de fazer parte do conteúdo oferecido na Pós-graduação do IOC, o curso cumpre um importante papel ao receber também profissionais vinculados às secretarias estaduais e municipais de saúde. A troca de conhecimento entre especialistas com diferentes experiências, como a pesquisa em laboratório e o serviço em saúde, tem sido exitosa”, destacou Elizabeth Ferreira Rangel, vice-diretora de Laboratórios de Referência e Coleções Biológicas do IOC e coordenadora da iniciativa. Rangel também atua como pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Diptera e Hemiptera, referência nacional para o Ministério da Saúde, regional e internacional para a OPAS em vigilância entomológica, taxonomia e ecologia de vetores das leishmanioses. “Ao reunir informações do ponto de vista ambiental e ecológico, o curso contribui para a melhor compreensão do processo de transmissão da doença em cada cenário epidemiológico”, complementou Ana Nilce.

Leishmanioses nas Américas
Doenças com elevada incidência e ampla distribuição geográfica nas Américas, as leishmanioses impõem desafios para os programas de âmbito nacional e regional. A especialista da OPAS aponta que há uma limitação de ferramentas disponíveis com capacidade para impactar favoravelmente na diminuição dos casos e mortes causados pelas leishmanioses. Os agravos afetam principalmente pessoas que vivem em situações precárias de moradia e condições sanitárias. Estão associados aos agravos fatores como desnutrição, sistema imune debilitado, deslocamento populacional e escassez de recursos financeiros.

Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Diferentes cenários epidemiológicos das leishmanioses nas Américas impõem desafios à vigilância e controle dos agravos, segundo a especialista da OPAS, Ana Nilce Maia-Elkhoury


De acordo com a OPAS, a leishmaniose cutânea permanece endêmica em pelo menos 18 países do continente americano. Apenas em 2016, foram reportados mais de 48 mil casos em 17 desses países, com maior número de registros no Brasil, Colômbia e Peru. O cenário epidemiológico da região é complexo devido a variações no ciclo de transmissão dos agravos, hospedeiros reservatórios, flebotomíneos vetores, manifestações clínicas e resposta à terapia. A circulação de diferentes espécies de leishmânias em uma mesma área geográfica também contribui para uma epidemiologia multifacetada.

A leishmaniose visceral, por sua vez, está distribuída em 76 países, sendo considerada endêmica em 12 países das Américas. Em 2016, foram registrados cerca de 3,4 mil casos da doença na região, com destaque para o Brasil, que concentra em torno de 96% dos casos. De 2012 a 2016, a doença levou à morte cerca de 1,2 mil pessoas no continente americano.

Capacitação
O médico veterinário Lucas Corrêa Born, que atua na Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, participou do curso em busca de aprimoramento. Em 2016, foram registrados os primeiros casos autóctones de leishmaniose visceral em humanos na capital Porto Alegre. “A leishmaniose é uma doença relativamente nova no estado, mas está em expansão. Por isso, é imprescindível investir em capacitação de recursos humanos”, destacou Born. Já a estudante Thamiris D’Almeida Balthazar, do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Medicina Tropical do IOC, ressaltou a importância da atividade para o desenvolvimento do seu trabalho de doutorado. “Estou fazendo o levantamento ecológico de flebotomíneos no Parque Estadual Três Picos, no município de Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro. O município apresenta casos de leishmanioses, mas ainda não conhecemos o vetor e o ciclo de transmissão. Além de abordar aspectos da ecologia das leishmanioses, a disciplina mostrou uma visão mais ampla em relação à epidemiologia das doenças, contemplando os cenários dos diferentes estados brasileiros e das Américas”, apontou a estudante.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Os alunos Lucas Born e Thamiris Balthazar, em primeiro plano, durante o curso que aliou atividades teóricas e práticas


O Curso ‘Ecologia das Leishmanioses’ abordou assuntos como agentes etiológicos, vetores e reservatórios, bem como a interação entre as diferentes espécies de leishmânias com hospedeiros vertebrados e invertebrados. Aspectos relacionados à manifestação clínica dos agravos, sintomas, métodos de diagnóstico e tratamento e a resposta imune em humanos também foram discutidos. O encontro também abriu espaço para a apresentação dos métodos de vigilância e controle dos vetores das leishmanioses preconizados pelo Ministério da Saúde, pela OPAS e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e discussão de propostas alternativas de metodologias. Além do conteúdo teórico, os participantes foram estimulados a realizar diferentes atividades práticas, incluindo taxonomia de flebotomíneos, ações de educação em saúde e de tecnologias sociais, manutenção de insetário especializado em flebotomíneos e apresentação de seminários. Os alunos realizaram, ainda, visita a área endêmica para a leishmaniose tegumentar no Campus Fiocruz da Mata Atlântica, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Vinicius Ferreira
03/09/2018
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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