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Por uma aprendizagem inclusiva e participativa

Conheça as pesquisas realizadas no Programa IOC-IFAC de Doutoramento em Ciência, Tecnologia e Educação na Amazônia, no âmbito da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde

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Da educação básica ao nível superior, passando por formações profissionalizantes, a busca por processos de ensino e aprendizagem inclusivos, críticos e participativos esteve no foco de sete teses defendidas no Programa IOC-IFAC de Doutoramento em Ciência, Tecnologia e Educação na Amazônia. Desenvolvidos na Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), os estudos estão entre os 19 projetos concluídos através da cooperação com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC). Os resultados dos trabalhos desenvolvidos por professores e técnicos do IFAC junto aos Programas de Pós do IOC foram apresentados no ‘Simpósio de Pós-graduação Stricto sensu IOC-IFAC: perspectivas integrativas na Amazônia’, realizado de 17 a 19 de outubro, no campus do IFAC, em Rio Branco, no Acre. Confira, a seguir, mais informações sobre os estudos.

Retratos da acessibilidade em instituições de ensino
A pesquisa do professor da área de administração do Instituto Federal do Acre (IFAC), César Gomes de Freitas, buscou identificar possíveis problemas no ensino tecnológico para pessoas com deficiência na região da Amazônia Ocidental. A tese ‘Realidade e Perspectivas do Ensino Tecnológico para Pessoas com Deficiência na Amazônia Ocidental: O Caso do Instituto Federal do Acre’ foi orientada pelas pesquisadoras Helena Carla Castro e Cristina Maria Delou, da Universidade Federal Fluminense (UFF). A avaliação, que teve como recorte o IFAC, considerou fatores como a acessibilidade da página do instituto na internet, ações institucionais e relatos de pessoas com deficiência. A realização de amplo levantamento, que analisou 97 sites de universidades e institutos federais de ensino superior, apontou necessidades de implementação de recursos de acessibilidade virtual, como o aumento de fonte textual, atalhos de navegação e opção de alto contraste. Enquanto 12 dos 38 sites de institutos não tinham nenhuma das ferramentas básicas, no caso das universidades, dos 59 portais analisados, 41 não contavam com os recursos. Atualmente, o site do IFAC conta com barra de acessibilidade com atalhos para navegação padronizados e opção para alterar o contraste. Em relação às condições institucionais de atendimento aos alunos com deficiência, o estudo traçou uma comparação entre o IFAC e a UFF. Os dados levantados demonstraram necessidades de aperfeiçoamento por parte do instituto acreano, que reserva 5% das vagas em seus processos seletivos para pessoas com deficiência. Em comparação, a UFF apresenta avanços que podem auxiliar no planejamento de programas destinados aos alunos com deficiência em outras instituições de ensino, como a adoção de ações e procedimentos nas áreas acadêmica, estrutural e de materiais específicos para alunos com necessidades especiais, além de iniciativas que integram o corpo docente. A análise da percepção de docentes do IFAC em relação a esses alunos refletiu a insegurança na capacidade dos profissionais para o atendimento deste público. O resultado corrobora a percepção de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e alunos com deficiência da instituição. “A capacitação e o treinamento dos profissionais envolvidos, docentes e técnicos das instituições de ensino, são medidas importantes para proporcionar atendimento adequado aos alunos com deficiência”, destacou César.

Em busca de uma educação ambiental crítico-transformadora
A tese da professora do IFAC, Renata Gomes de Abreu Freitas, discute perspectivas acerca das representações sociais do meio ambiente por alunos do ensino médio integrado à formação técnica do Instituto. O estudo ‘Representações de meio ambiente e abordagem temática Freiriana: caminhos metodológicos para a educação ambiental crítico-transformadora no Instituto Federal do Acre’ foi orientado pela pesquisadora Rosane Moreira Silva de Meirelles, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A investigação apontou que o conceito de meio ambiente tende a ser representado de forma limitada. “Há uma predominância na percepção do meio ambiente destituído do ser humano e quando este aparece é normalmente como o ‘vilão’”, explicou Renata. Segundo ela, a visão naturalista tende a reduzir o conceito de meio ambiente ao uso racional dos recursos naturais e à preservação dos ecossistemas e biodiversidade, contexto no qual o ser humano ocupa um papel genérico. De acordo com a pesquisa, a educação ambiental praticada na instituição limita-se a componentes curriculares de cursos que integram, principalmente, os eixos tecnológicos ‘Recursos Naturais e Saúde’ e ‘Segurança do Trabalho’. Os achados apontam, ainda, fragilidades na formação docente, como a escassez de conhecimento sobre os princípios norteadores da educação ambiental no país e a ausência de abordagens teórico-metodológicas na sua implementação. Em relação ao problema, a tese sugere a promoção de espaços de formação continuada, que integrem os corpos técnicos e docentes, a fim de estimular a apropriação de referenciais metodológicos que possibilitem a implementação de uma educação ambiental crítico-transformadora. Renata destacou, ainda, a importância da formação acadêmica no nível de doutorado para a região. “O doutorado contribuiu de forma muito positiva para a minha atuação profissional. O estado do Acre é carente de doutores, portanto há muitas lacunas em termo de pesquisas na região. Além disso, o IFAC, instituição que atuo como professora, encontra-se em plena expansão e verticalização do ensino. Essa formação nos preparou para fomentar a pesquisa na região aliada a formação de novos pesquisadores”, concluiu.

Foto: Jaqueline Oliveira / DSCOM-IFAC

Ao centro, Renata Freitas recebe certificado da pesquisadora da Uerj, Rosane Moreira Silva de Meirelles, orientadora do estudo. Também celebram a conquista o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, e a reitora do IFAC, Rosana Cavalcante dos Santos


Estudos avaliam o potencial de aplicação da metodologia da ‘Aprendizagem Baseada em Problemas’
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) é um método de ensino que estimula a aquisição de novos conhecimentos a partir da resolução de problemas reais ou simulados. A técnica, que incentiva a autonomia no processo de aprendizagem, foi abordada em dois estudos desenvolvidos no âmbito do convênio IOC-IFAC. Um deles foi o trabalho ‘Contribuições teóricas e práticas para o uso da Aprendizagem Baseada em Problemas na educação profissional técnica de nível médio’, do professor Luis Antonio de Pinho, orientado pelos pesquisadores Renato Matos Lopes, do Laboratório de Biologia Celular, e Luís Anastácio Alves, do Laboratório de Comunicação Celular, ambos do IOC. A revisão da literatura sobre o tema revelou que a pesquisa em ABP nos ensinos médio e técnico ainda é altamente escassa, principalmente em comparação aos cursos superiores da área da saúde. No estudo, a metodologia foi aplicada aos alunos do Curso de Técnico em Informática integrado ao ensino médio ofertado pelo IFAC. “A Aprendizagem Baseada em Problemas introduz o aluno à sua realidade profissional ainda na formação acadêmica. Constatamos mudanças cognitivas favoráveis nos estudantes, que se aproximaram do que era esperado. Houve, ainda, na sua maioria, impressões favoráveis ao uso da metodologia e sua continuidade pelo alunado”, ressaltou. “Na atividade em grupo, há um momento em que o estudante deve encontrar na literatura informações acerca da situação a ser resolvida. Essa fase, denominada de aprendizagem autodirigida, desenvolve no aluno essa capacidade e favorece a formação de um aprendiz perene”, reforça. O estudo sugere a exploração de currículos para o ensino técnico em saúde que incluam a Aprendizagem Baseada em Problemas em suas metodologias. O trabalho apresenta, ainda, uma proposta curricular para a formação de técnicos em laboratórios de saúde pública que considera a associação entre recursos da ABP e o uso de laboratórios de aulas práticas.

Foto: Jaqueline Oliveira / DSCOM-IFAC

Ao centro, Luis Antonio de Pinho acompanhado do pesquisador Renato Matos Lopes, orientador do estudo


A Aprendizagem Baseada em Problemas também foi discutida pelo docente do IFAC, Cleilton Sampaio de Farias. A metodologia foi aplicada no estudo das hepatites virais sob a ótica da geografia da saúde. O trabalho ‘Os Territórios das Hepatites Virais no Brasil: subsídios para o Ensino de Geografia da Saúde por meio da Aprendizagem Baseada em Problemas’ foi orientado pelos pesquisadores Maurício Roberto Motta Pinto da Luz, do Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências do IOC, e Ricardo Antunes Dantas de Oliveira, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). Os pesquisadores analisaram dados epidemiológicos das hepatites virais no Brasil, no período de 2010 a 2014. Foram considerados os casos confirmados e a taxa de incidência por 100 mil habitantes, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). “Os casos notificados e taxas de incidências dos tipos B, C e D, e até mesmo da A, estão crescendo em diferentes partes do mundo, assim como no Brasil. Isso ocorre porque há um desconhecimento dos aspectos que possibilitam a infecção e a transmissão”, ressaltou Cleilton. Entre 2010 e 2014, o estado do Acre apresentou elevadas taxas de incidência das hepatites virais. “Os aspectos que permitem a infecção, que denominamos de territorialidades, são frutos de relações humanas, sejam elas sociais, ambientais, culturais ou econômicas. Essas relações ocorrem diferentemente no espaço, disso, resultam lugares com muitas notificações e taxas de incidências, que denominamos de territórios das hepatites virais”, explicou. Segundo o estudo, o Acre apresenta condições que influenciam direta e indiretamente nas relações que propiciam a transmissão das hepatites virais, como a baixa escolaridade, a desigualdade e o médio desenvolvimento humano. Para estimular a prevenção às doenças, os pesquisadores realizaram uma oficina de ensino com a participação de alunos do curso de licenciatura em ciências biológicas do IFAC. Com o objetivo de promover a participação ativa dos estudantes e a reflexão crítica, a atividade utilizou como metodologia a Aprendizagem Baseada em Problemas. Estimulados a desenvolver a autonomia por meio de atividades da leitura, interpretação e construção de mapas, os alunos conseguiram atingir os resultados esperados, incluindo a solução de problema proposto sobre o tema, apresentado de forma oral e escrita. “A associação que fizemos entre o tema das hepatites virais, a metodologia ABP, na forma de estudo de caso, e os instrumentos, que são os mapas, é uma contribuição metodológica ao ensino de Geografia da Saúde e, portanto, também pode ser aplicada para o ensino de outras doenças”, concluiu.

Foto: Jaqueline Oliveira / DSCOM-IFAC

Ao centro, o pesquisador Maurício Roberto Motta Pinto da Luz durante entrega de certificado ao orientando Cleilton Sampaio de Farias


Cultura popular na escola
Considerando a importância de contemplar questões regionais e locais da sociedade no currículo escolar, a historiadora Italva Miranda da Silva, professora do IFAC no campus de Sena Madureira, analisou a ‘Festa do Mandim’, manifestação cultural popular do município acreano. A partir de entrevistas com pescadores, professores, estudantes, artistas e autoridades políticas locais, que apresentaram diferentes visões sobre o evento, a historiadora produziu um fascículo para subsidiar o trabalho de professores do ensino médio em diferentes disciplinas. “Busca-se com esse trabalho contribuir para o desenvolvimento de práticas pedagógicas diferenciadas nas escolas locais, além de possibilitar à comunidade escolar analisar a cultura nacional, a partir de sua própria cultura por meio da Festa do Mandim”, afirmou Italva. A tese ‘A Festa do Mandim: uma estratégia local para atender a parte diversificada do currículo do Ensino Médio’ foi orientada pelo pesquisador Ricardo Francisco Waizbort, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Foto: Jaqueline Oliveira / DSCOM-IFAC

Italva Miranda da Silva recebe certificado do orientador Ricardo Francisco Waizbort, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)


Perspectivas sobre a formação de agentes de saúde
Uma proposta de educação profissional em saúde e segurança do trabalho para agentes de combate às endemias no Acre é apresentada na tese da cientista social Josina Pontes Ribeiro. Do currículo aos materiais educativos, a capacitação apresenta como diferencial uma construção que considera as perspectivas dos próprios trabalhadores. Orientado pela pesquisadora Tania Araújo-Jorge, chefe do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC, o projeto ‘Agentes de Combate às Endemias no Acre: das histórias de vida à formação profissional’ contemplou desde a concepção do curso até sua implementação e avaliação. A partir de entrevistas com antigos e atuais profissionais e de observações em campo, a professora produziu um registro da história do trabalho de combate às endemias no Acre. O levantamento foi a base para a escolha de três temas – ambiente, saúde e trabalho – a partir dos quais foi estruturado o projeto político curricular do treinamento, que incluiu módulos presenciais, à distância e com alternância entre ensino e trabalho. Uma série de fascículos foi elaborada através da metodologia ciência e arte, passando a compor a ‘Coleção Saúde e Segurança no Trabalho’, da série ‘Com Ciência e Arte no Ensino’. Além de estimular a interação e a participação, o material apresentou inovações no uso de tecnologias para o ensino, como a presença de um QR-Code para acesso por celular. Outros recursos educacionais produzidos foram a miniexposição sobre a história do combate às endemias no Acre, chamada de ‘Túnel do Tempo’, e a publicação da história de vida do ex-agente de combate a endemias, fundador e presidente da Associação DDT – Luta pela Vida, Aldo Moura da Silva, no ‘Museu da Pessoa’. “Como resultado da pesquisa, apresentou-se uma proposta de ensino para trabalhadores historicamente invisibilizados, expostos a diferentes tipos de riscos ambientais, mas essenciais para o controle de doenças negligenciadas e, portanto, para a manutenção das condições de vida e saúde da população”, ressalta Josina.

Foto: Jaqueline Oliveira / DSCOM-IFAC

Josina Ribeiro estudou a formação de agentes de saúde, orientada pela pesquisadora do IOC Tania Araújo-Jorge


A necessidade de repensar a formação dos agentes indígenas de saúde é apontada na tese de Alcilene Oliveira Alves, professora de história e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena do IFAC (Neabi). O trabalho ‘Interculturalidade e formação profissional de agentes indígenas de saúde a partir da experiência do Alto Purus’ teve como foco as ações desenvolvidas no distrito sanitário especial indígena Alto Rio Purus, que abarca áreas do Acre, Amazonas e Rondônia, onde vivem cerca de dez mil índios de sete etnias. Para discutir o processo de capacitação dos agentes indígenas de saúde, a pesquisa considerou, além da revisão da literatura, documentos oficiais e entrevistas com profissionais que atuam como instrutores do curso de formação na Escola Técnica de Saúde do Acre Maria Moreira da Rocha. Segundo Alcilene, os dados indicam um processo autoritário na medida em que a importância atribuída aos processos biomédicos ocorre em detrimento da discussão das práticas tradicionais indígenas. “O discurso sobre educação e formação diferenciada para os agentes indígenas de saúde e o debate sobre o interculturalismo como método para o empoderamento encontram dificuldades decorrentes das referências da profissionalização. Essa situação implica na constituição de um modelo formativo que reflete as dificuldades e contradições quanto às alternativas para a construção de um currículo que propicie a formação intercultural, envolvendo especificidades dos povos indígenas do Purus’, diz a autora. A tese foi orientada pela pesquisadora Isabela Cabral Félix de Sousa, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), e co-orientada pela pesquisadora Ana Lúcia de Moura Pontes, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz).

Reportagem: Lucas Rocha e Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
29/10/2018
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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