Publicada em: 23/11/2018 às 15:58 |
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Uma pérola da biomedicina No contexto do centenário de resgate de independência da Polônia, IOC presta homenagem à pesquisadora Alina Perlowagora-Szumlewicz por seu legado no combate a endemias brasileiras Alina Perlowagora. Assim como seu sobrenome – ‘montanha de pérolas’, na tradução do polonês – é o legado deixado pela cientista. Refugiada de seu país de origem para sobreviver ao nazismo, Alina fez história em território brasileiro ao implementar uma metodologia para o diagnóstico da febre amarela, na década de 1940. Manipulou o vírus amarílico em laboratório, inoculando e acompanhando a infecção em camundongos, morcegos e macacos, além de estudar as curvas de anticorpos em primatas. Enfrentou outras grandes endemias: a esquistossomose – destacando-se com trabalhos sobre biologia e fisiologia dos moluscos transmissores, ações dos moluscicidas e a resistência dos vetores à sua aplicação –, e doença de Chagas, à frente de pesquisas sobre medidas de controle do barbeiro, conjugando métodos biológicos e químicos.Para relembrar esses e outros feitos da cientista, assim como resgatar um pouco do contexto histórico que trouxe Alina para o Brasil, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou nesta quinta-feira, 22/11, o evento ‘Alina Perlowagora-Szumlewicz: homenagem a uma pioneira da pesquisa biomédica no contexto do resgate do centenário de independência da Polônia’. Integrado à programação do Centro de Estudos do IOC, a atividade marcou a doação de acervo da cientista à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), unidade da Fiocruz que, dentre suas atribuições, está dedicada à guarda de acervos históricos da Fundação. Os itens, que incluem fichas funcionais, foram gentilmente cedidos pelo pesquisador Carlos José Moreira, do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, que trabalhou diretamente com Alina. A sessão, moderada e mediada pelo chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, Ricardo Lourenço, que também conviveu com a pesquisadora, contou ainda com a exibição de vídeo em homenagem à expoente, produzido pelo Serviço de Jornalismo e Comunicação do Instituto, que também montou uma exposição sobre a cientista no hall do auditório onde foi realizado o evento. Assista abaixo: Mosaico científico
Também presente na cerimônia, a cônsul da Polônia do Brasil, Dorota Bogutyn, se disse honrada por conhecer a trajetória da cientista. “Que seu legado seja passado para frente. Ela foi uma mulher, polonesa, que não fez tanto somente para e pelo Brasil, mas também para e pela Polônia, seu país de origem”, ponderou. A cônsul observou que a cientista nasceu numa região judaica, que sofreu impactos diretos e severos durante a II Guerra Mundial. “Considero que Alina teve muita sorte de ter nascido no início dos anos de 1900. Sendo assim, já tinha idade para conseguir planejar estratégias de fuga antes da eclosão da II Guerra”, acrescentou, realçando que a ciência precisa continuar sempre acima da política, uma vez que é capaz de unir povos e nações.
Seja por questões de raça, religião, opinião política ou conflitos armados, muitos são os motivos que levam pessoas a se refugiarem em lugares onde possam reconstruir suas vidas. Estima-se que essa seja a realidade de mais de 25 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados. Para debater o tema, o Centro de Estudos recebeu o geógrafo e especialista em estudos migratórios, Helion Póvoa Neto. Em relação a Alina, o professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comentou que a pesquisadora provavelmente chegou pela Ilha das Flores, localizada no interior da baía de Guanabara, no município de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Na região funcionou a primeira hospedaria de imigrantes do Brasil. “A Polônia é um país que contribuiu para a migração em diversos países. No período entre guerras, um grande número de pessoas se refugiou no Brasil, país que mais recebeu poloneses entre 1870 até 1918”, explicou Póvoa.
Para o professor, o refugiado é sempre um sobrevivente, que mostra imensa capacidade de recuperação e tem muito a contribuir no nosso país. “O Brasil é fundamental para o acolhimento desse grupo. Precisamos considerar que há outras "Alinas" vindo por aí, querendo contribuir para a nossa sociedade. Precisamos aprender a recebê-las”, enfatizou.
Reportagem: Vinicius Ferreira Edição: Raquel Aguiar 23/11/2018 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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