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Perspectivas sobre a pesquisa em doenças bacterianas e fúngicas

Conferências, apresentações orais e premiação dos melhores pôsteres foram destaques de simpósio realizado pelo IOC nos dias 22 e 23 de novembro, no Rio de Janeiro

Doenças causadas por fungos e bactérias atingem humanos e animais em todo o mundo. A lista inclui agravos como tuberculose, leptospirose, hanseníase, brucelose e esporotricose. Além do impacto para a saúde pública, as infecções são responsáveis por perdas econômicas nas atividades de agricultura e pecuária. Para discutir aspectos da pesquisa básica e seu papel translacional nos principais agravos transmitidos pelos microrganismos, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou, nos dias 22 e 23 de novembro, a IV edição do Simpósio em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Doenças Bacterianas e Fúngicas (SIMBAF 2018). O encontro realizado na Fiocruz, no Rio de Janeiro, reuniu cerca de 120 participantes, entre pesquisadores, estudantes e profissionais da área.

“Integramos, mais uma vez, pesquisadores relevantes das áreas de microbiologia, bactérias, micobactérias e fungos, a estudantes interessados em aprender e dispostos a interagir com os pesquisadores. O SIMBAF tem como propósito abranger o espectro da microbiologia e estabelecer novas perspectivas de desenvolvimento em pesquisa”, destacou a pesquisadora Maria Helena Saad, do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, presidente da Comissão Organizadora do Simpósio. Foram discutidos tópicos relevantes nas áreas de microbiologia médica e ambiental, incluindo temas como biomarcadores, diagnóstico, virulência, interação patógeno-hospedeiro, resistência a antimicrobianos e tratamento, bem como o conceito de Saúde Única (One Health).

Lucas Rocha/IOC/Fiocruz

O conceito de Saúde Única (One Health) foi tema das discussões na abertura do Simpósio


Na cerimônia de abertura, o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, ressaltou os impactos da emergência e reemergência de doenças relacionadas ao avanço das atividades de agricultura e pecuária do Sul ao Norte do país, incluindo o Acre e áreas da Amazônia. “A economia mundial desenhou um mundo globalizado nos seus aspectos macro e micro econômicos. Porém, infelizmente, esqueceu de avaliar suas consequências para a saúde humana, para a sanidade animal e para o meio ambiente. Consequentemente, colocou em risco o conceito de Saúde Única – One Health em que o equilíbrio e a harmonia entre os humanos, animais e o ambiente são essenciais”, pontuou. O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, representando a Presidência da Fiocruz, abordou as diferentes frentes de combate aos agravos provocados pelos microrganismos. “A procura por novas abordagens, a descoberta de novos fármacos e avanços no entendimento de mecanismos imunológicos e de como combater essas infecções é fundamental. Um simpósio como este, que discute várias áreas, da imunologia ao tratamento, e traz uma série de discussões extremamente importantes vai ao encontro dos estudos de maior relevância para a ciência no mundo”, destacou. Também participaram da abertura o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, e o vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Jonas Perales.

Saúdes humana e animal
Introduzido no início dos anos 2000, o conceito de Saúde Única resume uma ideia conhecida há mais de um século: que a saúde humana e a saúde animal são interdependentes e ligadas à saúde dos ecossistemas. O assunto foi discutido na conferência de abertura pelo especialista do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa/Opas), Baldomero Molina Flores. Criado em 1951, o centro oferece cooperação técnica em saúde pública veterinária aos países membros da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) com o objetivo de fortalecer serviços veterinários e de saúde pública em aspectos relacionados à prevenção da febre aftosa, em especial, e de outras zoonoses e doenças transmitidas por meio da ingestão de alimentos contaminados.

Segundo Flores, as doenças de origem animal que podem ser transmitidas aos humanos, como a gripe aviária e a brucelose, representam riscos para a saúde pública em todo o mundo. O pesquisador apresentou estimativas da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) que apontam que 60% das doenças infecciosas humanas existentes são zoonóticas. Ainda segundo a entidade, pelo menos 75% das doenças infecciosas emergentes, como ebola e gripe, têm origem animal. Entre os desafios para o controle das doenças, Flores destacou a resistência antimicrobiana, a garantia da qualidade do alimento da produção ao consumo (conceito de segurança alimentar), impactos sociais e econômicos, expansão urbana desordenada, desigualdade, globalização e mudanças climáticas. “A Saúde Única tem como foco a cooperação intersetorial entre os diferentes atores responsáveis pela saúde. É muito importante estimular a colaboração entre equipes multidisciplinares: médicos, veterinários, biólogos, ambientalistas, e criar pontes para a troca de informação científica, como dados epidemiológicos, por exemplo”, ressaltou.

Compartilhando saberes
O primeiro dia de atividades também contou com a apresentação oral dos melhores trabalhos inscritos para apresentação no evento. Os estudos contemplaram uma ampla abordagem de temas, incluindo a imunização contra a bactéria Acinetobacter baumannii por uma proteína recombinante, o combate ao fungo da espécie Phialophora verrucosa, o papel de gotículas lipídicas na infecção bacteriana e a avaliação de produtos naturais com atividade antimicobacteriana.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

A avaliação de produtos naturais com atividade antimicobacteriana foi tema de um dos quatro trabalhos selecionados para apresentação oral


Já na sessão de pôsteres, mais de 50 participantes tiveram a oportunidade de compartilhar resultados de suas pesquisas. Fatores preditivos para o desenvolvimento da sepse (infecção sanguínea), drogas à base de metais com capacidade inibidora de biofilme e melhoramentos na detecção de genes de resistência em bactérias foram alguns dos temas apresentados. Os cinco melhores trabalhos foram premiados no encerramento do simpósio. Confira a lista ao final dessa reportagem.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Mais de 50 trabalhos foram apresentados na sessão de pôsteres, cinco foram premiados no final do encontro


Virulência, patógenos e hospedeiros
No segundo dia de atividades, o simpósio abriu espaço para discussões sobre virulência, relação entre patógenos e hospedeiros, resistência e o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. A palestra ministrada pela chefe do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC, Patricia Torres Bozza, esclareceu diferentes fenômenos que relacionam o agravo de doenças à capacidade de reprodução dos vírus por meio de gotículas lipídicas. “As gotículas possuem um papel importante na infecção, pois contêm proteínas que fornecem alimento ao patógeno. A utilização da rapamicina, por exemplo, tem demonstrado resultados positivos na redução do avanço de infecções, na sinalização inflamatória das células e na sobrevivência intracelular dos patógenos. Há grande possibilidade dessa estratégia resultar em um tratamento terapêutico contra doenças infecciosas, como a tuberculose e a sepse”, explicou Bozza.

Chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, Milton Ozório apresentou resultados de um estudo que fornece evidências de que os genes contribuem para a resposta imune diante da infecção por micobactérias. Já o pesquisador Flávio Alves Lara, do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, abordou mecanismos que provocam a lesão de nervo periférico pela hanseníase – infecção causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a partir de estudos baseados em experimentos com células ‘Schwann’. O pesquisador Leonardo Nimrichter, do Laboratório de Glicobiologia de Eucariotos do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (UFRJ), apresentou a relação entre o desenvolvimento de vesículas extracelulares e a expansão da virulência de microrganismos fúngicos durante a infecção. “A formação de vesículas envolve a comunicação celular e a remodelação celular. A partir dessa informação podemos desenvolver estudos mais direcionais, com o propósito de elaborar vacinas eficazes de controle às infecções fúngicas”, afirmou Leonardo.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Os pesquisadores Milton Ozório, do Laboratório de Hanseníase do IOC, e Patricia Bozza, do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC, apresentaram resultados de estudos no Simpósio


Batalha contra a resistência
A resistência aos antimicrobianos impõe desafios no tratamento de agravos causados por fungos e bactérias. O tema foi destaque das palestras do segundo dia do simpósio. A chefe da Unidade de Patógenos Bacterianos Emergentes do Instituto Científico San Raffaele (HSR), de Milão, na Itália, Daniella Cirillo, apresentou aspectos da análise e detecção de mutações por meio da resistência dos microrganismos aos medicamentos. “O sequenciamento genômico isolado é uma excelente ferramenta para compreender a capacidade e o espectro da contaminação e da transmissão de doenças. Essa estratégia nos permite examinar a resistência e o desenvolvimento de mutações mediante a administração de drogas de tratamento e controle dos organismos quase em tempo real. Se não começarmos a monitorar mutações genéticas, daqui a alguns anos não teremos mais medicamentos funcionais e não conseguiremos avançar em termos de diagnóstico e tratamento”, alertou.

Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz

Iniciativa reuniu cerca de 120 participantes em dois dias de atividades


O coordenador do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da Escola de Ciências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cristiano Bizarro, apresentou estudos que relacionam a mutação do bacilo Mycobacterium tuberculosis à resistência provocada pelo uso de um antibiótico no tratamento da tuberculose. Já o professor do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Allan Guimarães, abordou a complexidade do tratamento terapêutico de infecções fúngicas. Ele alertou que os tratamentos têm se tornado cada vez mais extensos, devido ao processo de resistência, ressaltando a necessidade de desenvolvimento de novas estratégias. A pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia (LNCC/MCT), Marisa Nicolas, destacou a utilização da modelagem computacional na busca por novos alvos terapêuticos. O pesquisador do Departamento de Microbiologia, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (UFRJ), André dos Santos, abordou a formação do biofilme e processos infecciosos causados por microrganismos fúngicos.

Confira a lista dos trabalhos premiados na sessão de pôsteres:
:: Use of MALDI TOF mass spectrometry in the detection and identification of Listeria spp from enrichment broth of feces and food, por Thais Martins Campos

:: Insights about the activity of the Type VI Secretion System in Klebsiella pneumoniae: functional characterization of an extended VgrG protein, por Talyta Soares

:: Hypervirulent MTB strain induces necrotic pulmonary pathology through neutrophil recruitment and induction of MMP-8 AND -9 that can be reduced by treatment with MMPs inhibitors, por Andreza Linhares

:: Chemical composition of the biofilm extracellular matrices from Scedosporium/Lomentospora spp., por Thais Pereira de Melo

:: KPC-2 producing Raoultella ornithinolytica isolated from a dipteran muscoid collected in garbage from a public hospital in Rio de Janeiro, Brazil, por Isabel Carramaschi

Reportagem: Lucas Rocha e Agatha Ariel
Edição: Vinicius Ferreira
27/11/2018
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