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Em prol da ciência e do bem-estar para animais de laboratório

Publicação reúne avanços no conhecimento de técnicas e abordagens que promovem o bem-estar de camundongos utilizados em experimentação

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A busca por melhorias no bem-estar de animais utilizados em pesquisas científicas, que visam o benefício direto para a vida e para a saúde humana e animal, tem ganhado cada vez mais espaço na agenda da comunidade científica internacional. Há 118 anos contribuindo para o desenvolvimento da Ciência e da Saúde do país, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) permanece, mais do que nunca, firme no propósito de utilizar animais em experimentação somente quando imprescindível e de maneira ética. Pesquisadores do Instituto reuniram avanços no conhecimento sobre o tema na publicação ‘Enriquecimento Ambiental – qual a melhor forma de utilização do enriquecimento ambiental para camundongos em biotério?’. Com autoria de Gabriel Oliveira, do Laboratório de Biologia Celular do IOC, Miguel Ângelo Brück, do Centro de Experimentação Animal (CEA/IOC), e Thais Veronez, do Serviço de Animais de Laboratório do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz), a publicação está disponível para download gratuito (clique aqui).

Sobre a metodologia
As técnicas de promoção do enriquecimento ambiental podem ser classificadas em cinco categorias. O enriquecimento físico, por exemplo, tem como objetivo reduzir os impactos da restrição de espaço por meio de mudanças na composição dos elementos do recinto, com a introdução de dispositivos que propiciem melhorias na exploração do ambiente, além de objetos de distração. Já o enriquecimento cognitivo pode ser desenvolvido a partir de situações motivadoras, como desafios e jogos com consequências recompensadoras. O enriquecimento alimentar trabalha a forma como é oferecido o alimento, incluindo alterações na dieta, nos horários e na frequência da alimentação, que também pode trazer benefícios relevantes para a interação e sociabilidade. O enriquecimento sensorial, por sua vez, pode abranger qualquer um dos cinco sentidos através de estímulos visuais, auditivos, táteis, gustativos e olfativos, que são eficientes na melhoria do bem-estar animal. Por fim, o enriquecimento social visa permitir que os animais expressem seus comportamentos sociais típicos, abrangendo o alojamento de espécies em grupos ou pares de maneira harmoniosa. “O enriquecimento ambiental visa transformar o ambiente dos animais que estão sob restrição de espaço, por meio de técnicas de refinamento, para que a permanência deles durante o desenvolvimento de ensaios biomédico-científicos se torne menos desconfortável”, explica Gabriel Oliveira. “Este livro reúne dados obtidos a partir de uma série de testes que poderão contribuir para a replicação do enriquecimento ambiental em outros biotérios, proporcionando o bem-estar animal”, completa Miguel Brück.

Atualmente, segundo os autores, as técnicas de enriquecimento ambiental são aplicadas com base no conhecimento descrito na literatura acerca do comportamento natural das espécies. Para tentar ir além, os pesquisadores desenvolveram um estudo com o objetivo de responder à seguinte pergunta: ‘Qual tipo de enriquecimento ambiental o camundongo prefere?’. Os camundongos são amplamente utilizados como modelos em pesquisas científicas devido ao seu tamanho corporal, facilidade de manuseio e similaridades biológicas e genéticas que os aproximam dos seres humanos.

Os autores utilizaram como base a criação de uma inovadora metodologia conhecida como Sistema de Gaiolas Interligadas (SGI). Desenvolvido no Laboratório de Biologia Celular do IOC, o equipamento conta com um aparato que interliga duas gaiolas convencionais por uma conexão de cano de PVC. A passagem com largura suficiente para um camundongo adulto permitiu que os animais demonstrassem suas escolhas dentre os tipos de equipamentos e materiais de enriquecimento ambiental oferecidos. Os testes foram realizados em camundongos com diferentes idades: infantos (4 semanas de vida), jovens (6 semanas) e adultos (8 semanas).

Foram analisadas três categorias de enriquecimento: Abrigo (físico e social), Nidificação, o hábito de fazer ninho (físico e social) e Atividade lúdica (físico e sensorial), tendo sido oferecidas duas opções para cada categoria. Na categoria Abrigo, foram testadas uma estrutura artificial de plástico, com três aberturas circulares, chamada comercialmente de ‘Igloo®’ e um túnel formado por um tubo de PVC. Já o ninho poderia ser construído a partir de papel absorvente (duas folhas de papel toalha amassado em forma de bola) ou touca cirúrgica (descartável, confeccionada em tecido polipropileno). Para atividade lúdica, foram oferecidas inicialmente as opções de tubo com guizo (pequeno tubo de PVC com pequenos furos e um guizo no seu interior) e bola com guizo, comumente encontrada no mercado de animais domésticos.

Avaliação da preferência dos camundongos
A avaliação inicial apontou a preferência dos animais pelas opções de ‘Igloo®’, como abrigo, e papel absorvente, para formação do ninho. No caso da atividade lúdica, as duas opções foram consideradas ineficientes na promoção de enriquecimento e substituídas por um dispositivo denominado ‘Trapézio’. Na segunda etapa, os autores realizaram a comparação dos materiais preferidos entre si. Os testes demonstraram maior interação dos animais com os materiais que possibilitaram as atividades de abrigo e nidificação. A primeira escolha do camundongo adulto é pelo dispositivo ‘Igloo®’, seguido do papel absorvente, principalmente pelos jovens. Segundo o estudo, a criação de um ambiente rico em estimulação sensorial também pode contribuir para elevar o bem-estar dos camundongos em biotério, minimizar o estresse e, consequentemente, aumentar a confiabilidade e reprodutibilidade dos resultados dos ensaios.

No Instituto
A Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto Oswaldo Cruz (CEUA/IOC) é responsável por analisar e qualificar os protocolos experimentais voltados para a pesquisa e o ensino envolvendo o uso de animais no Instituto, bem como contribuir para a definição de procedimentos aceitáveis, do ponto de vista ético, no laboratório e no campo. A Comissão desempenha papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão ética sobre a atividade científica envolvendo animais.

No Brasil, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) formula normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, bem como estabelece procedimentos para instalação e funcionamento de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal. O Conselho é presidido pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Também têm representantes no CONCEA os ministérios da Educação, do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura; o CNPq; o Conselho de Reitores das Universidades do Brasil (Crub); a Academia Brasileira de Ciências (ABC); a Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE); a Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL/COBEA); a Federação Nacional da Indústria Farmacêutica; a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); e dois representantes de sociedades protetoras dos animais legalmente estabelecidas no país.

Reportagem: Lucas Rocha
Edição: Vinicius Ferreira
03/12/2018
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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