Publicada em: 21/12/2018 às 07:44 |
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Ciência e Arte na interface com a cidadania De forma inédita, a 10ª edição o ‘Simpósio Ciência, Arte e Cidadania’ promoveu, ao longo de 2018, eventos em cinco cidades de dois estados do país e sensibilizou mais de mil pessoas para as potencialidades da Ciência aliada à Arte Inovação e criatividade como meios de promoção da ciência aliada à cidadania. Com esse mote, o ‘Simpósio Ciência, Arte e Cidadania’, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) por meio do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Ensino em Biociências e Saúde, e do projeto FAPERJ “CienciArte na Estrada” desenvolveu ao longo de 2018 uma série de eventos abrangendo temas relacionados aos desafios da educação inclusiva e à disseminação da potencialidade das artes na ciência. A 10ª edição da iniciativa foi responsável, ainda, por consolidar e difundir uma rede de Ciência e Arte no Brasil. O simpósio esteve associado a ‘LASER Talks’, uma rede de eventos internacionais de Ciência e Arte da revista Leonardo, do MIT. Coordenadora dos encontros, a pesquisadora Tania Cremonini de Araújo-Jorge, chefe do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC, destacou o grande alcance da iniciativa. “Ao todo, além da realização de um evento preparatório em novembro de 2017, 15 eventos, dentre os quais duas edições de curso internacional, alcançaram mais de mil pessoas. O Simpósio se tornou ainda tema de uma pesquisa de doutorado, que vai investigar o impacto das atividades para a formação da rede de pesquisa ciência e arte no Rio de Janeiro”, comemorou.
Os eventos e seus impactos Durante a conferência ‘Innovation in Science, Technology and the Arts’ (Inovação em ciência, tecnologia e artes), realizada em dezembro, no campus da Fiocruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro, o pesquisador Harvey Seifter, uma das maiores autoridades mundiais em criatividade organizacional e aprendizado baseado em artes, chamou atenção para o fato de a inovação ser um processo que pode ser aprendido e praticado e as experiências artísticas serem um instrumento para expandir e acelerar esse processo. “É como ir à academia e exercitar os músculos. Com a arte, nós exercitamos nossos músculos da criatividade”, afirmou o especialista que é fundador e diretor da fundação ‘The art of science learning’, nos Estados Unidos. Músico de formação clássica e consultor de inovação para companhias como General Eletric, IBM e Siemens, Seifter discutiu o conceito de inovação, ressaltando que para ser verdadeiramente inovador, um produto, serviço ou processo precisa ter três características: ser uma novidade, produzir impacto social e agregar valor. Ele apontou que o processo de desenvolvimento de inovações pode ser descrito em oito etapas: identificação e análise da oportunidade, geração, enriquecimento e seleção de ideias, desenvolvimento e design, plano de negócios e estratégia de marketing, teste e lançamento. Em seguida, enumerou como as diferentes formas de arte, da pintura ao teatro, podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades fundamentais nesse processo, incluindo as capacidades de observação, reconhecimento de padrões, construção de cenários, visualização, desenvolvimento de protótipos, flexibilidade e improvisação. O especialista enfatizou que qualquer pessoa pode recorrer às artes para desenvolver sua capacidade de inovação. “Todos somos artistas. Todos temos habilidade natural de desenhar, cantar e dançar. Não é preciso ser um profissional. O que é preciso é estar disposto a experimentar e correr riscos”, afirmou. Além de ministrar a conferência, Seifter lecionou no segundo módulo do curso internacional ‘Innovation at the intersection of ArtScience and Transdisciplinarity’ (Inovação na Interseção entre CienciArte e Transdisciplinaridade), em dezembro. A atividade contou com aulas teóricas e práticas, abordando técnicas para o desenvolvimento da habilidade de inovação com base nas artes, como o ‘ensaio de ideias’, o ‘design thinking’ e a ‘prototipagem rápida’. A troca de experiências entre pesquisadores do Brasil, Canadá, Estados Unidos e Uruguai, também ocorreu no primeiro módulo do curso internacional, em julho, que contou com aulas teóricas e oficinas práticas que abordaram a integração entre ciência e arte na busca pela inovação e promoção da criatividade. Entre estudantes de graduação, especialização, pós-graduação e pós-doutorandos, mais de 50 alunos foram capacitados. Na ocasião, o professor da Universidade de Concórdia, no Canadá, Ricardo Dal Farra, debateu o uso de metodologias transdisciplinares na pesquisa, criação e inovação. As atividades de Ciência e Arte desenvolvidas pela rede de colaboração ‘Anilla Cultural Latinoamerica-Europa’, que reúne instituições dos campos da educação e da cultura, foram discutidas pela educadora Delma Rodríguez, diretora da rede no Uruguai. Já Harvey Seifter, falou sobre o impacto do treinamento em inovação baseada nas artes para o desenvolvimento do pensamento criativo e de comportamentos colaborativos, assim como para a produção de inovação entre adolescentes e adultos. “O nosso objetivo foi reunir cientistas e educadores em processo de formação para discutir o caminho da inovação por meio da transdisciplinaridade com arte e ciência. Ao final do curso, os trabalhos desenvolvidos foram apresentados para avaliação dos professores internacionais e surpreenderam pela criatividade”, avaliou Tania. “A integração de diferentes áreas do conhecimento pode levar a melhorias concretas para a vida das pessoas. Quando pensamos em disciplinas como ferramentas, podemos usá-las para resolver problemas como a escassez de água, melhorar os cuidados de saúde e até mesmo transformar a vida de toda uma vizinhança”, destacou John Talasek, diretor de Programas Culturais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos e palestrante do evento preparatório para a 10ª edição do simpósio. Realizada em novembro de 2017, a palestra chamou a atenção para o papel da tecnologia no contexto de projetos construídos a partir de habilidades, técnicas e conceitos de áreas diversas, dando destaque para a interface ‘Arte e Ciência’, que atua na melhoria de questões relacionadas à saúde, ao meio ambiente e à coletividade. Visando fortalecer os laços entre a academia e as escolas, o Simpósio levou atividades a cinco cidades de dois estados do país, trabalhando temas interdisciplinares que pudessem ser desenvolvidos em consonância com educadores durante oficinas e debates. A abertura do Simpósio ocorreu com o evento ‘Falamos de Chagas com CienciArte’, realizado em abril. Na ocasião, mais de 30 pacientes, pesquisadores e profissionais da área aprenderam sobre a importância do diagnóstico precoce para a eficácia do tratamento e melhoria da qualidade de vida dos pacientes acometidos pela doença de Chagas. Promovidos no mês de maio, o evento ‘Ciência e Arte na Escola Parque’ e o sarau ‘Ciência, Arte e Saúde’ desenvolveram atividades de promoção à cultura por meio da inovação e da criatividade. Em avanço contínuo nos diálogos com a população, os eventos ‘Ciência na Estrada fazendo Arte’ e ‘CienciArte e Inovação’, promovidos na cidade de Niterói (RJ), em junho, difundiram o conceito de arte aplicada à ciência e apresentaram atividades de divulgação científica realizadas no ônibus do projeto ‘Ciência na Estrada’, promovido pelo Laboratório de Toxoplasmose e outras Protozooses do IOC. Ainda no contexto da arte aplicada à promoção e desenvolvimento da ciência, o evento ‘Casa Portinari: Um Centro de Cultura de Paz’ promovido em julho, no Rio de Janeiro, trabalhou questões referentes à valorização de espaços culturais como meio de composição e acervo de repertório científico. Ampliando o conceito para a inclusão individual, o sarau ‘Portinari, CienciArte e Você’, realizado em agosto no Rio, ofereceu atividades que relacionam a arte à reflexão individual e à produção científica e cultural. Em busca de soluções inovadoras para o ensino e o aprendizado voltados para questões de saúde, o evento ‘CienciArte e Educação Inclusiva’, realizado em setembro, também no Rio, trabalhou metodologias educacionais inclusivas voltadas à divulgação científica. Concomitante à edição 2018 da Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em outubro, no município de Duque de Caxias, na baixada fluminense, a atividade ‘Arte, Ciência, Água e suas correntes’, utilizou a temática de preservação dos recursos naturais para trabalhar aspectos referentes ao uso consciente da água e o papel da arte na absorção do conhecimento científico. Já as atividades promovidas em novembro tiveram como ponto de partida a primeira edição do simpósio ‘Saúde, Alegria e Palhaçaria: Maria Eliza Alves dos Reis’, nomeado em homenagem à primeira palhaça negra no Brasil, e promovido na Bahia com o objetivo de evidenciar os benefícios de movimentos artísticos aplicados às ações preventivas e à recuperação de pacientes. Demonstrando mais potencialidades presentes nas artes, a atividade ‘CienciArte e cidadania’, realizada no Rio, trabalhou a criatividade como meio viabilizador do progresso da cidadania, a partir do aumento da perspectiva de inovação em todos os campos sociais. Contemplados com a atividade ‘Criando empatia com CienciArte’, participantes da cidade de Nilópolis (RJ) puderam participar de exposição interativa e palestra referentes à importância da humanização dos campos da ciência, por meio do compartilhamento de experiências. “Já são 16 anos de dedicação ao simpósio e sinto que formamos uma rede consistente de pessoas interessadas e empenhadas em difundir os conceitos de CienciArte”, comentou Tania, adiantando que uma próxima edição será realizada em breve. Reportagem: Agatha Ariel e Maíra MenezesEdição: Vinicius Ferreira 21/12/2018 Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz) |
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